Filas em frente a escolas estaduais viraram praticamente parte de uma tradição cultural de Boa Vista. Pais de alunos colocam bancos, assentos e cadeiras de balanço, presos por correntes, cadeados e até mesmo fios de eletricidade, em frente aos portões de entrada das unidades de ensino. A batalha para conseguir uma vaga em uma instituição pública começa em meados de dezembro.
Apesar de comum, essa é uma prática que a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) afirma estar tentando evitar, uma vez que ela dá margem para que algumas pessoas aproveitem para vender vagas nas filas. Para isso, a pasta comunicou que cerca de quatro mil alunos que concluíram o 5º ano do Ensino Fundamental na rede municipal de ensino já estão pré-matriculados nas escolas da rede estadual para o ano letivo 2019, em escolas próximas de suas residências.
“Para saber em qual escola estadual o filho está matriculado, os pais ou responsáveis devem procurar a instituição municipal onde ele concluiu o 5º ano do Ensino Fundamental, e ser informado para qual unidade do Estado o estudante será encaminhado”, esclareceu a secretaria em nota.
Mesmo com essa logística, muitos pais acabam desaprovando a medida por não dar liberdade de escolher em que escolas vão colocar seus filhos. Esse é o caso da autônoma Leide Daiana, que quer matricular sua filha na 1ª série do Ensino Médio na Escola Estadual Lobo D’Almada, no Centro da Capital. Ela conta ter colocado uma cadeira para “marcar” o lugar na fila desde a última sexta-feira, 21.
“São apenas 30 vagas disponíveis. Nós moramos longe [da escola], mas quero que ela estude aqui por dois motivos: fica na rota de trabalho de alguns dos parentes dela, que poderão trazê-la, e a qualidade da escola, pois tenho muito respeito pela administração. Nós passamos aqui todos os dias para checar o local e tentar falar com a diretora para ver a possibilidade de matrícula”, afirmou.
Elane Trajano, gestora da escola, afirmou que as 30 vagas disponíveis para o 1° ano serão sorteadas. Os pais precisam ir ao local, preencher um requerimento, colocar em uma urna e aguardar pelo sorteio.
“A procura em toda a rede estadual está muito grande, mais do que no ano passado. A nossa escola é a menor em número de vagas de ensino médio da Capital. Estamos seguindo critérios do Estatuto da Criança e do Adolescente, como priorizar o atendimento a estudantes que moram mais perto. As 30 vagas que restam serão sorteadas, então, qual é a necessidade de fazer filas de cadeiras?”, questionou.
Elane também explicou que a “cultura das filas de cadeiras” se tornou algo tão comum que até mesmo pais de alunos com vagas garantidas deixam um banquinho com cadeado na grade da escola.
“Eu já vi um senhor, no início da noite de sexta-feira, 21, colocar uma cadeira na fila. Eu o abordei e ele me contou que mora há uma quadra daqui. Perguntei por que ele colocou o assento na fila, se a vaga já estava garantida. O senhor só disse que tinha visto a fila e resolveu colocar como uma forma de reforçar a garantia [da vaga]”, contou.
Um cenário semelhante também é encontrado na Escola Estadual Carlo Casadio, no bairro Centenário, local marcado pela presença de cadeiras há mais de dez dias. Além das filas, foi observado que os nomes dos filhos acompanhados da série em que deveriam ingressar estão escritos nos assentos.
Logo ao lado do início da fila, existe um comunicado direcionado especificamente para os donos dos assentos: “Os alunos do 5° ano da Escola Municipal Delacir de Melo Lima têm matrícula garantida. (…) Não coloquem mais cadeiras nas filas. Procurem a gestão ou secretaria da escola. Também pedimos aos pais que já as colocaram, que as retirem”, menciona.
A gestão da Escola Estadual Carlo Casadio comunicou que somente 20 vagas para as turmas de 5° e 7° anos estão disponíveis para a comunidade em geral consultar, dentro da própria instituição.
Central de matrículas terá reforço no atendimento
Mesmo com logística da secretaria, pais acabam desaprovando a medida por não dar liberdade de escolher em que escolas vão colocar seus filhos(Foto: Priscilla Torres/Folha BV)
Para atender a demanda dos pais dos alunos, a Seed comunicou que 30 servidores vão reforçar o trabalho da Central de Matrículas, que funcionará no período de 14 a 22 de janeiro. Por ela, o pai ou responsável é encaminhado para a unidade de ensino onde há vaga para matrícula do estudante. O serviço vai funcionar na Escola Estadual Monteiro Lobato, das 8h às 17h. O total de vagas estará à disposição no dia 11 de janeiro de 2019.
Para o Ensino Fundamental, as matrículas poderão ser feitas de 14 a 16 de janeiro. Para o Ensino Médio, nos dias 17 e 18 de janeiro, e para o EJA (Educação de Jovens e Adultos), dias 21 e 22 de janeiro.
Nas escolas militarizadas, a matrícula seguirá o mesmo padrão do ano passado, em que pais fazem as inscrições para o 6ª ano do Ensino Fundamental e do 1º ano do Ensino Médio. O sorteio de vagas para essas instituições ocorreu no dia 19 de dezembro e um novo edital está sendo elaborado, constando as vagas remanescentes, para ser feito novo sorteio. Os alunos que estudam nessas unidades seguem com a matrícula automática.
Em 2019, serão mantidas as 18 escolas militarizadas existentes hoje, sem possibilidade de expansão. O Calendário Escolar 2019 vai cumprir 200 dias letivos, com carga horária mínima de 800 horas, conforme previsto na Lei Federal 9394. Atualmente, o Estado tem cerca de 72 mil alunos e 5 mil professores do quadro efetivo. A previsão da Secretaria de Educação para 2019 é que esse número salte para 77 mil estudantes. (P.B)