O número de casos de tuberculose entre venezuelanos residentes em Roraima aumentou sete vezes em comparação com o registrado nos últimos cinco anos, segundo relatório da organização não-governamental Human Rights Watch divulgado nesta quinta, 04.
No relatório “A emergência humanitária na Venezuela: uma resposta em grande escala da ONU é necessária para enfrentar a crise de saúde e alimentos”, a organização em parceria com equipes médicas busca avaliar o atual estado da crise humanitária na Venezuela, mas também mostra o impacto da migração na saúde em Roraima.
O documento aponta que entre janeiro e dezembro de 2018, 60 novos casos de tuberculose entre venezuelanos foram identificados pelas autoridades de saúde de Roraima. O total é maior do que o número de casos de tuberculose registrados nos últimos cinco anos, já que de 2013 a 2017 foram contabilizados 32 casos entre venezuelanos em Roraima. Possivelmente, o aumento se dá por conta do alto volume de migrantes que chegaram ao país nesse período e a falta de serviço de saúde na Venezuela.
“O número de casos em 2018 representa um número sete vezes maior do que o comparado com o mesmo período em 2017. O crescimento impacta o sistema brasileiro de saúde, já que o tratamento contra a tuberculose é complicado e de trabalho intensivo”, diz trecho do relatório.
HIV – A avaliação também traz dados do Departamento de Vigilância Sanitária em Roraima, que aponta que foram 56 novos casos de HIV entre venezuelanos em 2018. Isso representa um número três vezes maior do que no ano anterior, em 2017.
No Coronel Mota, que é a principal unidade de atendimento para pacientes com HIV em Roraima, 171 venezuelanos estavam recebendo terapia antirretroviral (ARV) contra HIV em agosto de 2018, explica a análise.
“Médicos na clínica nos disseram que os pacientes venezuelanos aparecem sempre muito doentes e normalmente mal nutridos ou com infecções que põem em risco a sua vida”, diz o relatório.
O documento revela ainda que mais da metade de pacientes do setor de doenças infecciosas do Hospital Geral de Roraima, em agosto de 2018, eram venezuelanos sendo tratados para sintomas da Aids.
“Quatro pacientes relataram que a tratamento com ARV estava indisponível na Venezuela por pelo menos sete meses e que antes disso, a oferta da medicação não era regular. Eles eram forçados, então, a interromper os medicamentos e adotar alternativas inadequadas, o que pode levar à uma resistência aos remédios contra a HIV e até limitar outras opções futuras de tratamento”.
RELATÓRIO – O documento é baseado em entrevistas com mais de 150 profissionais da saúde, venezuelanos que buscaram atendimento de saúde na Colômbia e no Brasil, representações governamentais e ong’s, além de análise de fontes oficiais.
As medidas foram necessárias para compreender o impacto da crise humanitária no país considerando que as autoridades venezuelanas não repassam dados de saúde e nutrição, além de retaliar aqueles que tentam divulgar as informações. (P.C.)