A população em geral ainda relaciona o câncer de pulmão ao vício em cigarro e, em alguns casos mais distantes, por conta da concentração de poluentes em cidades urbanas. No entanto, especialistas na área alertam que as queimadas também podem influenciar na ocorrência da doença.
O estudo “A queima de biomassa na região Amazônica causa danos ao DNA e morte de células no pulmão humano” foi abordado durante o II Fórum Temático Oncoguia sobre Câncer de Pulmão, ocorrido em São Paulo.
Na ocasião, o médico oncologista e especialista em câncer no pulmão, Marcelo Cruz, explicou que o estudo de um grupo de pesquisadores brasileiros foi feito justamente para demonstrar que não é só a emissão de poluentes de fábricas e combustíveis que contribuem para os problemas respiratórios e pulmonares.
O médico afirma que ainda se fala muito sobre morar na ‘cidade grande’ e do risco de poluição, mas é preciso lembrar que a pessoa pode correr tanto risco quanto se morar em uma cidade pequena, em um povoado onde a incidência de queimadas é muito alta, como é o caso de Roraima.
“Já se sabe que o material particular proveniente da combustão de combustíveis fósseis, como gasolina e óleo diesel, elevam a liberação de materiais pesados. E esse material particular se torna um dos maiores fatores de risco para doenças pulmonares, incluindo o câncer de pulmão”, afirma Marcelo.
“Mas esse grupo de pesquisadores brasileiros mostrou que esse material produto da queima da biomassa, de lenha, madeiras, também leva à alteração do DNA de células de pulmão. Essas alterações de DNA que são as precursoras do desenvolvimento do câncer de pulmão”, frisou o oncologista.
O profissional reforça que o combate às queimadas, além de ser uma questão de prevenção ao meio ambiente, também deve ser pensado como uma medida de prevenção à saúde. “Além de queimar o que te protege e influenciar na qualidade do ar, ainda se está levando um risco para a população”, avalia.
RISCO – Apesar das queimadas apresentarem o risco da doença, o médico oncologista frisa que o maior causador do câncer no pulmão ainda é o cigarro. Em menores ocorrências aparecem a poluição, as queimadas, a proximidade com a fumaça de cigarros no formato de fumante passivo e exposição a outros materiais carcinógenos, como o gás radônio.
Vale ressaltar que apesar do câncer de pulmão ter uma incidência menor do que na mama e próstata, é a forma mais violenta da doença e que causa mais vítimas fatais na América Latina.
Maior incidência de cânceres em Roraima ocorre na pele
Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA) e do Ministério da Saúde (MS), o formato mais recorrente da doença em Roraima ocorre na pele. A média é de 680 novos casos por ano, sendo 90 deles dos tumores tipo não melanoma.
Dos 90 casos, a maioria deles (70) ocorre nos homens. Em seguida, aparecem as formas que atingem a próstata (70), mama feminina (50), colo do útero (40), estômago (30) e traqueia, brônquio e pulmão (30).
As demais formas da doença, como a no cólon e reto, cavidade oral, laringe, bexiga, esôfago, ovário, linfoma, tireoide, sistema nervoso central, leucemia, útero e pele melanoma tiveram número de casos menor que 20.
Os dados são referentes ao estudo das Estimativas de Incidência de Câncer para o biênio 2018-2019. A ação é produzida pela Divisão de Vigilância e Análise de Situação da Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) do INCA/MS e tem como objetivo realizar um levantamento para identificar as incidências da doença no país e, assim, elaborar estratégias de combate ao câncer no Brasil.
CAPITAL – Dos 680 novos casos registrados ao ano em Roraima, 550 são em Boa Vista. Na Capital, a maior incidência é da doença na próstata com 50 casos. O de pele não melanoma aparece em segundo lugar, junto com o que atinge a mama feminina com 40 casos cada.