JESSÉ SOUZA

Do tarifaço de Trump ao aliquotaço do governo local nas compras pela internet

Do tarifaço de Trump ao aliquotaço do governo local nas compras pela internet
Governo do Estado aumento para 20% a alíquota cobrada nas compras pela internet (Foto: Divulgação)

Enquanto as atenções estavam voltadas para o tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Roraima o Governo do Estado decidiu aprovar o aumento de 17% para 20% a alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) cobrado no recebimento de compras internacionais. A medida passou a valer a partir do dia 1º de abril (e não foi mentira!).

O aumento foi aprovado pelo Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita ou Tributação dos Estados e do Distrito Federal (Comsefaz) em dezembro do ano passado, no entanto, cada Estado teve autonomia para decidir se aprovava ou não esse aumento. E Roraima decidiu pelo reajuste junto com mais nove estados (Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe).

O que impressiona é o silêncio dos roraimenses, diante do que foi a choradeira geral no país com a “taxa das blusinhas”, que passou a vigorar em agosto do ano passado, impactando a economia brasileira de várias formas. Em Roraima e nos demais nove estados, além dessa taxa das blusinhas, o contribuinte terá que arcar com mais 20% de ICMS.

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O arrocho nas compras internacionais pela internet atinge de cheio os roraimenses que, historicamente, tiveram que recorrer a compras em Manaus (AM), Guiana e Venezuela. Atualmente, ainda muitos optam por comprar na Guiana para economizar diante do enforcamento a que são submetidos pelos grandes empresários, já brindados com fartas isenções e outras benesses do governo.

A propósito, já que os parlamentares locais estão preocupados em anistiar golpistas, a deputada Dani Cunha (União-RJ) apresentou, na Câmara, o Projeto de Lei 1440/25 que isenta do Imposto de Importação as remessas postais de presentes ou de itens comprados pela internet e destinados a pessoas físicas, independentemente da quantidade, com limite anual de até 600 dólares por indivíduo.

Não custa lembrar que, não faz muito tempo, a classe média roraimense recorria a viagens para os EUA para comprar roupas, perfumes e eletrônicos. Os mais pobres tinham que se submeter às lojas populares ou os países vizinhos. Quando finalmente conseguiram o acesso às compras pela internet, se libertando da ganância de muito, viram chegar a taxa das blusinhas e mais essa alíquota de 20% do governo local.

Nos últimos meses, os consumidores de baixa renda estão comemorando o surgimento das lojas que vendem tudo ao preço de R$20,00, o que tem permitido acesso a produtos a um preço muito razoável – e isso quando consegue comprar, é verdade, pois os empresários mais espertos compram no atacado para depois revender os produtos a um preço muito mais salgado.

Em outra ponta, enquanto o consumidor roraimense tenta escapar dos preços altos do comércio local, entre os grandes empresários que recorrem a isenções e outros benefícios existem aqueles que sonegam e os que apelam para o contrabando (mercadorias proibidas) ou descaminho (mercadorias permitidas sem pagar os impostos devidos).  

Recentemente, no mesmo período em que o governo local arrochava no aliquotaço da internet, a Polícia Federal fazia uma operação numa dessas lojas na periferia que vendem de tudo, inclusive de eletrônicos a eletrodomésticos, comprovando que, além das benesses que recebem do governo, muitos não querem pagar impostos, enquanto o consumidor de baixa renda não consegue sequer ficar em paz comprando na internet.

A despeito de tudo isso, enquanto os grandes ficam mais ricos, os mais pobres são silenciados com distribuição de peixe e cesta básica (que virou moeda eleitoral), festas de forró e sertanejo no interior, além de discursos de que está indo tudo bem, apesar das constantes operações policiais por causa de corrupção e tráfico de droga, avanço do crime organizado e do preço cada vez mais caro dos alimentos nas feiras e nos supermercados.

 *Colunista

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