Mesmo estando amparado por autoridades brasileiras, o prefeito de Santa Elena de Uairén, Emílio González, disse em entrevista a FolhaWeb que ainda teme que aliados do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, possam atentar contra a sua vida e de sua família aqui no Brasil.
“Mesmo já estando na fronteira, à situação ainda é um pouco delicada, porque de igual maneira os delinquentes [apoiadores de Maduro] também entraram [no país], e eu tenho que me resguardar e proteger minha família. Não estou livre e nem posso andar como um cidadão comum, porque temo pela minha vida, porque os inimigos podem tentar algo contra minha família”, disse.
A referência ao “eles também entraram” dita pelo prefeito se refere ao fato dos chamados “caminhos verdes”, que são as trilhas utilizadas por imigrantes como rotas de entrada e saída do país. Maduro impôs o fechamento da fronteira pela Aduana desde às 20h dia 21 de fevereiro e isso já tem causado reflexos graves tanto em Santa Elena quanto em Pacaraima.
“Mesmo estando no lado brasileiro, as informações continuam chegando até mim. Tenho amigos de longa data que são comerciantes e eles me relataram que o exército tomou conta de tudo. Todos estão com medo, passando fome e a situação só está se agravando”, completou.
A situação no lado venezuelano ficou ainda mais grave nos dias seguintes. Na sexta-feira, 22 de fevereiro, um conflito sangrento entre miliatares e indígenas na comunidade de San Francisco de Yuruani, na Gran Sabana, deixou um morto e pelo menos 15 feridos.
No sábado, 23, durante a tentativa de incursão da ajuda humanitária solicitada pelo autoproclamado presidente Juan Guaidó, resultou em mais confrontos na região. Desde então, Santa Elena ficou tomada por homens do exército bolivariano e aliados do presidente, numa tentativa de impedir que cidadãos de lá falem ou mostrem da real situação vivenciada no país.
“Nós estamos diante de um narco-governo, onde ele quer esconder todos os seus segredos. Não quer que o mundo saiba o que está acontecendo dentro da Venezuela, por isso estão tomando os celulares e não está deixando funcionar a internet, para que o mundo não saiba o que está realmente acontecendo em Santa Elena e na Venezuela. Não lhes interessa e não lhes convém que saibam o que está acontecendo”, destacou.
Na companhia da esposa, Daniela Rivas, e das filhas, Emily e Maria Alejandra, Emílio González disse que espera um dia poder voltar a Santa Elena, para poder ajudar novamente os cidadãos da sua cidade.
“Pretendo voltar para a Venezuela sim, porque é onde nasci, onde moro, e porque quero lutar pelo meu povo, pela minha gente. Espero que o Brasil e o mundo saibam o que está acontecendo e que possam ajudar o povo venezuelano”, finalizou.
*TRADUÇÃO E COLABORAÇÃO DE JOSELINDA LOTAS.