A BR-319, que liga o Amazonas ao Estado de Rondônia, foi reaberta em 2015 e, desde então, o fluxo de veículos foi retomado na rodovia que tem 886 quilômetros. No período de inverno, quando as chuvas se intensificam na Amazônia, as condições da estrada tornam-se precárias, especialmente porque pelo menos 500 quilômetros são de terra batida, dificultando o transporte de cargas para Roraima.
A alternativa que resta é embarcar os veículos em balsas que navegam até Manaus, tornando os custos da viagem mais altos e comprometendo a qualidade de alguns produtos por causa dos muitos dias para chegar ao destino final. Entre os responsáveis pelo transporte de frutas e legumes para Roraima, está o empresário Renê Paludo que relatou as dificuldades de não ter uma rodovia com boa trafegabilidade. As consequências são fretes mais caros e produtos com preços abusivos nos supermercados.
“Fica mais caro porque os custos da balsa são altos e por causa da demora. No verão, as carretas demoram em torno de sete dias para fazer a viagem do Sudeste para Boa Vista, pela estrada. No período das chuvas, são 14 dias. É o dobro. Nós pagamos R$ 8 mil de balsa para ir e voltar. Demora muito e paga o dobro, são dois pontos negativos”, justificou o empresário.
Por outro lado, Paludo acredita que se a BR-319 ficar pronta nos próximos anos, haverá produtos de melhor qualidade e menor custo.
“Mas é muito pouco provável que ela fique pronta em pouco tempo. A maioria das pontes é de madeira, exigem muita manutenção. O trabalho que fizeram lá, foi miserável. Fizeram apenas uma raspagem de patrola. Se ela estiver em condições de rodar, fica tudo bem. O problema é que eles deixam acabar para fazer alguma coisa”, reclamou.
Por fim, o empresário fez uma observação pessoal e disse que “todo mundo sabe que a BR não é interesse dos grandes políticos do Amazonas porque eles têm participação nos lucros das balsas”, concluiu.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas do Estado de Roraima (Setcerr), ValcirPeccini, explicou que todo o transporte fica impossibilitado de transitar pela rodovia durante as chuvas.
“O nosso transporte é de São Paulo para Boa Vista. Quando começam as chuvas em dezembro, a gente para de vir pela estrada. Nós paramos dia 5 de dezembro, quando aumentaram as chuvas. Em época de seca, conseguimos entregar a carga do cliente em até 10 dias. Em período de chuvas, demoramos de 15 a 20 dias. De balsa, são 35 dias. O prejuízo para todos é o tempo”, enfatizou.
Peccini acrescentou que a estrada é indispensável para o Estado. “Roraima necessita dessa estrada para que as coisas comecem a chegar mais rápido e com mais facilidade. Precisamos disso, já está tarde, os governos deveriam ter concluído esse trecho de reforma. O que mais impede a construção da estrada são as ONGs [organizações não governamentais] e o pessoal do meio ambiente que não quer o desenvolvimento para a nossa região”, argumentou.
No inverno, quando chuvas se intensificam na Amazônia, condições da estrada tornam-se precárias (Foto: Divulgação)
O trecho mais crítico compreende os 400 quilômetros que vão do rio Igapó-Açu, quase 200 quilômetros distante do município do Careiro Castanho, até o Distrito de Realidade, pouco mais de 100 quilômetros da cidade de Humaitá. No trecho próximo a Humaitá, fica o entroncamento da BR-319 com a Transamazônica. Quem vai de Manaus em direção a Porto Velho, consegue transitar 150 quilômetros com a estrada asfaltada. De Porto Velho para Manaus, são 230 quilômetros de asfalto.
Quem tem necessidade de trafegar pela rodovia precisa adotar alguns cuidados nas áreas de atoleiro e, como o percurso é longo, a orientação de outros motoristas é de que o veículo esteja abastecido com água potável e comida.
HISTÓRICO – Em 1976, a BR foi concluída e asfaltada em meio à mata fechada pelo Exército Brasileiro, mas, cerca de 11 anos depois, tornou-se intransitável devido à falta de manutenção. Em março deste ano, a rodovia federal vai completar 43 anos. A construção da estrada iniciou-se em 1968.
IBAMA – O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis informou que aguarda o envio dos estudos ambientais que devem ser feitos pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para dar continuidade ao processo de licenciamento. “A rodovia está liberada para uso e possui licença de manutenção do leito natural válida”, disse a nota.
DNIT – O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes não deu resposta aos questionamentos feitos pela Folha.
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