AFONSO RODRIGUES

Caminhada Homérica

“O único meio de se descobrir os limites do possível é ir além dele, alcançando o impossível”. (Arthur Clarke)

Certo dia ele resolveu deixar o Rio de Janeiro, onde sua vida estava metade fora do equilíbrio. Tudo lhe parecia difícil, inclusive a ausência da família que havia mudado para Roraima. Finalmente decidiu e pôs os pés na estrada. A falta de recursos era enorme e as dificuldades mais ainda. Mas mesmo assim ele encarou os trancos e barrancos e foi em frente. Não há como, nem espaço para falar do que aquele cara viveu durante a caminha pelos brasis do Brasil. História que só ele mesmo pode falar com precisão. E para não causar preocupações, nunca comunicou à família, sua decisão, e continuou de pé no chão, marchando pelos caminhos áridos das dificuldades. Um exemplo de como podemos fazer o que devemos fazer, quando decidimos fazer. O importante é que façamos sempre o que fazemos, da melhor maneira que pudermos fazer, independentemente das dificuldades que podem dificultar mais, quando não somos capazes de encará-las com personalidade e coragem.

Estávamos no ano de 1982, quando o jovem chegou, finalmente, à rodoviária de Boa Vista. Desceu do ônibus, sem a menor noção de onde estava. Dirigiu-se a alguém e perguntou com coragem e determinação:

– Que caminho devo tomar para chegar à Confiança I?

E alguém apontou e falou:

– É só ir em frente, atravessar a ponte e seguir em frente.

Foi exatamente o que o jovem de 23 anos de idade, paulistano e sem experiencias de caminhadas, fez. Aprumou a mochila nas costas e iniciou a tarefa, na caminhada que ele não tinha a menor noção da dimensão da estrada. E foi assim que ele conseguiu chegar à Confiança I, numa caminhada a pés, sem a mínima noção do que estava fazendo. Mas em momento nenhum baixou a cabeça nem recorreu. Simplesmente olhou para afrente e seguiu em frente. Foi quando já no final daquela tarde, Alexandre e eu, estávamos sentados sobre uma árvore caída, quando olhei para a estrada e falei chocado pela surpresa:

– Alexandre… aquele cara que vem ali é o Homero!

– Será, pai? É mesmo!!

Alegres e emocionados, corremos para abraçar meu filho Homero Rodrigues de Oliveira, o aventureiro que fez, naquele dia, uma caminhada a pés, de 45 quilômetros, da rodoviária de Ba Vista até a Confiança I, no Cantá. O Homero, hoje, é oficial aposentado da PM de Roraima. Ontem vivi uma tarde feliz, relembrando, em sua casa, todos esses trancos, em conversas agradáveis e sadias. Amo minha família porque tenho orgulho de todo o conjunto formado por pessoas aderidas e que me orgulham a ponto de me fazerem muito feliz. Pense nisso.

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