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“Nunca encontrei mulher de quem quisesse ter filhos, a não ser esta que amo. Eu te amo, eternidade”. (Nietzsche)
Que as coisas estão mudando, não há dúvida. As mudanças nunca deixarão de existir. O problema é que, enquanto não nos atentarmos para nossa caminhada lenta na marcha do progresso, continuaremos sofrendo em vez de viver. Lamento iniciar nosso papo com um assunto nada agradável, mas só estou lembrando que os males de hoje vêm nos atingindo há séculos e séculos. São sempre os mesmos.
Em 1955, eu morava em São Miguel Paulista, em São Paulo. Certo dia, meu vizinho chegou para o almoço e mandou seu filhinho, um garoto de doze ou treze anos, comprar um maço de cigarros na bodega da esquina. Quando o garoto chegou à esquina, foi atingido por uma bala considerada perdida. O garoto morreu ali mesmo. E isso foi há mais de setenta anos, o que indica que a coisa vem de muito longe.
Não há novidades. Tudo faz parte do embrulho da eternidade. O que não indica que devemos levar numa boa por não ser novidade; indica que devemos acordar e ser mais atuantes para melhorar, mudando o comportamento humano na educação.
Alguns anos depois do triste caso do garoto, eu ainda morava na mesma rua, em São Miguel Paulista. Em frente à minha casa, tínhamos uma delegacia de polícia, onde hoje é um centro de saúde. À época, sofríamos muito com a malandragem do golpe do vigário. Era quando éramos assaltados com frequência, numa modalidade por vezes divertida. Acho que era por isso que o “assaltante” era conhecido como vigário. Sei lá.
Observei que, todos os dias, chegavam pessoas à delegacia denunciando o engodo do vigário. O delegado mandava a pessoa sentar-se e esperar, dizendo que iria mandar alguém procurar o vigarista. Só que ele não tomava providência nenhuma. Só quando a pessoa se sentia cansada de esperar é que ele a liberava, prometendo o que nunca fez.
Comecei a observar o comportamento do delegado, com quem eu sempre batia um papo legal. Certo dia, conversando com ele, tomei coragem e falei sobre minha admiração pelo seu comportamento em não prender o vigarista. Ele esboçou um sorriso sincero, falou brevemente sobre sua decisão e disse:
— Afonso… se não existisse otário, não existiria vigarista.
Como vemos, a coisa continua hoje como era há décadas e décadas. Nada muda. O que muda são os cenários onde elas são apresentadas. Os atores-autores são os mesmos. E, pelo que vemos, os espectadores também.
Nas apresentações de políticos eleitos para cargos importantíssimos, fala-se de tudo, menos de educação, que é o esteio, o timão do nosso desenvolvimento. Pense nisso.
99121-1460