Boa Vista foi a 3ª capital que mais reduziu a própria vegetação urbana em 20 anos

De 2003 a 2023, capital de Roraima perdeu 34% de áreas que abrangem espécies como trepadeiras e árvores

Perda de vegetação urbana em Boa Vista entre 2003 e 2023 (Foto: Reprodução Google Earth)
Perda de vegetação urbana em Boa Vista entre 2003 e 2023 (Foto: Reprodução Google Earth)

Boa Vista foi a terceira capital brasileira que mais reduziu a própria vegetação urbana entre 2003 e 2023, ao diminuir essa área de 21% para 13,9%. É o que aponta o último levantamento do MapBiomas sobre o perfil da ocupação e uso do solo nas áreas urbanas e seu entorno pelo Brasil.

Esse tipo de vegetação abrange espécies como trepadeiras e árvores que podem estar em locais como parques, praças, áreas de preservação permanente e até em áreas abandonadas. Em 2003, a capital mais setentrional do Brasil possuía 2.503 hectares de vegetação urbana, o equivalente a 2,5 mil campos de futebol. Vinte anos depois, o tamanho dessa área caiu para 1.652 hectares, uma perda de 34%.

Coordenadora do estudo feito a partir de imagens de satélite de média resolução espacial disponíveis sobre a região desde 1985, a arquiteta urbanista Mayumi Hirye, mestre e doutora em Sensoriamento Remoto pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), afirmou que a maior redução ocorreu nas áreas de expansão da cidade, como os loteamentos Said Salomão, João de Barro, Caburaí e os bairros Cidade Satélite e Doutor Airton Rocha, todos na zona Oeste da capital.

Acesso ao bairro Said Salomão (Foto: Arquivo Folha)

“Eram áreas de vegetação que foram sendo incorporadas para a cidade. Então, a vegetação foi substituída por casas, ruas, edificações. Isso em si é um processo natural das cidades: a cidade vai crescendo e vai incorporando as áreas de vegetação natural”, pontuou.

Conforme a pesquisadora, a vegetação ajuda a regular, nessas localidades, o microclima (área menor onde condições atmosféricas diferem da zona exterior). “A vegetação vai ajudar a regular o microclima e tornar a cidade menos seca, um pouco mais úmida e também um pouco mais fresca”, destacou.

O engenheiro florestal Paulo Eduardo Barni, mestre em Ciências de Florestas Tropicais e doutor em Clima e Meio Ambiente pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Universidade do Estado do Amazonas (UEA), alerta que o ideal seria a cidade crescer com respeito à vegetação, sem chegar muito perto de cursos d’água.

“Problema é quando vai se abrir um novo bairro, uma área de invasão, em que invasores e até loteamentos irregulares usam toda a área, inclusive, soterrando pequenos mananciais, cursos da água, vão soterrando tudo, fazendo terraplanagem pra fazer casas, esse é o problema. Leis ordenando o crescimento da cidade têm bastante, só que, muitas vezes, não são respeitadas”, disse.

Calor

Barni confirma que, em regiões da cidade onde há a perda das árvores, a temperatura do ambiente aumenta. Isso porque, segundo o pesquisador, a árvore é como um “ar-condicionado às avessas”, responsável por retirar a umidade e tornar o ambiente mais “aprazível”. “Ela tira a água do solo e devolve pro meio ambiente, transformando-o mais úmido, mais aprazível pro ser humano, oferecendo sombra. Quando você chega numa área sombreada, você já sente o poder da queda da temperatura”, exemplifica.

Troncos de árvore cortada em Boa Vista (Foto: Wenderson Cabral/FolhaBV)