Não existe mais qualquer clima para aceitar que o Governo de Roraima continue mantendo no cargo o comandante da Polícia Militar, coronel Miramilton Goiano de Souza, depois das operações realizadas ontem pela Polícia Federal. Conforme ampla divulgação, Miramilton e mais o deputado estadual Rárison Barbosa, assim como policiais penais e um civil, foram alvo de 16 mandados de busca e apreensão dentro da investigação sobre comércio ilegal de armas de fogo e munições em Roraima.
No mínimo, é moralmente incompatível que a PM (instituição séria com o nome já maculado por dezenas de policiais investigados por vários crimes) siga sendo conduzida por alguém com um histórico acumulado desde quando estourou a primeira denúncia sobre dois contratos que ele formalizou com a Prefeitura de Bonfim, sem licitação, para ministrar treinamentos de tiro para guardas municipais e compra de munição para os cursos, em 2021. Naquela época, Miramilton ainda era subcomandante da PM.
Outros casos surgiram depois. Na lista de acusações contra PMs sobre formação de milícia e grupo de extermínio para proteger e roubar garimpeiros, conforme investigações que apontam roubo, extorsão, torturas, assassinatos e tráfico de drogas, o comandante-geral da PM de Roraima é um dos citados em inquérito com investigações conduzidas pela Polícia Civil e Polícia Federal, que apontam para uma organização criminosa formada por policiais.
Na investigação, que envolve cerca de 40 policiais militares suspeitos de diversos crimes, o comandante da PM, Miramilton Goiano, consta entre os citados por testemunhas ouvidas pela polícia. Conforme os autos, PMs teriam se unido a criminosos para realizarem roubos, extorsões, torturas e execuções de garimpeiros. Constam ainda assassinatos sob encomenda ligados à disputa por terras em Roraima.
O esquema ofereceria serviços de segurança, escolta, munições e coletes a prova de bala para grupos de garimpeiros ilegais na Terra Indígena Yanomami, além de participação no transporte aéreo de cocaína na fronteira com Venezuela e Colômbia. Tudo isso veio à tona depois do caso da tentativa de roubo de um avião ligado ao garimpo ilegal, em setembro de 2022, na zona rural de Boa Vista, quando oficiais da PM participaram da ação, inclusive com um deles morto no local. A partir dali, as investigações apontaram que todos integravam uma milícia.
O nome do comandante da PM surge em outra investigação, desta vez sobre facção criminosa que atuaria dentro da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc). Conduzida pela Polícia Federal, a investigação chegou ao nome do coronel Miramilton e o do filho dele, o agente penitenciário Renie Pugsley de Souza. Os dois fizeram três visitas ao detento Jonathan Novaes de Almeida, preso na Operação K’daai Maqsin, de 2019, que investiga uma organização responsável por vender armas e munições ilegalmente para garimpos e facções criminosas.
Recentemente, o nome do comandante da PM apareceu no caso do assassinato de um casal de agricultores, no Cantá, em 23 de abril deste ano, em que os dois foram executados covardemente a tiros em uma disputa por terras. Um dos que responde por esse crime é o capitão da PM Helton John da Silva de Souza, que a época era o responsável pela segurança do governador Antonio Denarium (PP). Em depoimento à Polícia Civil, o militar citou Miramilton, que passou a ser investigado por suspeita de interferir no assassinato do casal. Aliás, o capitão pertence à mesma igreja da qual o coronel é pastor.
Por fim, ainda que o militar negue todas as acusações, o mais correto é ele eixar o seu cargo à disposição para que tudo seja devidamente esclarecido. Por sua vez, o Governo do Estado, que decidiu mantê-lo como comandante da PM até aqui, tem o dever de dar uma resposta imediata à sociedade, desvinculando definitivamente o nome do coronel da instituição militar até o fim das investigações. Já basta o que pesa de graves acusações envolvendo outros militares, inclusive oficiais. É precisa dar um novo rumo à PM de Roraima.
*Colunista