Desembarquei no aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio de Janeiro. Mal a aeronave taxiou a pista, muitos passageiros se levantaram para pegar sua bagagem de mão, mesmo com as advertências dos comissários de bordo.
Na descida, mais atropelo. Como me locomovo com muletas, tenho que redobrar os cuidados para não cair, ou ser atropelado.
Na cidade grande, todos corridos, todos com pressa.
Lembrei do filme “Um dia de Fúria”, de 1993, em que Michael Douglas interpreta um cidadão comum, consumido pelos excessos da correria, alucinado pela velocidade do dia a dia, chega a seu limite e explode toda a sua incontida fúria a partir de seu estresse. De lá pra cá as coisas pioraram muito.
É preciso saber dar tempo ao tempo para que as coisas realmente amadureçam e aconteçam. É preciso compreender que a aprendizagem de novos conceitos, atitudes e comportamentos levam algum tempo. E não há como “atropelar” o tempo. Parafraseando o biólogo francês Alexis Carrel, “ninguém ultrapassa impunemente os limites da natureza”. Os que querem atropelar o tempo pagarão por essa imprudência. Pagarão com o seu bem mais precioso, a saúde.
Sempre achei que, com as tecnologias, teríamos mais tempo para o ócio. Mas hoje vivemos o paradoxo de estar sempre correndo para resolver as coisas da vida.
Mas existem alguns fatores da vida contemporânea que continuarei pelo resto da vida sem entender direito. Ou talvez sem querer aceitá-los. Entre eles, a obrigação de se fazer tudo com pressa.
O que mais noto no discurso das pessoas no meu entorno é que o tempo está passando rápido demais.
Se colocarmos uma lupa em nosso cotidiano, veremos que a maioria das pessoas, em busca de “performar” cada vez melhor, duela consigo mesmo, acelerando a vida, vivendo no amanhã, sem saborear o hoje na ânsia de ser reconhecido por sempre procurar ultrapassar os seus limites.
Parece que a humanidade está sofrendo dessa aceleração em busca do “que vem depois”. Principalmente após a pandemia do COVID 19, a humanidade busca a qualquer preço sair desse caos de medo e privações.
Somos obrigados a realizar diversas proezas. Sim, parece obrigação saber tudo o que se passa, assistir a série do momento, fazer atividades físicas, ter um bom desempenho em todos os setores da vida, para postar nas redes sociais, gerando mais ansiedade.
A vida precisa de calma. Precisa de tempo. De vagarosos momentos.
De um olhar demorado. De um sossego qualquer.
Fico com a música do pernambucano Lenine: “Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma, até quando o corpo pede um pouco mais de alma, a vida não para.
Enquanto o tempo acelera e pede pressa, eu me recuso faço hora vou na valsa, a vida tão rara
Enquanto todo mundo espera a cura do mal, e a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência.
E o mundo vai girando cada vez mais veloz. A gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência”.
Luiz Thadeu Nunes e Silva, Engenheiro Agrônomo, escritor, estudante de jornalismo, autor do livro “Das muletas fiz asas”.