A descoberta de uma espécie de cemitério clandestino na Capital, onde foram encontrados nove corpos enterrados, alguns com mais de seis meses de cadaverização, evidencia a falha nas buscas por pessoas desaparecidas em Roraima.
Dados do Sistema de Procedimentos Policiais Eletrônicos, obtidos pela FolhaBV, apontam que 1.518 registros de ocorrências feitos nos últimos anos no Núcleo de Investigações de Pessoas Desaparecidas de Roraima, constam com “Despachos Pendentes”, e que 306 estão sem qualquer despacho.
“O que vemos é um total desleixo, são inúmeros boletins de ocorrência que se quer foram analisados por delegados. A realidade é que não existe busca por pessoas desaparecidas em Roraima”, disse uma fonte policial à FolhaBV.
Um levantamento do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), mostra que em 2024 foram registrados 528 casos de pessoas desaparecidas em Roraima, uma média de mais de uma ocorrência por dia, de acordo com a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas.
Ao analisar o perfil dos desaparecidos, constata-se que 51,13% são homens e 53,2% têm mais de 18 anos. Os menores de idade representam 45,2% dos casos.
A taxa de desaparecimento no estado é de 73,6 por 100 mil habitantes. Entre 2020 e 2024, o número de desaparecimentos superou 1,8 mil, com um aumento expressivo a partir de 2022. Naquele ano, o número de casos subiu de 251 para 499, representando um crescimento superior a 50%.
Em 2022 a fronteira entre Brasil e Venezuela foi reaberta após a pandemia de Covid-19. Colaborando com o crescimento da entrada de imigrantes venezuelanos no estado, fazendo surgir ocupações irregulares pela capital.
Ao lado de uma dessas ocupações foi encontrada na última segunda-feira, 20, uma área de desova de cadáveres, ainda sem identificação oficial das vítimas.
Em entrevista coletiva realizada na última terça-feira, 21, o secretário de Segurança Pública, Ellan Wagner, informou que as forças de segurança traçariam naquele dia, um plano para uma esclarecer o crime. No entanto, até o momento, apenas dois suspeitos de participação na ocultação dos cadáveres seguem presos.
No último domingo, 19, Ellan Wagner revelou durante entrevista ao Programa Agenda da Semana da Rádio Folha , que o estado conta com R$127 milhões no Fundo Estadual de Segurança Pública, aguardando para serem executados. Ainda segundo ele, até 2024 o estado enfrentou atrasos na execução desses recursos, devido a aprovação tardia dos planos pelo Ministério da Justiça.
O que diz o Governo?
O Governo do Estado de Roraima, por meio do Fundo Estadual de Segurança Pública (FESP/RR), reafirma o compromisso com a aplicação dos recursos provenientes do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), que, desde 2019, têm sido destinados à modernização e fortalecimento das instituições de segurança pública do estado.
Entre 2021 e 2024, foram executados R$ 107,3 milhões, alçando Roraima à 11ª posição entre os estados com maior execução de recursos do FNSP, superando unidades como Paraná e Minas Gerais. Esses valores foram aplicados em veículos, armamentos, tecnologia, infraestrutura, equipamentos de proteção, entre outros, impactando diretamente a Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Secretaria de Segurança Pública e Academia de Polícia Integrada.
A execução dos valores seguiu planos de ação aprovados anualmente pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), considerando eixos como o enfrentamento à criminalidade, valorização dos profissionais de segurança e redução de mortes violentas. Apesar de desafios como a pandemia e a revisão de critérios pelo MJSP, os entraves foram superados com flexibilizações normativas e ajustes nos planos, resultando em um aumento de 36,4% na execução em 2024.
Destacamos que o modelo adotado até 2024 – repasse de recursos antes da aprovação dos planos – gerou percepções de atraso. Contudo, a partir de 2025, com a inversão do processo, a execução ocorrerá de forma mais ágil e eficiente.
O Governo de Roraima reafirma seu compromisso com a transparência e eficiência no uso dos recursos, visando modernizar a segurança pública e proporcionar mais tranquilidade à população.
