JESSÉ SOUZA

Feriadão no Tepequém é marcado por problemas recorrentes e históricas omissões

Turistas tiveram que desbloquear estrada para que pudessem seguir viagem (Imagem: Reprodução)

Antigos problemas se repetiram em sequência durante o feriadão da Semana Santa na Serra do Tepequém, o principal ponto turístico de Roraima, localizado no Município do Amajari, expondo a completa ausência do poder público em todos os níveis de governo para ordenar o turismo. São questões já cobradas pelos moradores, guias de turismo e empreendedores, mas sempre ignoradas.

Na véspera do feriado, o governador Antonio Denarium esteve na região fazendo distribuição de peixe, quando pôde conferir pessoalmente a situação de apenas uma das pontes de madeira da RR-203, enquanto a maioria delas está com suas estruturas comprometidas não só pela ação do tempo, mas também pelo excesso de peso de caminhões que transportam asfalto e materiais para a construção de obras do complexo turístico que está sendo erguido na Vila Tepequém.

Pontes de madeira caindo aos pedaços são um problema antigo, sempre cobrado pelos moradores e turistas locais e de outros estados que visitam a região, mas que é tratado em último plano pelo Governo do Estado e Prefeitura do Amajari, que não enxergam nenhuma prioridade em uma questão de grande importância no que diz respeito à trafegabilidade e à segurança das milhares de pessoas que se deslocam para o ponto turístico a cada feriado e fim de semana.

Na Vila de Tepequém, o desordenamento com a chegada em massa de turistas nos feriadões desafia questões históricas que se arrastam pela inoperância do poder público e omissão com o básico de assistência, como a fiscalização de atrativos para orientar o turista e auxiliar guias e condutores a terem suas autoridades respeitadas com relação à garantia de segurança do visitante, cuidado com o lixo, orientação sobre poluição sonora e trânsito de bebidas em garrafa para as cachoeiras.

Sem nenhum apoio ou garantia de segurança, guias, condutores e empreendedores que trabalham na entrada dos atrativos colocam sua integridade física em risco ao tentarem impor o mínimo de ordenamento e bom senso, ameaçados por pessoas armadas, alcoolizadas ou mesmo exaltadas alegando ser autoridades, as quais não podem ser desagradadas, ou até mesmo por membros de grupos criminosos que por ventura estiverem por lá.  

Assim como não há agentes municipais em fins de semana e feriados para ajudar no ordenamento do turismo, inclusive no trânsito e segurança, também não há nenhuma equipe da Defesa Civil Municipal, da Polícia Ambiental e do Corpo de Bombeiros pelo menos em feriadões de grande movimento, a exemplo desse fim de semana. Apesar das seguidas cobranças, os pedidos são solenemente ignorados.

A consequência disso foi que um grupo de oito turistas manauaras ficou ilhado por cerca de 12 horas na passagem para o atrativo da Cachoeira da Laje Verde, depois de uma forte chuva inesperada ter provocado uma enxurrada, por volta das 16h de sábado, até às 4h da madrugada de domingo, após a chegada de uma equipe de bombeiros que se deslocou de Boa Vista. Não fosse a mobilização por parte da Associação de Guias e Condutores (Aguiconte), teria ocorrido o pior com aqueles turistas.

Se houvesse um planejamento por parte das autoridades, haveria equipes de prontidão na própria vila para atender eventuais ocorrências. Além disso, os governos estadual e municipal não cumprem com suas obrigações para sinalizar e instalar dispositivos de segurança nos atrativos onde há riscos para os turistas e os profissionais de turismo, como passarelas, corrimões e cabos de segurança, deixando a comunidade sozinha, sem apoio ou orientação e sob constantes riscos de acidentes. É como se as autoridades não considerassem Tepequém como o principal ponto turístico de Roraima.

Para completar os dias de muitos desafios e ausências, árvores caíram na subida da serra, neste domingo, que é outro problema recorrente, obrigando moradores e turistas, que ficaram impedidos de seguir viagem, a fazerem o desbloqueio da pista de qualquer jeito. Ninguém se responsabiliza pela poda de árvores comprometidas desde as queimadas do ano passado, o que ocasiona recorrentes bloqueios da estrada e falta de energia na vila, que por seguinte provoca falta de água e de internet.

De braços cruzados, as autoridades desprezam o principal ponto turístico de Roraima e tentam de tudo para que os próprios moradores assumam as obrigações inerentes ao poder público, como foi o caso da mobilização feita pela Associação dos Moradores, em novembro do ano passado, quando as pessoas tiraram dinheiro do próprio bolso para tapar buracos da estrada na subida da serra e roçar o mato que avança sobre a pista.

Diante de tudo isso, só restam perguntas: vão esperar, na base da omissão, que ocorra uma tragédia de grandes proporções em Tepequém antes de agirem? Ou vão querer forçar a comunidade a fazer as obrigações do Governo do Estado e da Prefeitura do Amajari, enquanto todos fingem investimento no turismo com propagandas apenas para gringo ver?

*Colunista

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