Pacientes que fazem o tratamento alternativo de acupuntura estão receosos depois de descobrirem que a Secretaria Estadual de Saúde (Sesau) pretende extinguir o serviço que atualmente é ofertado apenas na Clínica Especializada Coronel Mota (CECM). Pelo menos quatro pessoas procuraram a Folha, nessa sexta-feira, 1º, para denunciar o caso.
Entre elas, a mãe de uma jovem, que sofre de depressão, cuja identidade será mantida pela Folha. A dona de casa destacou que a filha teve uma melhora significativa depois de iniciar o tratamento e que já foi testemunha de muitos resultados positivos, inclusive a cura de pessoas acometidas por doenças crônicas.
“Eu cheguei a levar minha filha para ser atendida no dia 28 e descobri que o secretário quer acabar com o tratamento, tirar as macas e desocupar a sala, porque, segundo a informação que recebi, ele alega que esse tipo de tratamento não é obrigação do Estado porque isso é considerado ‘luxo’. Não tem nada de luxo, é uma questão de necessidade. Não tem nem gasto porque, atualmente, quem leva as agulhas somos nós. Nem com as agulhas o governo gasta dinheiro”, enfatizou.
A acompanhante revelou que a eficácia do tratamento da filha se deu após a acupuntura.
“É muito recomendado para quem pretende parar com consumo de remédios. Eu não ouvi isso diretamente da boca do secretário, mas fomos comunicados por funcionários do Hospital Coronel Mota. A gente pediu que o rapaz não tirasse as macas e as cadeiras porque, na segunda-feira, eles iriam esvaziar a sala. Minha filha vai retornar pela segunda vez nesta semana. É necessário continuar com o serviço”, ressaltou.
Outros pacientes que também procuraram os serviços da profissional de acupuntura reclamaram da possibilidade de ficarem sem o tratamento.
“Estou falando em nome de todos os pacientes que estão fazendo acupuntura. Nós não podemos perder a doutora Hilda. Se nós perdermos, muita gente vai voltar para a cadeira de rodas. Eu passei três meses para poder adquirir uma vaga para fazer a minha acupuntura. Não tem condições de tirar o tratamento de tanta gente que precisa. Além disso, tem gente que não está na cadeira de rodas, mas que também vai ficar, se não tiver esse serviço disponível”, argumentou.
A paciente observou que os três meses que ficou na fila de espera compensaram porque os resultados foram melhores do que imaginava.
“A demanda é grande. Quem está fazendo acupuntura são pessoas que estão acometidas com doenças crônicas, ortopédicas, musculares, nervosas, transtornos depressivos e o resultado é excelente. No Coronel Mota, só tem essa médica. A direção veio conversar com a gente e disse que não vai acabar, que por enquanto vai continuar, só que há uma informação de que o secretário quer reduzir de 60 horas semanais para apenas 20 o atendimento. De qualquer forma, acaba. É uma redução muito grande”, salientou.
As denunciantes esclareceram que atualmente cada sessão do tratamento, em clínica particular, custa em média, R$ 60, e o paciente é quem precisa levar as agulhas que custam mais de R$ 50 uma caixa contendo 100 unidades.
“A médica é maravilhosa, trata todo mundo com paciência. Para ter uma ideia, eu já fiquei boa dos pés, nos quais eu sentia muitas dores. Depois, fui ao ortopedista e descobri que estava com problemas de coluna e voltei para o tratamento da acupuntura, e consigo aliviar minhas dores. Quando eu faço a acupuntura, passo de dois a três meses sem sentir nada. Consigo realizar as atividades de casa”, frisou.
Quem faz o tratamento disse que o Estado não tem gastos com o serviço, uma vez que não exige material para curativo, medicamentos e que a qualidade de vida das pessoas é notória, algumas delas conseguindo voltar a andar, caminhar melhor, fazer atividades domésticas e reduzem a quantidade de medicamentos que tomam.
“Está comprovado pela ciência que acupuntura é um tratamento importante e eficaz. O único gasto é com o profissional. Não tem gasto com estrutura porque a única coisa que precisa é de macas e cadeiras em uma sala. Hoje, é o único lugar do Estado que oferece acupuntura. Se com 60 horas a lista de espera é de até três meses, com 20 o número de pacientes que estarão submetidos ao tratamento vai ser menor e, consequentemente, a espera vai ser maior. Nós questionamos a direção, mas a diretora quer que o serviço continue. Nós sabemos que o problema é que o secretário não quer”, declarou a paciente.
A Folha levantou que atualmente são realizados 30 atendimentos diários, totalizando aproximadamente 600 pessoas beneficiadas com o procedimento alternativo todos os meses.
Secretaria não confirma fim ou redução de horas do tratamento
Na tarde de ontem, a Secretaria Estadual de Saúde esclareceu, por meio de nota, que o tratamento de acupuntura continua a ser ofertado diariamente pela Clínica Especializada Coronel Mota, única unidade de saúde pública estadual a ter o serviço.
A Sesau também disponibilizou os dados de atendimentos de acupuntura por mês e ano no Coronel Mota.
“Lembrando que esses números poderiam ser maiores com o comparecimento dos pacientes faltosos, que ao faltarem estão ocupando vaga que poderia ter sido destinada a outros pacientes”, informa a nota.
Em 2016, os números mostram que 3.885 pacientes realizaram o tratamento alternativo. Em 2017, houve uma pequena redução e 3.614 foram atendidos. No ano passado, 4.241 passaram pelo procedimento de acupuntura, totalizando 11.740 atendimentos nos últimos três anos.
Em relação aos faltosos, a secretaria informou que foram 948 em 2016, enquanto em 2017 faltaram 983 pacientes e o número também cresceu em 2018, quando 1.479 pessoas faltaram os atendimentos. O total de faltosos nos últimos três anos é de 3.410.
Quanto ao fato de os pacientes informarem que o secretário de Saúde tem a intenção de extinguir o tratamento, não obtivemos qualquer resposta. Sobre a redução no número de horas de atendimento, a Sesau também não se manifestou. (J.B)