Sempre que posso viajo pela América do Sul. Já conheço todos os treze países sul-americanos, alguns repetidas vezes. É o caso do Chile que já visitei em seis diferentes ocasiões. Como fiz de minhas andanças pelo mundo um objetivo de vida, as três Américas, com seus 36 países, é o primeiro continente que fechei.
Desembarquei em Santiago, a bela capital chilena, em tarde fria de primavera, os termômetros marcavam 12 graus. Com ruas e avenidas bem cuidadas e arborizadas, me hospedei em um hotel na avenida Libertador Bernardo O’Higgins, -que corta toda a capital; bem perto do burburinho do comércio de rua.
Visitar a terra de Pablo Neruda e Isabel Allende é um passeio no tempo. O hotel butique, onde fiquei, fica em um casarão francês do século XIX, que pertenceu a uma família da burguesia local, me informou a concierge. Decorado com móveis de época, e fotografias de celebridades que já não estão mais aqui, mas que deixaram suas marcas. Nas paredes, fotos em preto e branco da cantora alemã Marlene Dietrich, da francesa Edith Piaf, do ator Egípcio Omar Sharif, vestido de Lawrence da Arábia; do ator francês, Alan Delon, no esplendor da juventude; a atriz Audrey Hepburn vestida de preto, colares de pérolas e cigarrilha, resplandeceste como em “Bonequinha de luxo”, filme de 1961, além do astro norte-americano Marlon Brando, ainda bad boy. E, de nossa Carmen Miranda com seus balangandãs. Um passeio pela icnografia, do melhor das artes cinematográficas em todos os tempos.
Após três dias em Santiago segui viagem para Mendonza, que não conhecia.
A distância de Santiago a Mendonza é de 367 Km, que fiz em oito horas de ônibus, passando pelos caracoles, uma estrada sinuosa, tendo a Cordilheira dos Andes como paisagem. Fascinante e perigosas tamanho são os desfiladeiros.
Deslumbrante, fascinante e surprendente, Mendonza, Argentina, uma das capitais mundiais do vinho, cidade de dois milhões de habitantes, ou de personas, como hablan em espanhol, é um lugar para voltar mais vezes.
Calma, silenciosa, arborizada, construída onde fora um deserto, com precipitação pluviométrica de menos de 200 milímetros por ano, clima ideal para o cultivo de variedade de uvas, Mendonza tem mais de mil vinícolas. Com pouca chuva, o segredo para o fornecimento de água, não vem das chuvas, mas do derretimento da neve que cobre as montanhas no entorno da cidade.
Visitei duas vinícolas, e uma fábrica de azeites, outro produto de exportação local.
Durante três dias pude caminhar calmamente por ruas arborizadas, apreciar seu rico patrimônio arquitetônico, que inclui edifícios em estilo moderno e art déco. Com ruas largas e arborizadas, a Praça da Independência, é o coração da cidade. Mas o melhor é um tour gastronômico; desfrutar da rica culinária argentina, comer um bom assado, preparado com as melhores carnes de rês do mundo, acompanhado de bons vinhos.
A cidade de Mendonza está localizado na região de Cuyo, berço do vinho argentino, com fama de produzir o melhor Malbec do mundo. 70% do vinho da Argentina é produzido na região de Mendonza.
Hospedei-me no centro da cidade, na Av. San Lourenzo, em um apto mobiliado, que reservei pelo Airbnb, essa maravilha do mundo moderno. Confortável e bem localizado, até livros na estante: Jorge Luís Borges, Júlio Cortázar, Ernesto Sábato, e até O Alquimista, de Paulo Coelho, em espanhol.
Enquanto boa parte do mundo está em guerra, com homens se matando e morrendo por ideologias e poder, posso de dizer que esses dias foram especiais, reservados para comer, beber e apreciar as boas coisas da vida.
Luiz Thadeu Nunes e Silva, jornalista, escritor e viajante