Há mais de 20 anos, os produtores de frutas e hortaliças de Roraima vêm sofrendo com a mosca-da-carambola (Bactrocera carambolae). Agora, de uma hora para outra, os frutos de mamão não poderão mais ser exportados para outros estados, pois entraram para a lista de hospedeiros da referida praga.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), por meio da PORTARIA SDA/MAPA N° 1.188, de 15 de outubro de 2024, altera a lista de pragas quarentenárias, constante do anexo da Instrução Normativa SDA n° 38, de 1° de outubro de 2018. Em seu Art. 3°, fica incluída a espécie mamoeiro (Carica papaya) como hospedeiro da praga. Portanto, os agricultores de Roraima não podem mais exportar seus frutos de mamão para outros estados da federação, sendo o Amazonas o principal consumidor. Já há relatos de produtores com prejuízos superiores a 2 milhões de reais e dezenas de desempregados no campo.
Presente no estado desde 2010, a mosca-da-carambola tem causado enormes prejuízos econômicos e sociais aos produtores de frutas e hortaliças de Roraima. Além da carambola, os frutos hospedeiros incluem mamão, manga, acerola, goiaba, tomate, pimentas, laranja, caju, jambos, tangerina, murici, taperebá, jaca, pitanga e uma série de outras frutas com menor escala comercial. A lista completa está na Instrução Normativa n° 38 do MAPA.
Como uma praga severa e pertencente ao grupo das moscas das frutas, ela infesta uma grande variedade de frutos. Algumas literaturas relatam mais de 100 variedades hospedeiras (Informativo IAGRO – link), tornando a produção de frutas e hortaliças em Roraima cada vez mais inviável, com impactos diretos na geração de empregos e na economia local.
A fruticultura é um dos setores da agricultura que mais gera empregos no Brasil. Segundo o SEBRAE, a atividade gera 5,6 milhões de empregos diretos, o que representa 27% da mão de obra agrícola no país. De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a cada hectare ocupado com fruticultura no Brasil, são gerados de três a seis empregos diretos e de duas a três vagas indiretas.
A mosca-da-carambola é uma praga quarentenária presente no estado, e sua erradicação é praticamente impossível. Desde sua primeira ocorrência, a incidência tem aumentado ano após ano, com períodos de controle mais eficazes pela Agência de Defesa Agropecuária de Roraima (ADERR). No entanto, após falhas na gestão federal, a praga se alastrou, resultando no fechamento total de Roraima para a exportação de frutas hospedeiras.
A manutenção de uma fruticultura e horticultura fortes no estado significa geração de emprego e renda para pequenos, médios e grandes produtores. Isso fortalece a economia local e gera benefícios sociais, oferecendo alternativas econômicas fora dos grandes centros urbanos e ajudando a diversificar a renda nos municípios.
Esse duro golpe precisa ser reconhecido pelas autoridades estaduais, que devem tomar providências para viabilizar a fruticultura e a horticultura em Roraima. O sofrimento causado pela praga já é uma realidade para produtores de manga, goiaba, acerola, pimentas, tomate e outras culturas, que muitas vezes recorrem ao ocultamento de suas produções, misturando-as com outras culturas, para poder exportar e reduzir os prejuízos, chegando a ser comparados a traficantes.
Uma possível solução para esse problema seria a utilização da ionização, que pode ser uma técnica eficaz para auxiliar na exportação de frutos hospedeiros da mosca-da-carambola, de regiões infestadas para áreas livres da praga. Essa técnica envolve a irradiação controlada dos frutos para eliminar ou esterilizar os ovos, larvas ou pupas da mosca, sem comprometer a qualidade do produto.
Aqui estão os principais benefícios da ionização nesse contexto:
1. Eliminação de Pragas: A ionização, especialmente a radiação ionizante (como radiação gamma ou raios X), pode destruir os estágios de desenvolvimento da mosca-da-carambola (ovos, larvas e pupas) presentes nos frutos, tornando-os seguros para exportação. Isso impede que a praga seja transportada para regiões livres de infestação.
2. Tratamento Não Químico: A ionização é uma alternativa aos tratamentos químicos, como pesticidas, que podem ser problemáticos do ponto de vista ambiental e da qualidade do produto. A radiação ionizante não deixa resíduos químicos nos frutos, atendendo a normas sanitárias e exigências de mercados internacionais que proíbem o uso de certos produtos químicos.
3. Preservação da Qualidade: A radiação pode ser aplicada de forma precisa, minimizando danos aos frutos e preservando sua aparência, sabor e valor nutricional durante o processo de exportação.
4. Aceitação Internacional: A ionização é reconhecida por organizações internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), sendo uma metodologia aceita para o controle de pragas em produtos agrícolas destinados à exportação, facilitando o comércio internacional.
5. Segurança Fitossanitária: O uso da ionização garante que os frutos tratados não representem risco de introdução da mosca-da-carambola em novos mercados, o que é fundamental para a segurança fitossanitária das regiões importadoras.
Em resumo, a ionização oferece uma solução segura, eficaz e ambientalmente responsável para garantir que os frutos hospedeiros da mosca-da-carambola possam ser exportados sem risco de disseminação da praga, cumprindo as exigências sanitárias e mantendo a qualidade do produto.
Economicamente os produtores, unidos por meio de cooperativas, com o apoio de parcerias público-privadas, possam encontrar uma solução para esse grande problema econômico e social que afeta Roraima.
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