LEO DAUBERMANN
Editoria de Cidade
Sábado é dia de feira livre. São várias espalhadas pela capital com uma oferta diversificada de produtos que vão desde os hortifrúti, como verduras, legumes, frutas, até gêneros alimentícios, como aves e seus derivados, peixes, laticínios e uma variedade grande de grãos, farinha, goma, cereais e oleaginosas, além de alimentos prontos, para um café da manhã rápido ou almoço.
Uma das mais tradicionais é a Feira do Produtor, localizada na Avenida Glaycon de Paiva, no bairro São Vicente. A dona de casa Omara Cordeiro é frequentadora assídua e comemora a organização do local, que recentemente passou por uma revitalização.
“Agora, os produtos estão todos embaladinhos, separados, tudo limpinho. Antes a sujeira e a desorganização acabavam desmotivando as compras”, disse.
Uma gama de produtos de qualidade, reunidos num só lugar. Essa é a motivação que faz com que a servidora pública Jocilene Miranda compareça todos os sábados à Feira do Produtor. “Nos supermercados você até encontra produtos mais baratos, na promoção, mas a qualidade não é a mesma. Aqui tudo é fresquinho e tem uma variedade grande de opções. A gente acaba levando até mais do que programou”, ressalta.
Os feirantes, por sua vez, reclamam da queda nas vendas e culpam a crise no Estado.
“O movimento está muito fraco, o pessoal está sem dinheiro. No sábado, ainda consigo vender alguma coisa, mas no meio da semana, quase não faço vendas”, lamenta a feirante Maria Antônia Oliveira, há cinco anos no local.
Há mais de 20 anos vendendo frutas e legumes, o feirante Valdir Mota também lamenta o movimento fraco.
“A feira está bonita, organizada, agora o que falta é a gente conseguir vender nossos produtos. Nesses anos todos de feira, não me recordo de uma época tão difícil como está sendo essa. Ninguém tem dinheiro”, ressaltou.
ORGÂNICOS – Alguns boa-vistenses preferem o consumo de alimentos mais saudáveis, sem o uso de fertilizantes sintéticos, transgênicos e agrotóxicos. Vários estabelecimentos na capital já aderiram aos orgânicos, como frutarias e supermercados, e algumas feiras na cidade também oferecem essa opção.
Na HortiVida, uma associação de produtores orgânicos de Roraima, que nas quartas-feiras pode ser encontrada na Avenida Capitão Júlio Bezerra, localizada no bairro 31 de Março, e aos sábados na Praça do Caçari, popularmente conhecida como “Amoca”, vendem-se produtos fresquinhos e variados. Carlos Farage comercializa o que ele mesmo produz, de forma sustentável, buscando sempre “o equilíbrio ecológico e respeito aos consumidores”.
“Nosso público procura produtos, tanto de origem animal como vegetal, mais saudáveis, com mais sabor. A HortiVida foi criada pensando nisso, oferecer o melhor, e fazemos isso já há mais de 13 anos”, conta.
Farage, assim como os feirantes da Feira do Produtor, também reclama da queda nas vendas, avaliada por ele como normal para essa época do ano.
“É claro que a situação econômica pesa um pouco, mas, tradicionalmente, nessa época de férias nossas vendas caem um pouco. Vivemos num ciclo, tal qual a natureza”, ressaltou.
DESCASO – Se em locais arejados como a Praça do Caçari, e revitalizados, como a Feira do Produtor, as vendas não andam nada boas, imagine então num local totalmente improvisado, insalubre, esgoto a céu aberto, poeira, lama e descaso. Esse é o cenário da estrutura improvisada para onde os feirantes da Feira do Passarão, localizada na Avenida Ataíde Teive, no bairro Caimbé foram alocados após o início das obras no local.
A única fonte de sustento do feirante José de Anchieta Martins Costa é a banca de frutas que ele mantém há 14 anos. Ele sente-se abandonado pelo Poder Público e cobra a conclusão das obras que se iniciaram há um ano.
“As vendas caíram 99%. O pouco dinheirinho que faço mal dá para sobreviver. O governo da Suely abandonou a gente aqui, e esse governo não tá fazendo nada, as obras estão paradas, ninguém diz nada pra gente, tá difícil, viu moça?”, reclama o feirante.
A dona de casa que estava escolhendo bananas no box de seu José disse que o local não está nada atrativo, e conta que até deixou de frequentar a feira por um tempo.
“Não tem mais as coisas como antigamente, verdura, todo tipo de fruta. Agora tá assim, abandonado. Vinha cedo, tomava café, mas no meio dessa sujeira não dá nem vontade. Acredito que, assim como eu, mais gente tenha desistido de frequentar a Feira do Passarão. Eu lamento por eles [feirantes]”, disse.
OUTRO LADO – Em nota, a Secretaria de Comunicação do Estado de Roraima informou que a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinf) esclarece que, com relação à Feira do Passarão, “a atual gestão encontrou a obra paralisada e está fazendo um levantamento do que ainda precisa ser feito para a sua conclusão”.
A nota informa ainda que a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), responsável pela administração do local, “solicitou da Seinf que seja feita uma readequação do projeto, de forma a atender a todos as demandas dos feirantes, o que já está sendo feito pela equipe de arquitetos e engenheiros da secretaria”.