Cotidiano

Familiares de pacientes cobram volta de cirurgias eletivas

Procedimentos ortopédicos e neurológicos ainda não foram retomados após desinterdição de cirurgias no começo do mês; alguns pacientes já aguardam há sete meses

Sem previsão para a realização de cirurgias ortopédicas e neurológicas, familiares de pacientes internados no Hospital Geral de Roraima (HGR) fizeram uma manifestação na manhã de ontem, 28, cobrando ações urgentes da Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) para a retomada dos procedimentos.

As cirurgias eletivas foram suspensas em 1º de novembro do ano passado, após uma fiscalização do Conselho Regional de Medicina de Roraima (CRM-RR) e a constatação do desabastecimento completo de material básico para cirurgias e tratamentos. Dois meses depois, o órgão autorizou a retomada dos procedimentos ao afirmar que já haveria o mínimo de condições para serem feitas as cirurgias eletivas.

Contudo, os manifestantes garantem que o problema da falta de material não foi resolvido e que muitos não têm respostas sobre quando as cirurgias podem ser feitas. A autônoma Solange Sousa disse que não sabe quanto já gastou para comprar insumos básicos para a filha Karem Sousa, de 21 anos, que espera há mais de um mês por uma cirurgia no fêmur.

“Eu já andei em todas as diretorias do hospital, fui à ouvidoria também, mas a única coisa que eles falam é que tem que aguardar. Dizem que já foi solicitado o pedido do material e que tem que esperar”, criticou. Solange reclamou que mesmo com a desinterdição das cirurgias, não houve melhora em relação aos materiais e medicamentos.

“Cadê esse material que eles dizem que chegou? Tem gente que tá há muito tempo esperando a cirurgia. Só falaram que estavam fazendo as cirurgias mais simples e quando esses materiais chegassem, iam começar a fazer os procedimentos. Só queremos que eles deem uma coisa concreta, que diga em qual dia vai chegar e por quanto tempo vamos ficar aguardando”, enfatizou a manifestante.

A demora em realizar procedimento cirúrgico, em alguns casos, chega a quase sete meses. “Meu marido está há 11 dias tentando fazer uma biópsia, mas tem pacientes aqui que estão há bem mais tempo na fila de espera, só que eles não tem nenhum prazo de quando vão resolver. Isso é revoltante, pois estão brincando com vidas”, comentou Ana Karla Pereira.

ESPERA – Enquanto a mãe protestava pela realização da cirurgia da filha, a auxiliar de cadastros Karem Sousa lamentava os incômodos com a longa espera. Após um acidente de moto, a jovem quebrou o fêmur e até o momento aguarda o procedimento para retornar à vida fora da cama do hospital.

Karem relatou que após ter dado entra da no dia 21 de dezembro no HGR, ficou cinco dias com a mesma tala colocada pelo Corpo de Bombeiros nos primeiros socorros, porque não tinha material para a troca do curativo. “Quando foram trocar, depois de dias, a gente descobriu um buraco na minha coxa causado pelo osso. Eu tive uma fratura exposta e não sabia”, relatou.

A jovem disse que a família está custeando a compra de remédios e até de algodão porque escutam dos profissionais de saúde que a única coisa disponível na unidade é dipirona. Ela lamentou pela situação e se preocupa com o emprego e a saúde enquanto não consegue se submeter à cirurgia.

“Eu tinha uma vida lá fora [do hospital]. Trabalhava e corria atrás das coisas para não depender de ninguém. Agora, eu tenho que ficar tirando minha mãe do trabalho dela porque preciso de ajuda para tomar banho, para fazer minhas necessidades… para tudo dependo dos outros. Isso é difícil porque ela tem que fazer as coisas dela lá fora”, lamentou.

Sesau afirma que compra de material está em processo de urgência

Por meio de nota, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) informou que já está em andamento um processo emergencial de compra de material para realização de cirurgias ortopédicas e neurológicas, e que a equipe técnica da Coordenadoria Geral de Urgência e Emergência (CGUE) está trabalhando para que a aquisição e a entrega desses itens sejam feitas o mais breve possível.

“Esse processo se tornou necessário, pois a atual gestão, ao assumir a pasta, encontrou apenas um processo em tramitação para a compra desses itens, que inclusive já estavam em falta no Hospital Geral de Roraima”, prosseguiu a nota.

A Sesau enfatizou que essa foi a forma mais rápida para buscar uma solução para o problema, enquanto é dado andamento ao processo anual de aquisição desse tipo de material. “O processo anual de compra de material para cirurgias ortopédicas foi finalizado pela CGUE e está sendo analisado pela equipe médica do HGR. Sendo aprovado, segue os demais trâmites para licitação”, concluiu.

CRM – O Conselho Regional de Medicina de Roraima informou também por nota que, em compromisso firmado pelo atual secretário estadual de Saúde, Ailton Wanderley, e pela promotora de Saúde, Jeanne Sampaio, além de fiscalizações realizadas e decisão do plenário, desinterditou as cirurgias eletivas do HGR e Hospital Materno-Infantil Nossa Senhora de Nazareth [HMINSN], no dia 5 de janeiro. Entretanto, o CRM deixou claro que continuaria fiscalizando as condições de trabalho. 

A Resolução CFM nº 2062/2013 que trata de interdições deixa um prazo de até 30 dias para que haja nova fiscalização. “Diante das constantes denúncias de profissionais de saúde e pacientes sobre a falta de abastecimento de material médico hospitalar, ocasionando inclusive óbito de pacientes, o CRM realizou no dia 24 de janeiro nova fiscalização, com notificação à Sesau de indicativo de nova interdição no HGR e HMINSN”, revelou a nota.

Por fim, o CRM destacou que nesta quarta-feira, 30, será feita nova fiscalização e no mesmo dia haverá uma plenária para deliberar sobre uma possível nova interdição nas unidades. (A.P.L)

Imagens : Nilzete Franco/FolhaBV