
Em entrevista ao programa Agenda da Semana deste domingo (6), o agrônomo e ex-pesquisador da Embrapa Evaristo Miranda criticou a ineficiência das Conferências das Partes (COPs) sobre o clima e destacou o papel dos produtores rurais brasileiros na preservação ambiental. Com 43 anos de carreira na pesquisa agropecuária, Miranda questionou os resultados práticos desses eventos internacionais e defendeu o equilíbrio entre desenvolvimento agrícola e conservação.
Agricultores preservam 33% do território nacional
Miranda ressaltou que os produtores rurais são os maiores responsáveis pela conservação ambiental no Brasil. “Um terço do território nacional, cerca de 2,8 milhões de quilômetros quadrados, está preservado dentro de propriedades rurais, incluindo reservas legais e áreas de proteção permanente”, afirmou. Ele contrastou essa realidade com a poluição urbana, citando rios que só se recuperam ao passar por zonas rurais.
COP: “30 anos de promessas sem resultados”
Sobre a COP30, que será realizada em 2025 em Belém (PA), Miranda foi enfático: “Em três décadas, as COPs não produziram avanços concretos. São reuniões caras, com milhares de participantes, mas os países desenvolvidos nunca cumpriram suas promessas de financiamento para transição energética.” Ele lembrou que o Protocolo de Kyoto (1997) estabeleceu metas de redução de emissões que foram ignoradas pelas nações ricas, enquanto países em desenvolvimento foram pressionados a adotar modelos restritivos.
Ceticismo com a COP 30 e o “festival de narrativas”
O especialista alertou para o risco de a COP30 repetir o que chamou de “narrativas falsas contra a agricultura brasileira”. “Muitos que criticam o agro não entendem de meio ambiente. Enquanto isso, o Brasil tem uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, aplicada justamente por quem vive no campo”, argumentou. Ele também destacou que as últimas COPs, realizadas em países produtores de petróleo como Azerbaijão, ignoraram discursos ambientalistas radicais.
China e a hipocrisia climática
Miranda apontou a China como exemplo de duplo padrão nas discussões climáticas. “Eles emitem mais de 30% dos gases do efeito estufa globais, não assumem metas concretas e continuam crescendo com carvão e petróleo. Enquanto isso, o Brasil é pressionado a adotar medidas que podem travar nosso desenvolvimento”, criticou.
Para Miranda, o desafio é conciliar progresso e sustentabilidade sem prejudicar quem produz. “Não podemos criar uma agricultura que exclua os agricultores. Eles são aliados da preservação e provam que é possível produzir e conservar”, disse.