A educação é um processo compartilhado. Uma de suas principais características é a interação social. É a partir desse ponto que é percebida a complexidade de se fazer educação. Por ser uma atividade subdividida, a educação não pode ser realizada unilateralmente, afinal toda e qualquer ação educativa pressupõe envolvimento, abnegação, dedicação etc. Vê-se, então, três níveis de engajamento para o bem aprender: O 1o. nível de engajamento compreendendo as próprias famílias com seus filhos/ alunos, comunidade e escola; o 2o. envolvendo os próprios filhos/ alunos com suas famílias, sua comunidade e sua escola; e o 3o. conectando a escola com as famílias, com a comunidade e com seus alunos. É essa rede completa de compromissos mútuos que fará a vida escolar de nossas crianças um sucesso contínuo e mais assertivo.
Como suporte a essa ideia inicial, aponta-se para uma das partes fundamentais da Teoria da Escolha, de William Glasser, que enfatiza a qualidade dos relacionamentos para uma vida harmônica e satisfatória. Acrescente-se a esse ponto, a percepção de que na base da famosa pirâmide de aprendizagem de Glasser, entre os fatores mais eficazes para aquisição de conhecimento, estão em 2o. lugar: a conversação/ discussão/ reflexão de objetos de saber com outras pessoas (70% de retenção) e em 1o. lugar: a divisão/ compartilhamento altruísta de saberes com o próximo (95% de retenção). Diante disso, não é difícil concluir que o ato de educar é muito mais produtivo quanto se tem uma rede de conexões sociais como aliada no decorrer dos anos de estudo, sendo isso apenas o início de uma grande colheita para todos: famílias, escolas e sociedade.
A FAMÍLIA – O LADO A DA PONTE:
Num artigo de Henderson, A. T., & Mapp, K. L. (2002) intitulado: “Uma nova onda de evidências – O impacto das conexões entre escola, família e comunidade no desempenho dos alunos”, listaram-se como benefícios dessa parceria família/ escola/ comunidade:
- Melhoria no Desempenho Acadêmico: Estudos demonstram que alunos com alto nível de envolvimento familiar tendem a ter notas mais altas em leitura, matemática e outras áreas do conhecimento.
- Aumento da Motivação e Persistência: O apoio e o encorajamento dos pais motivam os alunos a se esforçarem mais nos estudos, persistindo diante dos desafios e alcançando seus objetivos.
- Desenvolvimento de Habilidades Socioemocionais: O envolvimento familiar contribui para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais essenciais, como comunicação, trabalho em equipe, resolução de problemas e responsabilidade.
- Diminuição da Repetência e do Abandono Escolar: Alunos com famílias engajadas na vida escolar apresentam menor probabilidade de repetir o ano ou abandonar os estudos.
- Fortalecimento da Autoestima e do Bem-Estar: O apoio familiar contribui para a construção de uma autoestima positiva e de um senso de bem-estar dos alunos, fatores cruciais para o sucesso na vida.
Essa é a força do envolvimento familiar na aprendizagem.
A importância da parceria entre a escola e as famílias na educação dos alunos precisa ser novamente ressaltada. Definitivamente, a escola não pode nem deve tentar resolver questões de ordem, empenho e disciplina que competem exclusivamente à família implementar, pois cada parte tem responsabilidades específicas e complementares. A colaboração ativa das famílias é fundamental para o sucesso do processo educacional.
A ESCOLA – O LADO B DA PONTE:
A escola, como instituição complementar, a serviço das famílias, das comunidades e da sociedade, para o seu bom funcionamento, não pode deixar de exigir certas posturas, habilidades e competências básicas de seus alunos, pois estas auxiliam enormemente na condução de um processo de ensino-aprendizagem satisfatório para todos os envolvidos nela (famílias, escola, sociedade). Por conta disso, a escola não pode ser simplesmente tratada como uma “segunda casa”, porque toda conduta irregular no contexto da família será, infelizmente, refletida no âmbito da escola. Lamentavelmente, a inegável e desproporcional ausência de limites da maioria dos alunos, e de ações de superestima altamente danosas aos filhos, vindo de pais e parentes pode fomentar a possibilidade de a escola ser mal-interpretada por seus alunos, sua comunidade e suas famílias, gerando possíveis abusos e excessos por parte desses sujeitos, justamente porque a escola pode acabar se pondo na condição de refém num processo que ela não pode nem deve executar sozinha. Ou pior, talvez, em algum momento, a escola omita-se ou receie impor-se no que diz respeito à sua postura institucional, o que poderá condicionar uma inversão de papéis, na qual a família poderá delegar/ entregar à escola funções que são essencialmente suas no cenário da formação/ educação/ instrução de filhos/ alunos. Indiscutivelmente, se um aluno não tem pré-requisitos essenciais como respeito, disciplina, organização e contrapartida cognitiva (corresponder ao processo de ensino-aprendizagem), cabe à escola acionar a família a fim de que medidas necessárias para sanar essas pendências sejam tomadas.
É imperativo que a escola não tente produzir nos alunos hábitos e comportamentos que são de responsabilidade das famílias. É em casa que se devem alinhar e estabelecer diligentemente certos padrões necessários ao contexto da escola e da sociedade.
Como professor e pai, acredito que a maioria de nossas dificuldades no âmbito da educação, sejam de que ordem forem, serão resolvidas por meio da ampla, dedicada e constante participação das famílias no processo educacional.
(Cleyton Bonfim, professor e consultor educacional)
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