Os últimos dias foram marcados por um quadro perturbador que resume no que se tornou o Estado de Roraima nesses últimos anos, já marcado em outras décadas por pistolagem na política, policiais envolvidos em grupo de extermínio, execuções por disputa de terras, crimes provocados por garimpo ilegal e ação de facções criminosas que atuam não somente nos centros urbanos, mas também em terras indígenas e além fronteira de países vizinhos.
Um dos fatos, que pegou muitos de surpresa, foi o desdobramento da Operação Mercenários, desencadeada pela Polícia Civil no sábado, 26, que aponta o ex-deputado federal Raul Lima como o mandante do assassinato de Antonio Etelvino de Almeida, o Toinho da Aderr, que era candidato a prefeito no Município de Amajari, e prendeu dois acusados de terem executado o crime, ambos funcionários do político, que indica como motivação uma disputa fundiária.
O desfecho do caso remete a um passado não muito distante quando política sempre se cruzou com pistolagem, em que aqueles que ousaram enfrentar os coronéis da política local foram executados a tiros por crimes de encomenda. O caso mais emblemático e nunca solucionado foi a execução a tiros do jornalista João Alencar, em 1982.
Houve outro bárbaro crime de pistolagem que abalou a opinião pública, a execução do combativo advogado Paulo Coelho, em 20 de fevereiro de 1993, na calada da noite, logo após tomar posse como conselheiro federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) prometendo enfrentar os desmandos da política local que envolvia influentes e violentos policiais civis e o pai deles, um desembargador do Tribunal de Justiça de Roraima.
Outro fato amplamente repercutido, também na semana passada, foi a operação conjunta da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público de Roraima (MPRR) que investiga venda ilegal de armas e munições, cujos investigados são o comandante-geral da Polícia Militar, Miramilton Goiano, e seus filhos, o deputado estadual Rárison Barbosa e policiais penais. É a instituição Polícia Militar no centro de polêmicas, que inclui policiais investigado por milícia, crimes envolvendo o garimpo ilegal e até disputa por terra, o que é uma realidade muito preocupante.
Na esteira dos acontecimentos, na semana passada ocorreu novo tiroteio em frente da Rodoviária Internacional de Boa Vista deixando outro venezuelano baleado, na segunda-feira à noite. No sábado, também à noite, um venezuelano foi executado ali perto daquela região, dentro do mesmo contexto de acerto de contas de uma facção venezuelana que comanda o tráfico de drogas naquele setor da cidade, nos bairros São Vicente e 13 de Setembro. Ao longo dos anos, foram vários assassinatos de venezuelanos e, circunstâncias parecidas de acerto de conta.
Embora sejam casos distintos, todos se somam a uma realidade que não é de hoje. Basta lembrar que temos o ex-senador Telmário Mota preso sob acusação de mandar executar a tiros a mãe da filha adolescente, que o acusou de estupro e que lutava na Justiça por pagamento de pensão. De outra forma, PMs que prestavam serviço na Assembleia Legislativa foram presos no rumoroso caso do jornalista Romano dos Anjos, sequestrado e torturado em um episódio que envolve política e liberdade de imprensa.
É uma realidade que não pode mais persistir, com sérios riscos de o crime definitivamente se apossar não só da política partidária, mas também de pontos chaves dos poderes constituídos, como se viu no passado com as mortes de João Alencar e Paulo Coelho, nas décadas de 1980 e 1990. Existem não apenas indícios, mas o caso do presidente da Câmara de Boa Vista, vereador Genilson Costa, preso nas eleições deste ano sob suspeita de compra de voto e posse de gramas de ouro. Ele é investigado por suspeita de integrar um esquema de tráfico de drogas.
Se não houver ações rápidas dos políticos e das autoridades de todos os poderes para enfrentar esta realidade, o Estado de Roraima será dominado pelo crime, que passará a ser definitivamente institucionalizado, sob a conivência de todos, inclusive com sérios riscos da liberdade de expressão e de imprensa. O caminho já está todo traçado e as instituições sob sérios riscos diante de bárbaros crimes se repetem como cenas de um passado não distante.
*Colunista