OPINIÃO

Donald Trump na presidência dos EUA: impacto global e oportunidades para o Brasil e a Amazônia

Marcellus Campêlo

A posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos marca uma nova fase na política mundial, despertando diversas reações e expectativas ao redor do globo. No Brasil, em particular, a ascensão de Trump é recebida com entusiasmo por setores da direita, que enxergam na sua liderança uma oportunidade de estreitar laços comerciais e políticos, promovendo uma agenda de cooperação voltada ao crescimento econômico e ao fortalecimento de valores conservadores. O Amazonas e a Amazônia, regiões de enorme importância estratégica e ambiental, podem se beneficiar dessa nova dinâmica global, desde que os interesses nacionais sejam defendidos com inteligência e pragmatismo. Trump ainda não falou sobre o tema diretamente, mas um diálogo pode ser construído nesse sentido.

Trump assume o cargo em um contexto de grande polarização, tanto nos Estados Unidos quanto em outros países. Suas ideias e estilo de governar geram debates acalorados e, inevitavelmente, polêmicas e preocupações. É o caso, por exemplo, de algumas medidas anunciadas logo na sua posse, como a retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial de Saúde (OMS), por considerar injusto os recursos que o país destina à entidade, e a saída do Acordo de Paris. O acordo, assinado em 2015 pelos países signatários da Organização das Nações Unidas (ONU), propõe medidas para redução da emissão de gases de efeito estufa.

Espera-se, no entanto, que essas controvérsias percam fôlego à medida em que o seu governo avance, com posições que possam ser reconsideradas e que não comprometam as relações institucionais entre os países. No caso do Brasil, a solidez da relação com os EUA deve ser construída com base em interesses mútuos, que vão desde a cooperação econômica até a preservação ambiental, porque ambos investem, por exemplo, em energia eólica e solar, passando por áreas como segurança, tecnologia e desenvolvimento sustentável.

A Amazônia, reconhecida mundialmente como um dos maiores patrimônios ambientais do planeta, é um tema de interesse estratégico para a comunidade internacional, e isso, obviamente, não será ignorado pelo novo presidente. Os Estados Unidos, sendo uma das maiores potências globais, podem desempenhar um papel fundamental no apoio a iniciativas que conciliem desenvolvimento e conservação. Parcerias em ciência, tecnologia e inovação são essenciais para garantir que o Brasil possa preservar sua soberania sobre a floresta, ao mesmo tempo em que aproveita seu potencial de maneira sustentável, por meio de atividades como a bioeconomia, turismo ecológico e uso responsável dos recursos naturais.

Além disso, há um grande potencial para que o Amazonas se beneficie de investimentos norte-americanos em infraestrutura e logística, setores que são cruciais para a integração da região ao mercado global. Melhorias em portos, rodovias e sistemas de transporte podem impulsionar a exportação de produtos regionais, como os derivados da biodiversidade amazônica, que têm grande apelo em mercados exigentes como o dos EUA. Dessa forma, a aproximação com a nova administração norte-americana pode trazer benefícios diretos para o desenvolvimento regional, promovendo oportunidades de emprego e geração de renda para a população local.

Outro ponto relevante é a colaboração em segurança e combate ao crime ambiental. Os Estados Unidos possuem uma expertise consolidada no monitoramento e controle de ilícitos ambientais, e o Brasil pode se beneficiar de cooperação técnica e compartilhamento de informações para combater o desmatamento ilegal, o tráfico de fauna e outros crimes que ameaçam a integridade da floresta. É fundamental que o governo brasileiro conduza essas negociações com diplomacia, garantindo que a ajuda internacional não comprometa nossa autonomia sobre o território amazônico.

É importante que as relações entre Brasil e EUA sejam pautadas pelo respeito mútuo e pela manutenção da paz global. Os Estados Unidos, como protagonistas na geopolítica mundial, têm a responsabilidade de promover o diálogo e a cooperação internacional, evitando posturas unilaterais que possam gerar conflitos ou instabilidades. O Brasil, por sua vez, deve buscar atuar como um parceiro estratégico, propondo soluções que sejam vantajosas para ambas as partes e que respeitem os princípios da soberania nacional e do desenvolvimento sustentável.

É inegável que a presidência de Trump trará desafios, mas também oportunidades. Sua visão econômica baseada na valorização da produção nacional e no estímulo aos investimentos privados pode abrir portas para empresas brasileiras, especialmente aquelas voltadas ao agronegócio, energia e tecnologia. Cabe ao Brasil posicionar-se estrategicamente, aproveitando as oportunidades de negócios sem abrir mão de seus interesses estratégicos, especialmente no que diz respeito à preservação ambiental e à inclusão social.

Ao desejar sucesso à nova administração norte-americana, o Brasil reforça seu compromisso com a cooperação internacional e com a construção de um mundo mais justo e equilibrado. Que as diferenças políticas sejam tratadas com maturidade, sem comprometer os avanços conquistados e o espírito de parceria que sempre marcou as relações entre os dois países. Mais do que nunca, o mundo precisa de união, diálogo e paz para enfrentar os desafios que se apresentam, e os Estados Unidos, como potência global, têm o dever de liderar esse processo com responsabilidade.

Que a posse de Donald Trump represente uma nova era de prosperidade, cooperação e desenvolvimento, onde o Brasil, o Amazonas e a Amazônia possam se beneficiar de parcerias produtivas e de um olhar voltado ao futuro.

Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em Saneamento Básico e em Governança e Inovação Pública; exerce, atualmente, os cargos de secretário de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – Sedurb e da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE