Cotidiano

Roraimense dá curso gratuito de açougueiro e forma 12ª turma

Professor visa melhorar mão de obra na área e já formou mais de dez turmas sem cobrar nada dos alunos; turmas têm pessoas de diversas nacionalidades

Quatro anos atrás, Manuel Alves tomou uma decisão: iria ministrar gratuitamente cursos sobre açougue e dar oportunidade para pessoas que estavam desempregadas ou que desejavam aprender mais sobre a área. Hoje, a 12ª turma está sendo formada com 45 alunos especializados em cortes de carnes e atendimento ao público.

A ideia surgiu após perceber a falta de mão de obra qualificada no mercado de trabalho roraimense, o que resultava em um serviço precário para a população.

“Alguns bebiam muito e não queriam trabalhar no outro dia e eu via que não deveria ser assim. Montamos a escola e todos viraram meus alunos”, relembrou o professor. Logo após a primeira turma, a procura pelo curso se tornou maior e possibilitou que mais açougueiros fossem rapidamente empregados.

Sem qualquer custo para os alunos, o curso se tornou referência para os empresários de frigoríficos e também de supermercados, que permitiram visitações e aulas práticas nos estabelecimentos. E os discentes viram a possibilidade de saírem de dificuldades econômicas e sociais, com alguns vencendo a dependência química.

As aulas são ministradas na Igreja Videira, no bairro Asa Branca, e o professor custeia a energia do local, durante um mês das aulas que acontecem com duas horas de teoria e quatro horas de prática.

“Todos os supermercados de Roraima hoje têm um aluno meu. Enquanto eu tiver vida, vou continuar fazendo isso, sem cobrar ninguém. A ideia não é cobrar, é formar”, revelou.

Entre o que se aprende no curso estão o conhecimento mais amplo no corte das carnes e a melhoria no atendimento ao cliente que, de acordo com o professor, já é possível perceber em todos os mercados em que seus alunos trabalham. Atualmente, a nova turma é composta pela diversidade de nacionalidades, com brasileiros, venezuelanos e cubanos estudando juntos.

FORMATURA – A 12ª turma receberá o certificado na próxima quarta-feira, 23, ao mesmo tempo em que acontece o 1º Congresso de Carnes e Açougues no Estado. O evento tem previsão para início às 18h e acontece na Rua Francisco Custódio de Andrade, no Asa Branca. Especialistas no assunto dentro e fora de Roraima serão os palestrantes.

“A gratidão deles por eu ministrar o curso me deixa muito satisfeito e é uma coisa a mais para não parar”, completou o professor.

A próxima turma será formada logo após o evento e o professor irá fazer a seleção através do Facebook. Por isso, pede para que fiquem atentos porque a demanda é grande e as vagas tendem a ser preenchidas rapidamente.

Alunos relatam mudança de comportamento após formação

A oportunidade de mudar de vida fez com que o aluno Sidney Silva procurasse o professor durante dois anos para conseguir fazer parte do curso de açougue. Na época, o estudante estava desempregado e vivia de bicos até que conseguiu encontrar o mestre e ganhar uma vaga.

“Eu via que a possibilidade de conseguir um emprego era bem mais rápida e foi isso mesmo que aconteceu. Ao término do curso, eu já tive minha carteira assinada”, disse.

Silva destacou que a área de açougue é extensa e gera conhecimento diariamente ao descobrir um novo jeito de realizar corte e tratamento das carnes. Para ele, o principal que vai levar do curso é a sede pelo conhecimento e ficar cada vez mais especializado.

“Quando estamos fazendo o atendimento, fico tentando me lembrar das coisas que aprendi e sempre tento colocar em prática”, destacou.

Já o formando José Martiano precisou mudar o comportamento ao perceber que atender bem o cliente também era parte da experiência profissional. Aprender diariamente mais sobre a área também é um dos motivos que incentiva o novo profissional a continuar estudando sobre o tema, mesmo que já esteja fora do horário de aula.

“Eu tenho aprendido muito. Todo dia é algo diferente na exposição das carnes e ele [professor] nos mostra como faz. Superar o mestre, eu acho difícil, mas quem sabe… Ainda tem muito preconceito sobre a profissão, mas as pessoas precisam entender que precisa ser mais valorizada no mercado de trabalho”, enfatizou.

Com o filho e a sobrinha, Jerci do Carmo entrou no curso para incentivar os jovens e encontrou uma especialização que gostou de ter conhecido. Antes, trabalhava como fiscal de caixa e enxerga o curso como positivo por dar oportunidade para pessoas que estão desempregadas. (A.P.L)