Com informações de NADJA BASTOS
A questão do controle sanitário foi mais uma vez um dos focos da visita da comitiva interministerial ontem, 18, a Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Para o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, somente com a conscientização da população brasileira será possível impedir novos surtos de doença.
Ele afirma que não se pode esperar que os venezuelanos estejam com a saúde em dia, considerando o estado de crise humanitária, político e social vivido no país vizinho. Portanto, é essencial que os brasileiros estejam atentos com a vacinação e as medidas de prevenção para combater a proliferação de novas endemias como a difteria, varicela e as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), em especial, aquelas que estão ausentes há anos do País, acredita Mandetta.
“A difteria é uma doença de uma letalidade muito grande e nós estamos aumentando o bloqueio em Roraima, fazendo cidade por cidade e alertando as pessoas para que coloquem a sua carteira de vacinação em dia”, explicou o ministro. “Precisamos ter a nossa população consciente, para impedir novos surtos de epidemia”.
O ministro afirmou ainda que houve um surto de varicela dentro dos abrigos, que não prosperou porque havia certo grau de vacinação.
“Acho que o Brasil precisa fazer o seu ‘dever de casa’ e não pode perder o status de área livre de sarampo. Se isso ocorrer é ruim para os negócios, para o turismo. As pessoas não podem sair sem estar vacinadas. Se cada um fizer a sua parte, a gente pode contornar o problema”, ressaltou Mandetta.
Ministro da Saúde avalia HGR como um ‘hospital maltratado’
Durante a estada em Boa Vista, o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta realizou uma visita surpresa ao Hospital Geral de Roraima (HGR). A análise da unidade ocorreu fora da programação, de forma inesperada, por volta das 22h30 da noite de quinta-feira, 17.
A informação é que o ministro percorreu toda a unidade, onde conversou com funcionários e pacientes para saber das dificuldades no Hospital Geral. No outro dia, em Pacaraima, o ministro explicou que procura sempre fazer algumas visitas não comunicadas às unidades hospitalares durante as viagens ministeriais, para que possa ver a realidade “como ela é”.
“E realmente foi visto um hospital muito frágil, muito maltratado, tudo muito improvisado. Uma equipe com muita garra, querendo fazer, mas o ambiente de muito descuido, provavelmente o tempo traz isso”, avaliou.
VISITA – A comissão da gestão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) continuou a sua programação de visita ao Estado e viajou ontem para Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Durante toda a manhã, a comitiva inspecionou o Posto de Triagem e frisou a importância de manter a população vacinada para evitar surto de doenças.
Compuseram a equipe os ministros da Defesa, Saúde, Educação, Cidadania, Controladoria-Geral da União, representantes da Secretaria Nacional de Justiça e da Secretaria de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura.
Sobre a visita a Pacaraima, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, afirmou que se demonstrou o andamento positivo das atividades da Operação Acolhida em todo o Estado e que as ações estão correndo “perfeitamente, tanto em Boa Vista quanto em Pacaraima”.
Governo avalia visita de comitiva interministerial
O governador Antonio Denarium (PSL) fez um balanço positivo da visita interministerial a Roraima e declarou que a vinda da equipe demonstra a preocupação do governo federal com a situação distinta vivida pelo Estado.
Com relação à reunião promovida na quinta com toda a equipe dos ministérios, da qual participaram todos os deputados estaduais, federais, senadores e prefeitos da capital e do interior, além de secretários estaduais, o governador informou que discutiu educação, segurança pública e a regularização fundiária.
“O governo federal está muito sensível com a crise que nós estamos passando, tanto da questão migratória, quanto no quesito da calamidade financeira. Roraima ainda precisa de auxilio do governo federal para atender a necessidade do Estado, na folha de pagamento, investimento e custeio”, declarou.
Sobre a prorrogação da Operação Acolhida, ressaltou que a continuidade das atividades também foi um pedido do Poder Executivo aos ministros e ao próprio presidente Jair Bolsonaro, por se lembrar da situação em que se encontrava o Estado antes da entrada do Exército Brasileiro e por entender a importância de realizar um bom acolhimento dos venezuelanos que estão no Brasil com vacinas, documentação e processo de interiorização, além de ofertas de empregos e vagas nas escolas.
“As pessoas estavam nas ruas, nas praças. Com invasão de prédios abandonados, de casas. Estava muito ruim. Os venezuelanos não tinham como manter as mínimas condições de higiene e de habitação. Com a Operação Acolhida, eles estão sendo atendidos, indo para abrigos e para outros Estados no processo de interiorização”, avaliou Denarium.
Com relação ao não reconhecimento de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela, Denarium ressaltou que este é um assunto delicado, já que Roraima é o Estado que está na fronteira e precisa ter um bom relacionamento com o governo venezuelano.
“Nós tratamos da migração, nós não tratamos de questões políticas. Estamos focados na crise humanitária que o país está vivendo e temos que ser sensíveis a essa situação. Focamos nos problemas do Estado e nos impactos financeiros em Roraima”, completou.
Organizações de Direitos Humanos afirmam que vão manter cobranças
Em resposta ao anúncio de continuidade da Operação Acolhida e suas ações humanitárias, a organização Conectas Direitos Humanos emitiu nota ressaltando que manterá as cobranças aos gestores para evitar qualquer desvio futuro e que as novas medidas sejam amplamente discutidas com as entidades como o Ministério Público, Defensoria Pública, agências da Organização das Nações Unidas e outras ONGs.
No texto, a coordenadora do programa, Camila Asano, citou o artigo do presidente Bolsonaro publicado no jornal Folha de Boa Vista, em que ele indica três eixos de estratégia para a questão, no caso, do acolhimento em cidades roraimenses, fortalecimento das capacidades de registro e imunização na fronteira e a interiorização.
“O compromisso foi assumido, mas a forma como será implementado precisa ser detalhada e desenhada com a mesma lógica humanitária que temos visto. Por exemplo, é sabido que a emissão de documentos e certidões está comprometida na Venezuela por causa da crise. Aumentar as exigências documentais na fronteira evidentemente não é uma ação de cunho humanitário”, avaliou Camila.
No caso da interiorização, a Conectas acredita que o programa deve, sim, ser reforçado, mas preservando seu caráter voluntário e informativo. (P.C.)