Cotidiano

Número de usuários é cada vez menor

Consumo caiu em todo o Brasil, dando preferência ao uso de celulares; em RR, compra de cartões telefônicos reduziu em 90%

A multiplicação de telefones celulares pelo País vai provocar uma mudança nas ruas das cidades. O orelhão, nome popular do Telefone de Uso Público (TUP), vem sofrendo um processo gradativo e constante de desuso, com a popularização dos aparelhos móveis, desde a década passada.
Nas ruas, a grande maioria das pessoas entrevistadas pela reportagem da Folha deixou de utilizar o serviço e há muitos aparelhos espalhados pela cidade em condições precárias e de abandono. “Eu, para falar verdade, nunca mais os usei. Hoje em dia, só servem para os moleques vandalizarem”, disse o comerciante Nelson Almeida, de passagem pelo Centro de Boa Vista.
Num passado não tão distante, o orelhão era utilizado por muitas pessoas em circulação, como opção para se comunicar com parentes, amigos, serviços emergenciais. Com o avanço do celular, o telefone de uso público vai sendo calado cada vez mais.
Proprietária de uma loja, Cristina Fontes se lembrou do início dos anos 90, quando se estabeleceu em sua vizinhança, na zona Oeste de Boa Vista, e os orelhões eram utilizados por todos. “Havia filas enormes na frente do comércio. Era uma loucura! Isso ainda na época que era usado com ficha, que nós vendíamos. Hoje em dia, o orelhão está feio, todo pichado e quebrado. Só vendemos crédito para celular”, contou. Um cliente da loja de Cristina completou: “Na verdade, o telefone público perdeu o sentido. É difícil encontrar quem não tenha um celular”, ressaltou.
Mesmo não utilizando o serviço, a funcionária pública Ana Cláudia Dias acredita ser importante que os orelhões continuem existindo, para facilitar a comunicação com regiões distantes do Estado. “Para mim, aqui na cidade, não faz falta. O problema são os meus pais, que são agricultores e vivem numa vila de Rorainópolis”, disse Ana, que fala periodicamente com os pais quando eles lhe telefonam de um telefone público do interior do Estado. “Toda a comunidade, que é bem carente, usa. Há vezes que não conseguem ligar por algum problema técnico e ficam incomunicáveis. Pela idade avançada dos meus pais, eu fico preocupada”, comentou.
Consumo de cartões telefônicos reduziu em 90%
Essa mudança pode ser traduzida no consumo de créditos em telefones públicos, que teve uma redução de mais de 90% em menos de uma década. Segundo a operadora Oi, o custo do orelhão é uma conta que não fecha. Com a queda no consumo nos orelhões no Estado de Roraima, hoje apenas 4% da planta de telefones públicos da empresa de telecomunicação gera receita suficiente para o pagamento do seu próprio custo de manutenção. Devido à pouca atratividade, cerca de 35% dos orelhões da Oi falam menos que 1 minuto por dia, conforme a assessoria da empresa.
Ainda conforme estudos realizados pela Oi, atualmente, o uso do orelhão é esporádico. Com a chegada da telefonia móvel, somada à ascensão das classes C, D e E, os telefones públicos deixaram de ser atrativos para os consumidores. A migração do consumo de voz fixa (acesso individual ou telefone público) para voz móvel faz parte da evolução da telefonia em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Entre 2008 e 2013, a Oi registrou queda de aproximadamente 44% ao ano no consumo de créditos em seus orelhões – o que representa uma redução de 96% nesses seis últimos anos. Ou seja, o consumo do ano de 2013 representa apenas 4% do consumo realizado no ano de 2008.
REDUÇÃO DE APARELHOS – Em consulta pública, aberta em junho do ano passado, a Anatel propôs reduzir o número de orelhões no Brasil. Isto significaria tirar das ruas cerca da metade dos telefones públicos de todo o País, somando 461 mil aparelhos. Para isso, a Anatel sugeriu, à época, aumentar a distância entre os aparelhos à disposição do público, de 300 para 600 metros. Ainda seria uma garantia para os momentos em que o celular não recebe sinal ou não tem bateria.
NÚMEROS – Segundo dados do Sistema de Gestão de Metas de Universalização (SGMU) da Anatel, o Estado de Roraima possui 2.320 telefones de uso público (TUPs). Dentro deste número, 1.506 aparelhos estão localizados no município de Boa Vista. A segunda cidade que possui mais orelhões é Rorainópolis, com 110 telefones, e em terceiro lugar está Caracaraí, que conta com 92 aparelhos.
VANDALISMO – A operadora de telefonia Oi informou à reportagem que em 2014 foram danificados, por atos de vandalismo, em média, 5% dos orelhões instalados em Roraima. No mesmo período, em Boa Vista, foram danificados, da mesma maneira, cerca de 4,6% dos orelhões da Capital.
Do total de orelhões que apresentam defeitos, em virtude de atos de vandalismo, os danos atingem principalmente leitora de cartões, monofone, teclado, pichações e colagem indevida de propaganda de empresas nas máquinas e protetores de fibra (orelhas). A operadora afirmou que, em 2014, realizou mais de 1.400 substituições de aparelhos vandalizados em todo o Estado.
A companhia mantém um programa permanente de manutenção dos telefones públicos e conta ainda com as solicitações de reparo enviadas pelo seu canal de atendimento 10331, tanto por consumidores como por entidades públicas. (J.P.P)