FABRÍCIO ARAÚJO
Colaborador da Folha
Pelo menos 250 pessoas se concentraram ontem, 31, no Instituto Insikiran na Universidade Federal de Roraima (UFRR) para protestar em defesa dos direitos indígenas. A mobilização ocorreu em todo o País e foi denominada de “Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais”.
Uma dança típica indígena abriu o protesto. Tratava-se de uma oração para fortalecer a luta conjunta. No local, havia faixas e cartazes com os dizeres “Não à PEC 215”, “Não à Municipalização da Saúde Indígena” e com pedidos de ampliação do Insikiran e da educação indígena.
O vice-coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Batista, explicou que a organização do evento ocorreu porque houve uma série dedeclarações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) contra os povos indígenas.
O principal objetivo era chamar a atenção da população e pedir mobilização sobre a questão da demarcação de terras indígenas, assim como contra a mudança da Fundação Nacional do Índio (Funai) que agora está sob a tutela do Ministério da Agricultura.
“O que causa grande impacto na demarcação das terras indígenas hoje e a paralisação total é a Medida Provisória 870 que foi editada em 1o de janeiro pelo presidente e nos afeta diretamente porque tirou o poder da Funai, passando para o Ministério da Agricultura. Sabemos que nesse ministério não há um quadro de técnicos e especialistas para lidar com a demarcação de terras indígenas”, declarou Edinho Batista.
O vice-coordenador do CIR disse ainda que na Agricultura é mais provável que sejam atendidos os desejos da bancada ruralista e ressaltou que há outras medidas que podem pôr em risco os direitos dos indígenas, como o Projeto de Lei 1.610, a PEC 215, o Parecer 001 e a pretensão de se aplicar a tese do marco temporal.
Já o coordenador do CIR, Enock Taurepang, discursou sobre a importância de Joênia Wapichana (Rede) assumir o cargo de deputada federal. Ele considerou o momento histórico, pois uma liderança indígena assume como parlamentar para representar o seu povo.
“É uma liderança engajada na luta, no movimento indígena, que nos conhece, sabe quais são os nossos sonhos, porque os dela são os nossos. É por isso que nós nos sentimos felizes, vencemos essa política partidária que se tornou tão corrupta e tão vendida em que um parlamentar entra para atender um povo, mas acaba defendendo as empresas que o fizeram chegar até lá”, declarou Taurepang.
Educação também foi pauta de protestos
A UFRR foi estrategicamente escolhida pelos manifestantes. Além da questão da demarcação de terras, os universitários pediam a ampliação do Instituto Insikiran e os professores protestavam contra a possibilidade de municipalização da educação.
“Nacionalmente, vemos um retrocesso no que conseguimos aplicar em relação à educação pública. Viemos dizer que não aceitamos isso e defendemos uma universidade pública em que todos têm o direito de ingresso e que atende as pessoas fragilizadas na sociedade”, declarou a coordenadora da Organização de Professores Indígenas de Roraima (OPIR), Edite da Silva Andrade.
DAMARES ALVES – A ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, esteve no centro de uma polêmica devido à publicação de uma revista que revelou a história de adoção de sua filha. A própria ministra já afirmou à imprensa que nunca legalizou a adoção e foi acusada de ter sequestrado uma criança indígena.
A coordenadora da União das Mulheres Indígenas da Amazônia Brasileira (UMIAB), Telma Taurepang, esteve no protesto e declarou que a entidade se posiciona de forma contrária a qualquer ato praticado fora da lei, pois existe o Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), que é o mesmo para brancos, negros e índios.
“Temos várias situações em que um branco chega a uma aldeia e pega uma criança para adotar e, geralmente, não passa pela Justiça, como este escândalo da ministra Damares. Ela diz que ama os indígenas porque adotou uma criança indígena, mas não é bem assim”, declarou Telma. (F.A)