O assunto é delicado. Uma fonte da Folha afirmou que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) estaria impedindo o retorno de imigrantes indígenas, que manifestam interesse, em voltar para suas comunidades na Venezuela. O motivo, segundo a denúncia, seria a perda dos recursos recebidos para o funcionamento do Abrigo do Pintolândia, na zona oeste da capital. O retorno dos indígenas, entretanto, não é novidade.
A secretária de Assuntos Internacionais de Roraima, Fátima Araújo, informou que o primeiro processo de retorno de imigrantes indígenas da etnia Warao para o país de origem foi iniciado no dia 21 de agosto deste ano, no município de Pacaraima, região norte do Estado. A ação, segundo ela, foi realizada junto ao Consulado da Venezuela e teve apoio logístico da Força Humanitária do Exército. Ao todo, 23 indígenas foram enviados de volta para o país.
Posteriormente, outros traslados de imigrantes que não tinha condições financeiras continuaram acontecendo no município, desde que fossem manifestados por conta própria o interesse no retorno. O que chamou a atenção de Fátima, no entanto, foi a orientação que recebeu da Força Humanitária quando solicitou apoio logístico para transportar os imigrantes abrigados no ginásio do Pintolândia, que também demonstraram interesse no retorno.
“Eu expliquei que queria fazer o mesmo processo que foi feito em Pacaraima, mas fui informada que eu precisaria que a Acnur desse o consentimento e autorizasse o retorno dos indígenas, para então conseguir o apoio logístico. Eu estranhei porque isso não foi necessário no trabalho que foi realizado em Pacaraima, então parei com o processo desde então”, explicou.
A fonte da Folha explicou que um processo de traslado de pouco mais de 100 imigrantes do abrigo Pintolândia chegou a ser realizado este ano, sem o consentimento da Acnur, e que o mesmo aconteceu um ano após a visita da cônsul da Venezuela ao abrigo. Durante a visita, que aconteceu em junho do ano passado, alguns imigrantes informaram a vontade de voltar ao país, apesar de não terem recursos financeiros.
“A cônsul explicou que ajudaria com o transporte, saindo de Santa Elena, até as comunidades. Dos mais de 100 que foram, muitos ficaram e outros voltaram, porque só queriam entregar alimentos e remédios aos familiares. Antes de ir, eles chegaram a assinar um termo de responsabilidade informando que estavam indo por vontade própria e tudo. Os que não voltaram mandam notícias aos que ficaram dizendo que está tudo bem”, contou.
Quando um segundo grupo começou a ser formado, contudo, a fonte destacou que a Acnur começou a impedir a ação. “Eles botam medo nos imigrantes, dizendo que a cônsul não vai ajudar quando eles estiverem lá, que eles não vão receber atendimento médico, que vão rasgar a documentação deles. O que eu não entendo é: se uma pessoa, de outro país, quer voltar para o seu país, quem pode impedir?”, indagou.
Atualmente, a fonte informou que cerca de 730 imigrantes indígenas das etnias Warao e Eñapa estão abrigados no ginásio do Pintolândia. Destes, pouco mais de 60 manifestaram interesse em voltar ao país vizinho. “Desde então, a cônsul está proibida de entrar lá, porque eles não querem perder o dinheiro que recebem para manter aquele lugar. Qual o sentido?”, finalizou.
OUTRO LADO – A reportagem entrou em contato com a Acnur para ter um posicionamento diante da denúncia. Como resposta, a entidade explicou que não está promovendo o retorno dos imigrantes indígenas e que não impede que os mesmos retornem, mas defende que isso seja feito de forma segura.