Alunos da comunidade indígena Pedra Branca, no Uiramutã, ao Norte de Roraima, farão pela primeira vez, neste domingo, 3, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os 18 estudantes de idades variadas realizaram um trajeto de quase 300 quilômetros para fazer a prova na Escola Estadual Monteiro Lobato, em Boa Vista.
Com o objetivo de ingressar no curso de Enfermagem, Josenilson Madeira, de 37 anos, acredita que a distância não significa “muita coisa”, comparado ao sonho de ter uma formação. O ativista indígena tem uma expectativa positiva em relação à prova.
“Sempre me dediquei ao movimento social indígena e fui muito cobrado em relação à minha escolaridade. Eu estava me preparando para fazer a prova e, quando surgiu a oportunidade, quis tentar. É muito importante que levem a oportunidade de ensino aos estudantes de locais com difícil acesso. Está sendo uma grande oportunidade para nós. Queremos ser exemplos para outras pessoas também, inclusive mais velhas. Temos muito para conseguir pela frente”, relatou.
Olindina da Silva, de 41 anos, veio para Boa Vista com o grupo com o objetivo de continuar investindo na própria educação. Ela confessou que tem o sonho de cursar Medicina. “Estou bem nervosa e ansiosa, sem saber muito o que fazer. Vou ver como vai ser a prova”, disse.
Acompanhamento pré-Enem 2024
O grupo veio a Boa Vista acompanhado da gestora da Escola Estadual Indígena Carlos Gomes, Juciléia Teixeira. Ela explicou que a iniciativa de mobilizar os alunos para realizarem o Enem surgiu a partir da preocupação em formar pessoas em áreas em que a região carece de profissionais.
“Temos diversos projetos na comunidade que estão acabando por falta de profissionais formados para darem seguimento a eles. Precisamos de alunos que busquem o ensino superior e se graduem para atuar na própria comunidade. Esse é um dos nossos objetivos e tem dado muito certo”, afirmou.
Os estudantes tiveram o apoio do cursinho popular Nubo, uma instituição de São Paulo que os preparou para a prova à distância, financiou a inscrição deles no Enem e os trouxe até a capital para que pudessem realizar o exame. Além disso, os alunos receberam transporte, alimentação e estadia de forma gratuita.
Bruno Sgura, coordenador de captação de recursos do Nubo, informou que a instituição acompanha os alunos há cerca de cinco meses, quando a gestora da escola entrou em contato. Inicialmente, foram matriculados 34 alunos, mas, após desistências, apenas 24 continuaram no cursinho popular. Desse quantitativo, 18 decidiram fazer a prova.
“Demos aulas de forma online, pelo WhatsApp e por aplicativos de celular. Adaptamos o cronograma de aulas para eles, pois o acesso à internet na comunidade é muito precário. Também acompanhávamos eles para saber como estavam se adaptando. O único requisito para participar é ter o ensino médio completo”, explicou Bruno.