Um dia após a Força-Tarefa do Departamento Penitenciário Nacional (Depen) assumir a administração da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (Pamc), a maior unidade prisional do Estado se tornou alvo da Operação Érebo, da Polícia Federal. O objetivo foi desarticular as lideranças regionais de facção criminosa que atuam dentro, e fora, do sistema presidiário em todo o país.
Já nas primeiras horas da manhã dessa terça-feira, 27, a Polícia Federal deu início ao cumprimento de 45 mandados de prisão preventiva e quatro mandados de busca e apreensão em Boa Vista e em Mossoró. Entre os 45 mandados, sete são referentes a presos que atualmente cumprem pena na Penitenciária Federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Os outros 38 mandados envolvem duas prisioneiras da Cadeia Pública Feminina, cinco pessoas que estavam em liberdade e 31 detentos da Pamc. As determinações foram expedidas pela Vara de Entorpecentes e Organizações Criminosas da Justiça Estadual de Roraima, após representação da Autoridade Policial pelas medidas. As investigações, por sua vez, foram iniciadas ainda no ano passado.
Segundo o superintendente regional da Polícia Federal em Roraima, Richard Murad, por meio das investigações foi possível identificar de forma contundente toda a estrutura da facção, principalmente suas lideranças, e os responsáveis pelos atentados que ocorreram entre os dias 29 e 31 de julho em Boa Vista. A partir daí, se individualizou a conduta de cada um dos atores.
No período, foram realizados ataques a diversos órgãos públicos e empreendimentos particulares em vários municípios do Estado, inclusive a uma delegacia de polícia e a um destacamento da Polícia Militar do Estado de Roraima (PMRR), além de agências bancárias e outros. Para Murad, a operação é uma das várias ações necessárias para que Roraima tenha progresso, no sentido de desarticular as facções atuantes.
Essas ações, conforme relato, passam necessariamente pelo controle do sistema prisional, a retomada da ordem dos presídios e pelo restabelecimento da dignidade dos presos. “Esse é outro fator relevante. O preso, quando não está se identificando como um sujeito de direito, é um alvo fácil de corrupção por parte de organizações criminosas. É um conjunto de ações e hoje a PF pôde dar sua colaboração”, disse.
Presos conduzidos para PF-RR, durante operação Érebo (Fotos: Priscilla Torres/Folha BV)
Durante coletiva realizada no final da manhã dessa terça-feira, o chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio e ao Tráfico de Armas, Pedro Roncisvalle, responsável pelas investigações, destacou como o maior mérito da operação a identificação das lideranças responsáveis pelos ataques e o impedimento de outros atentados planejados pelos investigados, incluindo uma fuga da Pamc que estava prevista para julho deste ano.
“Existem outros alvos periféricos, mas o foco e, julgo, o grande mérito da investigação é estar imputando às lideranças toda a responsabilidade pelos crimes cometidos de dentro da penitenciária, tanto na Pamc, quanto os líderes nacionais que atuavam em outros locais, sendo um deles um prisioneiro que estava no Paraná”, explicou Roncisvalle. A previsão é que os líderes acumulem 30 anos, ou mais, em suas penas.
A operação contou com o apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate a Organizações Criminosas (Gaeco) do Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR), do Depen, da Divisão de Inteligência e Captura (Dicap) e de Agentes Penitenciários da Secretaria de Justiça e Cidadania de Roraima (Sejuc). Érebo, na mitologia grega, é nascido do Caos e reina na escuridão.
RESULTADO PARCIAL – Até o final do dia, a Polícia Federal cumpriu os quatro mandados de busca e apreensão e 40, dos 45 mandados de prisão. No Rio Grande do Norte, foram cumpridos sete mandados de prisão na Penitenciária Federal de Mossoró, onde a PF também realizou o interrogatório e o indiciamento dos alvos. Em Boa Vista, 31 presos foram conduzidos à sede da PF para as oitivas ao longo do dia, também sendo indiciados pela prática de diversos crimes. Além destes, mais três pessoas que estavam em liberdade foram presas por envolvimento com a facção criminosa.