Por volta das 7h da manhã de sábado, 5, uma pessoa encontrou o corpo do jovem José Batista de Lima Filho, de 23 anos, às margens da BR-210, cerca de dois quilômetros da entrada da sede do município de Caroebe, na região Sul do Estado. De acordo com as informações, a vítima fazia uma caminhada quando foi atropelada por uma caminhonete e morreu sem receber o devido socorro.
A reportagem conversou com os familiares de José e eles contaram que o rapaz costumava fazer caminhada nos fins de tarde, sempre pela rodovia, mas na tarde de sexta-feira, 4, algo de estranho ocorreu, uma vez que ele saiu para caminhar e não retornou mais. Segundo uma sobrinha, ele teria feito postagens de fotos no status do aplicativo WhatsApp, até às 17h56 daquele dia e, depois disso, desapareceu, não respondendo às mensagens nem atendendo aos telefonemas.
Preocupados, amigos e familiares iniciaram as buscas ainda à noite, mas não encontraram qualquer vestígio do rapaz nem mesmo do acidente, principalmente por ser um local escuro. “Ele não era de sair sem dizer para onde iria, sem comunicar sequer para um amigo. Além disso, onde quer que estivesse, sempre estava conversando com a gente pelo celular”, explicou a sobrinha.
Sem saber a quem recorrer, os familiares fizeram uma nota de desaparecimento, na qual pediam que, se alguém tivesse informações sobre o paradeiro do jovem, deveria entrar em contato. Por volta das 7h, a família recebeu um telefonema, informando que o corpo de José tinha sido encontrado. Mesmo em choque, a sobrinha e uma amiga da vítima foram ao local e se depararam com o cadáver, com fraturas aparentes.
O corpo estava no meio do mato, cerca de dez metros de distância da estrada, quase escondido, abaixo da ribanceira. A partir daí, os familiares disseram que travaram uma luta contra o tempo para coletar informações, a fim de que o autor do crime fosse flagrado antes das 24h pós-atropelamento. Durante as buscas, os parentes de José foram ao posto de combustível, que fica na entrada do município, e pediram para ver as imagens das câmeras de segurança.
Vídeo e testemunhas podem esclarecer o caso
Vídeo das câmeras do posto de combustíveis mostra o carro com a frente danificada (Foto: Divulgação)
O vídeo, ao qual a família teve acesso, mostra o momento em que uma picape, modelo Toyota/Hilux, cor prata, passa pelo posto com a frente destruída, inclusive, no local onde o corpo foi achado, havia um pedaço do para-choque dianteiro do carro, no asfalto. Quem teve acesso ao vídeo garantiu que o veículo é do pai do prefeito de Caroebe.
Além disso, a família detalhou que, no mesmo sábado, uma série de testemunhas apareceram para confirmar que viram o momento em que o idoso dirigia o carro passando pelo posto, subindo a calçada. Uma das testemunhas disse que viu o momento em que o suspeito saía de dentro do mato e entrava no carro, mas como não sabia do que se tratava, não foi averiguar.
Por fim, o caso foi levado ao conhecimento da Polícia Militar que confirmou para a reportagem da Folha o atropelamento, mas não confirmou a identidade do condutor do veículo, afirmando apenas que os indícios apontam que o pai do prefeito seria o motorista do carro envolvido no fato, mas somente uma investigação provaria quem estava dirigindo o automóvel.
A Perícia e o rabecão do IML (Instituto de Medicina Legal) chegaram a Caroebe no fim do sábado e após os trabalhos trouxeram o corpo para Boa Vista. Na manhã de ontem, 6, a necropsia foi realizada, bem como o exame de comprovação da identidade da vítima. Ao fim do procedimento, o corpo foi liberado e transportado ao Sul do Estado para funeral e sepultamento.
“A perita disse que José foi atropelado na hora que tirava a foto, por isso, um dos braços está quebrado, virado para trás. Uma perna dele também estava quebrada e tinha os ossos da cabeça quebrados. Mas a perita também disse que se ele tivesse sido socorrido, poderia ter sobrevivido. Nós descobrimos que depois de atropelar, o pai do prefeito retornou ao local do acidente, em outro carro, para jogar o corpo mais para dentro do mato. Tentando ocultar o cadáver. Nós queremos justiça e vamos até o fim”, informou um parente.
Enquanto aguardavam a liberação do corpo, no IML, uma irmã de José Filho ficou perplexa ao conversar com um médico-legista ao fim do exame de necropsia. Ela afirmou que o legista teria dito que o atropelamento foi proposital, considerando todas as circunstâncias da colisão e sinais no corpo da vítima, causando ainda mais revolta à família.
“Daremos um funeral e um enterro dignos ao meu irmão, porque ele foi atropelado e largado no meio do mato sem qualquer socorro. Se não queria socorrer, devia pelo menos ligar para alguém. Meu irmão morreu à míngua. Ele não era um animal”, concluiu.
Prefeito de Caroebe disse que ainda não conversou com o pai
Na manhã de ontem, 6, a Folha conseguiu conversar com o prefeito de Caroebe, Argilson Martins (PSDB), e ele respondeu que havia chegado de viagem por volta das 23h de sexta-feira, 4, foi direto para sua propriedade, que fica na zona rural do município e quando retornou para a sede, na tarde de sábado, 5, soube da morte de José Filho.
Quando questionado se ele tinha conhecimento de que o seu pai era o suspeito do atropelamento, disse que ouviu muitos comentários, mas não tinha conseguido conversar com o idoso até a manhã de ontem para obter informações precisas, porque o telefone está fora de área e a ligação não completa.
Argilson também explicou que, se porventura, fique confirmado o envolvimento do pai no atropelamento, auxiliaria no caso, inclusive acompanharia o próprio pai até a delegacia para prestar esclarecimentos. Além disso, o prefeito também disse que vai orientar o pai a contribuir com as investigações da polícia e com a Justiça para qualquer esclarecimento.
Por fim, Argilson contou que o município tem um convênio com uma funerária e autorizou que todo o procedimento de serviço funerário fosse realizado. Ele se solidarizou com a perda do jovem e reforçou que, na manhã desta segunda-feira, 7, teria uma posição concreta sobre o caso e pediu que a reportagem entrasse em contato novamente.
O caso será investigado pela delegacia de São João da Baliza, a fim de que seja elucidado. Até o fim da tarde de ontem, nenhum suspeito do atropelamento foi preso ou apresentado à polícia. (J.B)