
O advogado R.H.S.S. é acusado de aplicar golpes envolvendo a venda de ações judiciais inexistentes em Roraima. A denúncia foi enviada de forma anônima à Folha de Boa Vista e levou à identificação de um inquérito policial instaurado no 4º Distrito Policial da capital. De acordo com a investigação, ao menos oito pessoas teriam sido vítimas do esquema, que envolvia a promessa de altos lucros com créditos judiciais. Em um dos casos, o prejuízo ultrapassa R$ 280 mil.
Uma das vítimas, que não quis ser identificada, afirmou que conhece o advogado desde a adolescência. “Ele é um conhecido de longa data. Inclusive estudamos na mesma escola no ensino médio e as famílias se conhecem”, contou. Segundo ela, a relação de confiança se estendia também ao campo profissional: “Ele já tinha atuado como meu advogado, por isso não desconfiei quando me procurou oferecendo as ações.”
A proposta envolvia a compra de créditos judiciais supostamente já reconhecidos pela Justiça e com previsão de pagamento em até 25 dias úteis. Os titulares dessas ações estariam vendendo os valores com urgência, alegando necessidade de recursos para tratamentos de saúde.
“Comprei uma ação e recebi normalmente. Depois, ele me ofereceu mais três. Apenas uma foi paga. As outras duas nunca caíram. Desde o dia 3 de dezembro estou esperando esse dinheiro”, disse. “Ele sempre respondia, dizendo que estava tudo certo, que era só esperar. Mas depois de muita demora, procurei um advogado, que descobriu que essas ações nem existiam no sistema judicial.”
Enquanto aguardava o pagamento, o advogado teria continuado oferecendo novos processos. “Foi aí que comecei a desconfiar que era golpe. Mas como já tinha pago, só me restava esperar.” A vítima registrou um boletim de ocorrência e também formalizou uma denúncia junto ao Conselho de Ética da OAB. “Ele usava o fato de ser advogado para dar credibilidade à história. E usava isso como argumento: dizia que, se desse errado, ele poderia até perder a carteira da OAB”, completou.
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Além desse caso, o inquérito apura outras situações semelhantes. Em uma delas, a vítima investiu aproximadamente R$ 280 mil na compra de cerca de 20 ações. Inicialmente, parte dos valores prometidos foi repassada, mas os pagamentos foram interrompidos. O advogado teria apresentado justificativas como bloqueio de conta, falhas no sistema bancário e atrasos por parte do órgão pagador. Em determinado momento, chegou a solicitar R$ 5 mil para suposta liberação de valores junto à Receita Federal, valor que também não foi devolvido.
Outro caso investigado envolve um empresário que afirma ter investido R$ 93.600,00 e não recebeu os valores acordados. Após tentar verificar a existência dos processos, descobriu que os documentos eram falsos.
A Folha de Boa Vista teve acesso a áudios atribuídos ao advogado. Em um dos trechos, ele afirma: “Essa senhora aí tá vendendo esse processo aí por 8 mil reais pra cair na próxima sexta-feira, cara, tá barato. Se der merda eu perco a minha carteira. Isso aí não tem enrolada não, é uma coisa séria.”
Segundo o inquérito, R.H.S.S. costumava manter contato frequente com os compradores, repassando prazos e atualizações. Com o tempo, os pagamentos deixaram de ser feitos e ele passou a ignorar ligações e mensagens.
O que diz o advogado
Procurado pela reportagem, o advogado R.H.S.S. afirmou que os fatos “não são verídicos” e que ainda não foi ouvido pela autoridade policial. “Trata-se de venda de precatório, um fato corriqueiramente normal e que não há ilegalidade. Nunca houve nenhum tipo de fraude e também jamais houve qualquer hipótese em que as pessoas deixaram de receber ou não foram mais atendidas”, declarou.
O advogado também disse que o caso está em fase de apuração e que pretende apresentar documentos e esclarecimentos oportunamente. “Como se trata apenas de uma investigação, ainda é importante que os fatos sejam melhor apurados. No momento certo serei ouvido e terei a oportunidade de informar e esclarecer os fatos através de documentos e informações pertinentes”, completou.