OPINIÃO

É dezembro outra vez

Chegamos no derradeiro mês do ano, dezembro. Onze já ficaram para trás, fazem parte do passado.

Tudo rápido. O tempo passa afobado pelo meu dia, atropelando minha hora, desprezando minha agenda. Corre prepotente, para disputar lugar com o vento.

O tempo envelhece, não se emenda. Deveria haver algum decreto que obrigasse o tempo a desacelerar e a respeitar nosso projeto de vida. Só assim, eu daria conta dos livros que vão se empilhando, das melodias que estão me aguardando. Das saudades que venho sentindo, das verdades que ando mentindo, das  promessas que venho esquecendo, dos impulsos que sigo contendo, dos prazeres que chegam partindo, Dos receios que partem voltando.

Agora que o ano se encaminha para seu fim, percebo o tanto de caminho percorrido, ao impulso da hora que vai me acelerando.

Apesar do tempo, e sua pressa desleal, vejo que tenho muitas coisas para fazer, procrastinadas na correria do tempo que findou.

Quando chega dezembro, dou um comando para o cérebro e deixo a urgência se acomodar.  Mesmo açambarcado de urgências, desacelero e tento viver uma coisa de cada vez. Não há necessidade de abarcar o mundo em um só instante. Cada tarefa merece sua própria paz, cada sentimento seu tempo para ser, cada dia seu direito de nascer. Um problema enfrentado por vez, um passo consciente de cada vez, um prazer saboreado sem pressa.

É tempo de respirar, relaxar, deixar que a pressa se desfaça como poeira ao vento.

Assim como as sexta-feiras são prenúncio de finais de semana, dezembro é prenúncio de um novo ano. É hora de calmaria. Como não sou beato da religião que move o mundo dito moderno, -o consumismo, sigo na parcimônia de dias serenos.

Ao contrário da maioria, não fico mais gastador nesta época do ano. E, nem mais glutão, empanzinado das comidas das festas de confraternização, e dos encontros sociais dos que não se gostam, mas brindam a vida em torno de mesas fartas, e presentes de amigos, ou seriam inimigos, ocultos?

É hora de desacelerar, e esperar pelas chuvas que caem do céu, amenizando mormaços e renovando o ciclo da vida. Tempo de observar os mais belos entardeceres, contemplando paisagens deslumbrantes, que se transformam em memórias afetivas. Tenho registrado na memória entardeceres de finais de anos findos em diferentes lugares do mundo.

A hora pede calma. Caro leitor, amiga leitora, observe como tudo se acomoda, como as soluções surgem naturalmente quando acolhemos o momento presente.

E, como cantam Raimundo Fagner e Zeca Baleiro, na bela “Dezembros”:

“Os meus olhos têm a fome do horizonte

Sua face é um espelho sem promessas

Por dezembros atravesso,

Oceanos e desertos

Vendo a morte assim tão perto

Minha vida em tuas mãos”.

Dezembro é o mês que Deus escolheu para o menino Jesus nascer; e eu que nasci em um sete de dezembro distante, no meio do século passado.

Luiz Thadeu Nunes e Silva, Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e globetrotter, o cidadão mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes da terra. Autor do livro “Das muletas fiz asas”. 

Membro do IHGM, Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão. ABLAC, Academia Literária do Maranhão, ALMA; Academia Atheniense de Letras e da AVL, Academia Vianense de Letras, membro da ABRASCI.