Hoje é o dia de lembrar com saudade, reviver memórias e homenagear aqueles que partiram. O Dia dos Finados é uma data que tem rosto, nome e história. Para isso, a Folha conversou com duas famílias que perderam entes queridos de forma trágica. Uma das vítimas foi assassinada e a outra morreu afogada e o corpo não foi encontrado.
Neste ano, queremos dar voz a duas famílias que carregam histórias de perda e saudade. O primeiro caso é de Wemerson Silva de Araújo, que foi assassinado aos 17 anos. O caso ocorreu em 2013, no bairro Cauamé, e após 11 anos do crime, as acusadas foram julgadas e duas delas foram condenadas, e a outra absolvida.
A reportagem conversou com a mãe dele, Maria Silva de Araújo, de 59 anos, que há 1 ano perdeu o marido Manoel vítima de acidente, com quem teve seis filhos e Wemerson era o quinto.
“Eu o perdi de forma muito precoce, meu filho só tinha 17 anos, mas esse pouco tempo que convivi com ele foi maravilhoso. Ele era um menino alegre, divertido, trabalhador e com ele não tinha tempo ruim, estava sempre de bom humor. Wemerson foi o filho de número 5 e muito amado por todos nós”, relembrou Maria.
Ela recordou momentos que viveu ao lado do filho e da família. “Antigamente, aos finais de semana, íamos para os balneários que tem aqui perto de casa. Erámos tão felizes e era um momento tão bom, todos nós ali reunidos, se divertindo. Esses são os momentos que mais tenho saudade da minha família toda junta”, contou.
Durante esses anos da morte de Wemerson, muitos momentos foram de saudade, mas o dia mais difícil para Maria, segundo ela, é no aniversário do neto, que é comemorado dois meses antes de completar ano do falecimento do jovem.
“Meu neto faz aniversário em setembro e ele morreu em novembro. Esse é um momento muito difícil, pois estou alegre comemorando mais um ano de vida dele, mas ao mesmo tempo triste porque sei que é mais um ano da morte do meu filho”, comentou.
Quando Wemerson foi assassinado o filho dele tinha dois meses de vida e a criança estava no banco de trás do veículo junto com a mãe. O atropelamento ocorreu próximo da residência da família.
Maria relembrou quando recebeu a notícia do falecimento de Wemerson e que ele teria sido assassinado.
“Quando eu soube que ele tinha sofrido o acidente, foi aquele desespero. Mas depois que confirmou a morte e as informações chegando, as investigações acontecendo e a Polícia Civil informou que não tinha sido um acidente e sim um homicídio, a ficha demorou a cair, nunca tinha me passado pela cabeça que tinham mandado matar ele, foi muito difícil”, disse.
Ela contou que ficou anos sem conseguir passar no trecho onde aconteceu o atropelamento. “Eu passei muito tempo sem conseguir passar lá, eu dava a volta pelo outro lado, porque se eu passasse ali, era como se eu revivesse aquela cena”, contou.
Justiça
Depois do sepultamento, Maria e a família iniciou o processo de Justiça pela prisão e condenação das envolvidas, mas durante essa batalha o pai de Wemerson morreu após ser puxado por um homem enquanto andava de bicicleta. Manoel passou por cirurgia na cabeça, mas não resistiu e foi a óbito dias no Hospital Geral de Roraima (HGR).
“Depois do sepultamento começou a minha luta por justiça. Muitas pessoas acreditavam que não ia dar em nada, mas sempre acreditei e confiei. A sentença era para ter saído ano passado, mas não aconteceu. O pai dele não pode vivenciar a condenação delas. Eu perdi o amor da minha vida, meu primeiro namorado, pai dos meus filhos e o meu companheiro. Foram mais de 40 anos juntos”, relembrou.
Sobre as duas perdas, Maria disse que “a morte do meu filho e marido, fazem parte da minha história e família, eu não posso passar uma borracha e fingir que não aconteceram. É uma ferida que não cicatriza, não fecha, só fica ali quietinha, mas sempre dói”, finalizou.
Edilson Lopes
A família de Wemerson teve a oportunidade de fazer o velório e o sepultamento, já a família do agente da Polícia Civil, Edilson Lopes, de 60 anos, não teve a mesma chance, pois o idoso morreu afogado no rio Caracaraí, em julho de 2019, e o corpo dele nunca foi encontrado. As buscas pelo corpo de Edilson duraram 10 dias, nem a embarcação foi encontrada.
No dia do acidente fluvial, Edilson estava acompanhado da mulher, Neuraci do Rosário, de um dos filhos e da nora. Edilson e Neura, como ela é conhecida, foram casados por 40 anos e tiveram seis filhos.
“Edilson era brincalhão, alegre, divertido, estava sempre fazendo brincadeiras e contando histórias. Tínhamos o costume de andar de barco naquele rio, ele sabia nadar muito bem. No dia do acidente, tínhamos passado o dia no sítio e estávamos pescando, quando ao passamos por debaixo da balsa, que fica no porto, o barco afundou. Nós três conseguimos nos salvar e ele não”, relembrou Neuraci.
“Acredito que o papai já sabia que ia morrer, pois nos dias que antecederam o acidente ele estava estranho, parecia preocupado. Ele sempre dizia que ia morrer nas águas e o corpo não seria encontrado. Com isso, parece que nos preparou para isso”, contou Manoel Rosário, de 35 anos.
Como a família não pôde realizar sepultamento, eles fazem alguns rituais para celebrar o Dia dos Finados e data de morte. Após sete dias do acidente, foi realizado um culto na casa da família. Além disso, colocaram em um túmulo que pertence à família uma foto com a data de nascimento e data do acidente.
“É uma sensação esquisita como se ele estivesse viajando e pode voltar, mas ao mesmo tempo sabemos que não volta. Tudo o que fazemos é simbólico porque não temos um corpo para visitar, mas acendemos velas, fazemos orações, vez ou outra quando chega o Dia dos Finados ou a data do acidente vou em Caracaraí e jogo flores no rio ou acendo velas lá na beira”, finalizou Neura.
Além disso, fotos de momentos de Edilson e a família estão na sala da casa. Inclusive, um banner foi feito especialmente no Dia dos Pais em homenagem a ele.