O João de Barro é um dos mais novos loteamentos da capital e fica logo após o bairro Cidade Satélite, seguindo pela Avenida Dom Aparecido José Dias, única via de acesso. Algumas áreas ainda estão sendo loteadas, enquanto outras estão sendo invadidas por quem procura um pedaço de terra para morar. Durante toda essa quarta-feira, 30, uma ação da Prefeitura Municipal de Boa Vista resultou em muita confusão.
Algumas pessoas que invadiram terras afirmaram que não se trata de uma área em que todo o perímetro é de preservação ambiental. Contaram também que foram acordadas de forma agressiva, por agentes da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional (Emhur) e Guarda Municipal.
“Nós somos seres humanos. Eles já chegaram cortando punhos de redes, derrubando os barracos sem deixar que as pessoas tirassem seus pertences de dentro”, reclamou.
Pelo menos 120 famílias estavam ocupando o local e algumas das pessoas conversaram com a reportagem da Folha. Elas salientaram que fizeram um levantamento prévio e descobriram que, de fato, há partes que são de preservação, inclusive que funcionários da Secretaria Municipal de Meio Ambiente tinham comparecido para dizer que alguns espaços não poderiam receber qualquer tipo de construção, portanto, seria proibida a invasão, limpeza ou queima de árvores do terreno.
“Onde nós entramos não é área de preservação. Quem está aqui é gente que paga aluguel, que ainda mora com os pais, com os sogros e querem um pedaço de terra para construir e viver bem. Não somos bandidos. Para se ter uma ideia, eles não permitiram que algumas mulheres tirassem suas roupas de dentro do barraco e queimaram tudo. Um colega nosso pediu o documento pessoal e eles jogaram no fogo. Isso não se faz”, disse em tom de indignação.
Sem ter a quem recorrer, os ocupantes da área apenas assistiram a toda destruição e à queima. “Quem se aproximava, eles apontavam as armas. Eles chegaram a destruir uma casa que estava pronta, na laje, legalizada”, acrescentou.
A casa é do funcionário público Idônio de Oliveira. Ele procurou a Folha ainda na tarde de ontem com os documentos da propriedade em mãos e, aos prantos, relatou que estava sem forças para recomeçar, uma vez que a casa, na qual iria morar a partir da próxima semana, foi derrubada.
“Eu comprei o terreno ano passado da Associação do Loteamento João de Barro e vendi parte da área para outras pessoas. Teve gente que construiu na mesma quadra dentro da legalidade. As áreas invadidas não estão loteadas, mas meu terreno não era invadido. Eu terminei a minha casa agora e queria me mudar na próxima semana para sair do aluguel, mas para minha surpresa, quando eu cheguei e vi aquela cena, de algo que eu construí com meu dinheiro [chorou]… Era tudo o que eu tinha. A Guarda Municipal já foi lá, me viu, pegou o número do meu telefone e ninguém me comunicou sobre nada antes de derrubar minha casa”, frisou.
Oliveira disse que membros da associação do bairro construíram em locais muito mais inadequados do que onde sua casa estava pronta. “A única justificativa que eu consegui encontrar para eles terem feito isso foi o fato de minha casa ter sido construída no meio da área onde as pessoas invadiram. A única lógica para eles agirem desse jeito foi essa. Tem uma casa de alvenaria que está sendo construída numa área que é de invasão e os funcionários da prefeitura disseram que não derrubariam porque já tinha notificado e multado o dono em R$ 1 mil e, seguindo esse critério, não iriam derrubar. Tem casas que o terreno foi invadido e não derrubaram. Quero saber qual o foi o critério que usaram para derrubar minha propriedade”, reforçou.
Idônio Oliveira revelou que o prejuízo ultrapassa os R$ 20 mil. “Eu comprei o terreno por R$ 5 mil e na casa gastei mais de R$ 15 mil. Era simples, pequena, mas bem-feita. Era de laje, com uma suíte, sala e cozinha integradas. Eu mesmo construí. Se tivesse pagado mão de obra, seria mais caro. Estou desesperado. Eu tinha dois terrenos lá e vendi um deles para concluir a obra. Vou atrás dos meus direitos. Isso não vai ficar assim. Minha casa e meu terreno são legais”, finalizou.
PREFEITURA – A reportagem da Folha solicitou à Prefeitura Municipal de Boa Vista (PMBV) informações sobre a ação da Guarda Municipal e Emhur, mas, como frequentemente ocorre, nenhuma resposta foi enviada à Redação até a conclusão da matéria. (J.B)