Atrizes roraimenses comemoram indicação inédita de mulher trans ao Oscar

A FolhaBV conversou com duas atrizes transgênero roraimenses, Lilith Cairú e Sandra dos Santos, para saber como isso reflete em seus trabalhos no extremo norte do Brasil

Curtametragem 'Fuga' foi gravado em Boa Vista e está em processo de finalização (Foto: Fernando Teixeira/Fetec)
Curtametragem 'Fuga' foi gravado em Boa Vista e está em processo de finalização (Foto: Fernando Teixeira/Fetec)

A comunidade transgênero celebra um feito inédito para uma mulher trans em todo o mundo, no mês da visibilidade trans, celebrado anualmente em janeiro com marco no dia 29, a atriz espanhola Karla Sofía Gascón, 52 anos, foi indicada ao Oscar 2025 de melhor atriz. A FolhaBV conversou com duas atrizes transgênero roraimenses, Lilith Cairú e Sandra dos Santos, para saber como isso reflete em seus trabalhos no extremo norte do Brasil.

O Oscar 2025 será realizado no dia 2 de março deste ano. Karla Sofía Gascón (“Emília Perez) disputa a estatueta com Fernanda Torres (“Ainda Estou Aqui”), Demi Moore (“A substância”), Mikey Madison (“Anora”) e Cynthia Erivo (“Wicked”).

Karla Sofía Gascón protagoniza o longa ‘Emília Perez’, indicado ao Oscar 2025 como melhor filma (Foto: Reprodução/Internet/X)

A atriz roraimense Sandra dos Santos, de 45 anos, relata que o reconhecimento veio tardio, pois a comunidade trans já se provou ser competente em diversas áreas, principalmente no cinema. Sandra também celebra a grande participação de artistas LGBTQ+ nas produções audiovisuais roraimenses mas relata que ainda há uma tentativa de podar os comportamentos de artistas transgênero na área.

“Pelo que percebi, há a presença importante de LGBT’s na cultura e no meio artístico roraimense. Porém tenho a impressão que alguns produtores querem ditar as regras de comportamento de LGBT’s, especialmente de pessoas trans. O que já é preconceito descambando para a discriminação. Não podemos moldar as pessoas conforme nossa ótica moral”, desabafa a atriz.

Sandra dos Santos é uma das personagens do curta-docuemental ‘Por todas nós’, do diretor Tallon Almeida (Foto: Reprodução)

Outra atriz transgênero roraimense que também celebra o feito, é Lilith Cairú, 26 anos, que protagoniza o curta-metragem ‘Fuga’, de Aldenor Pimentel. A jovem também tem a esperança de que o marco não seja o único para uma pessoa transgênero dentro da premiação e espera que nos próximos anos tenham mais pessoas trans indicadas.

“Eu fiquei feliz. Pensei: uau, estamos chegando lá, estamos sendo reconhecidas e reconhecidos pelo nosso trabalho. Por outro lado o filme tem repercutido muito mal, com diversas polêmicas xenofóbicas, e isso, querendo ou não, acaba reverberando em quem está sendo indicada, vamos ver como vai ser quando o filme chegar o Brasil”, relatou Lilith.

Lilith interpreta Duda no curta-metragem ‘Fuga’, de Aldenor Pimentel (Foto: Arquivo Semuc)

Questionada sobre o cenário roraimense das produções audiovisuais, a atriz comenta sobre a escassez de pressoas transgênero nas produções.

“Mesmo com o cenário ganhando força, não é sempre que irão incluir uma pessoa trans nas produções. Em partes também acredito que falta cursos para formar nós trans cineastas também”, ressaltou Lilith.

Mês da visibilidades trans

No dia 29 de janeiro de 2004, foi organizado, em Brasília, um ato nacional para o lançamento da campanha “Travesti e Respeito”. O ato foi um marco na história do movimento contra a transfobia e na luta por direitos e a data foi escolhida como o Dia Nacional da Visibilidade Trans.

Para celebrar e reafirmar a importância da luta pela garantia dos direitos das pessoas trans foi definido que o mês de janeiro seria inteiro dedicado à visibilidade dos transexuais. Intitulada como Janeiro Lilás, a iniciativa busca a sensibilização da sociedade por mais conhecimento e reconhecimento das identidades de gênero, com o intuito de combater os estigmas e a violência sofridos pela população transexual e travesti.