Enquanto o mundo encontra-se em uma encruzilhada devido às severas mudanças climáticas, Boa Vista parece viver em um mundo à parte quando se trata de preservar árvores em suas áreas urbanas, mesmo sendo uma Capital de clima muito quente em que a vegetação é essencial para garantir sombras e criar microclimas para amenizar o calor.
Quem tenta se posicionar sobre essa postura de derrubar árvores como se fosse um ato banal acaba sendo tratado como “ambientalista histérico e desocupado”, mesmo que estejamos na Amazônia e os alertas mundiais apontarem que estamos propícios a enfrentar com mais frequência as calamidades climáticas, com secas e chuvas extremas dentro de um cenário do “novo normal”.
No dia 02 de outubro deste ano, o tema foi tratado no artigo “Árvores tão antigas quanto o Hospital Coronel Mota foram derrubadas sumariamente”, cujo título é autoexplicativo sobre matança de árvores aos olhos de todos (e das autoridades estaduais) naquela unidade de saúde localizada a poucos metros da Praça do Centro Cívico, onde estão localizadas as sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário.
Os seguidos e graves alertas são ignorados, a exemplo do levantamento realizado pelo MapBiomas que mostrou que Boa Vista é a terceira Capital brasileira que mais reduziu áreas de vegetação urbana nas últimas duas décadas, entre os anos de 2003 e 2023, em que os índices diminuíram de 21% para 13,9% da vegetação urbana.
Ainda ontem a FolhaBV publicou a denúncia feita por moradores do bairro Jardim Floresta sobre derrubada de árvores em uma área verde onde será construída unidades habitacionais do programa federal Minha Casa, Minha Vida, executada pelo Governo do Roraima. Uma área importante para manter o clima e sustentar a rica biodiversidade que essas árvores abrigam em suas copas.
Além da insensibilidade das autoridades, arquitetos e engenheiros que trabalham para governos insistem em antigos conceitos de derrubar árvores para satisfazerem seus projetos que não respeitam o meio ambiente, enquanto mundo afora os projetistas fazem de tudo para salvar árvores e conectá-las com novos prédios que são erguidos.
Enquanto isso, lideranças mundiais são desafiadas a lutar contra as mudanças climáticas, tendo como bandeira principal manter árvores em pé, porque são elas as principais responsáveis por garantir a vida humana, pois realizam a fotossíntese, removendo gás carbônico da atmosfera, purificam a água e reduzem a velocidade da chuva, prevenindo erosão e inundações, além de preservarem a biodiversidade, pois são elas que fornecem habitat e alimento para muitas espécies de animais e plantas, inclusive em áreas urbanas.
Andando na contramão, em Boa Vista, outra vez a população assistiu ao ato de dirigentes da Rodoviária Internacional de Boa Vista, que foi privatizada pelo governo estadual, que no mês passado pediram autorização para podar árvores em frente àquele prédio, mas foram mais além, realizando uma poda radical que fatalmente pode matar o que restou dos troncos que estão minguando em pé.
É inacreditável que esse tema não indigna quem tem a obrigação de agir, inclusive diante do fato de Roraima ser a última grande fronteira agropecuária da Amazônia e que, por isso, tem o desafio de manter grande parte de sua floresta intacta. No entanto, os números são preocupantes: o Estado registrou alta de 279% no desmatamento entre 2018 e 2019, conforme dados do sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Até quando a sociedade vai assistir a tudo isso de forma passiva?
*Colunista