Intenso tráfico de drogas faz aumentar insegurança nos arredores da rodoviária de Boa Vista

Relatos de quem trabalha no local mostram que tiroteios têm sido comuns na região do bairro 13 de Setembro

Migrantes venezuelanos em situação de rua em frente à Rodoviária Internacional de Boa Vista (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)
Migrantes venezuelanos em situação de rua em frente à Rodoviária Internacional de Boa Vista (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

Em 30 dias, dois homens foram alvejados em frente à Rodoviária Internacional de Boa Vista, localizada no bairro 13 de Setembro. Relatos de quem trabalha no local mostram que tiroteios têm sido comuns, estes motivados pelo tráfico de drogas na região.

A situação de criminalidade é somada à migração venezuelana e o de cenário de uma população que vive nas ruas da capital roraimense, principalmente em frente ao terminal de ônibus intermunicipais e interestadual. Segundo funcionário de agências de transporte e comerciantes que trabalham na rodoviária, desde a privatização do terminal, houve melhorias na segurança, com equipe de guarda na parte interna, mas a sensação de insegurança é a mesma pela falta de policiamento nos arredores do local.

“Antes de privatizar, não era assim. O pessoal corria para cá e ficava brigando aqui dentro. Agora a briga é mais lá fora, mas, como não tem policial 24 horas, quando tem briga, eles correm para dentro. O segurança que tem pela empresa privatizada não usa arma, aí como eles vão defender se um venezuelano sair atirando? Igual o último que levou sete tiros, ele saiu correndo para cá e o segurança também, porque eles não têm arma”,

descreveu um funcionário, que terá a identificação preservada.
Dentro da rodoviária, comerciantes relataram atualmente está tranquilo e não há furtos ou brigas. (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)

O caso em questão é o mais recente, do último domingo (20), no qual dois homens em uma motocicleta alvejaram um migrante que morava na unidade de acolhimento por trás da rodoviária. O homem foi encontrado no chão do terminal pela Polícia Militar.

Os trabalhadores destacam que o policiamento no local é limitado aos horários de embarque e apenas nesse setor. Por conta disso, além de trabalharem com medo, veem a queda no número de passageiros na rodoviária e das vendas presenciais. “Tem cliente que fala que não vem mais aqui porque tem muita gente de rua, tem medo levarem a bolsa. E o número de pessoas viajando também. Pessoal está pagando mais caro em [viagem de] avião por segurança do que para viajar daqui de ônibus”, relatou outra funcionária.

Criminalidade cresce pelo 13 de setembro

Venezuelano alvejado em frente à rodoviária no dia 19 de setembro de 2024. Testemunhas relataram que o homem, que vivia em frente à rodoviária junto a outros imigrantes, estaria envolvido com o tráfico de drogas (Foto: Reprodução)

O problema, entretanto, não se restringe à rodoviária. Relatos indicam que a violência também afeta outros pontos do bairro 13 de Setembro, pela proximidade com o Posto de Recepção e Apoio (PRA), da Operação Acolhida, localizado ao lado do terminal.

Conforme a Operação Acolhida, o migrante pode escolher entre abrigo ou procurar residência. Muitos preferem sair, porque assim não precisam seguir os horários de entrada e saída, e o controle mantido pelo Exército Brasileiro. Até agosto deste ano, o levantamento da Organização Internacional para as Migrações (OIM) descreveu que 181 migrantes estavam em situação de rua. Outros 485 estavam no PRA.

“Eles saem de lá e ficam por aqui, onde tem água, sombra e local para ficarem. A briga mais é por causa de droga, um vende a droga do outro, aí cria o conflito. Essa última briga que, eu saiba, foi por causa de droga mesmo”, explicou a funcionária. “Mas o 13 [de Setembro] já é tomado [pelo tráfico] agora, já não é mais nem um bairro bom. Antigamente era um bairro para você morar, agora não é habitável”, completou o homem.

Os relatos indicam ainda que a unidade de acolhida é uma facilidade para os criminosos agirem. Conforme moradores ouvidos, o bairros tem grande incidência de tráfico, furto, roubos, e quando os envolvidos com tráfico veem viaturas, escondem a droga no abrigo, o que impede a polícia de verificar o material.

Os comerciantes, trabalhadores da região e moradores continuam pelo bairro, mas pedem por medidas de segurança mais eficazes. A FolhaBV procurou o Governo de Roraima para mais informações sobre o policiamento e ações efetivas no bairro e na região da rodoviária. No entanto, até a publicação da matéria, não houve retorno.