Cotidiano

UFRR forma 1ª turma em curso pioneiro

Os primeiros gestores formados em Gestão Territorial Indígena abriram as portas para fortalecer a autossustentação dos povos indígenas

A Universidade Federal de Roraima (UFRR) formou, através do Instituto Insikiram, na semana passada, a primeira turma de Gestão Territorial Indígena. O curso, único em todo o país, é voltado para membros de comunidades indígenas do Estado. Foram graduados sete gestores, que agora poderão auxiliar suas comunidades com seus conhecimentos aplicados em distintas áreas desde agroecologia e até em empreendimentos sociais voltado aos indígenas.
O curso foi criado em 2010 como demanda de lideranças indígenas, através de assembleias das quais participam o Conselho do Instituto Insikiram, frente às demarcações de terras indígenas como a Raposa Serra do Sol, a Noroeste do Estado.
O professor Herundino Ribeiro disse que o curso de GTI é uma espécie de “miscelânea” que foi sendo formatada visando às necessidades das comunidades, criando suas atuais ênfases, como a agroecologia, “Uma das demandas principais era cuidar, por exemplo, do gado e da produção agrícola comunitária de maneira que respeitasse suas tradições culturais”, comentou.
Outra dificuldade era a questão da comercialização e a logística dos produtos das comunidades. “Tentamos, então, resolver isso com a ênfase em empreendimentos sociais”, explicou. Para ajudar as lideranças indígenas em suas representações, o curso também possui viés em políticas públicas e infraestrutura. “Por exemplo, numa situação em que a comunidade precise de representatividade, os que têm conhecimento podem ajudar, fazendo isto da melhor maneira, sempre respeitando sua cultura”, explicou o professor.
Em relação aos empreendimentos sociais, o curso trabalha com o cooperativismo, associativismo, formação de redes de produção e comercialização dos produtos. Também há um pouco de marketing para os produtos, como agregar valor cultural e agronômico a esses produtos de origem indígena, de forma que o cliente perceba isso como algo real e possa pagar um pouco mais, mas por um produto diferenciado, limpo, justo e ecologicamente correto, conforme Herundino Ribeiro.
O curso é dividido em dois turnos. Na parte teórica, o aluno permanece em classe por nove semanas e, posteriormente, volta à sua comunidade, onde faz o trabalho que escolheu numa espécie de estágio, acompanhado por um professor tutor. “O próprio tuxaua acompanha o aluno e nos dá uma resposta, que vamos inferir em suas notas”, detalhou.
Os alunos graduados na quarta-feira passada são de duas etnias, que são Yekuana e Makuxi. Todos são de comunidades distintas, espalhadas, em sua maioria, pela parte Norte do Estado. A recém-graduada Monaliza Ribeiro, de etnia Makuxi, afirmou que sua formatura foi motivo de alegria para ela e sua comunidade, no Município de Amajari, Norte do Estado. “Foram cinco anos. Foi difícil, mas pudemos chegar até aqui”, disse.
Sidoca Lopes, também Makuxi, explicou que agora todos estão almejando uma pós ou especialização. Ela, que tem sua comunidade localizada no Médio São Marcos, em Pacaraima, Norte do Estado, escolheu agroecologia e espera com isso melhorar a qualidade de vida de seu povo. “Estava um pouco intimidada no início. Era tudo novo, mas vencemos e espero que tenhamos aberto as portas para os próximos que virão”, frisou.
NOVA TURMA – Em agosto e setembro haverá uma turma ainda maior, segundo o professor Herundino Ribeiro. “Já estamos na sexta turma inscrita. Sempre há as desistências por um caso e outro, alguns atrasos, mas a cada ano teremos formaturas com bastante gente”, explicou. Um dos motivos para isso é a Bolsa Permanência, que paga uma quantia de R$900,00 aos alunos, animando-os a terminar o curso.  Aluguel, transporte, alimentação podem ser custeados com este valor, segundo o professor. “Os recursos antes eram mais complicados, mas estamos com a expectativa de que as coisas venham melhorando cada vez mais”, ressaltou.
TRABALHOS – Na ênfase de empreendimentos sociais, o Instituto Insikiram desenvolve trabalho nas comunidades, estimulando a comercialização. Um dos trabalhos que a Universidade Federal de Roraima (UFRR) faz em parceria com o Conselho Indígena de Roraima (CIR) e com a Encubadora de Empreendimentos Sociais da UFRR fica na comunidade da Mangueira, no Taiano, Município de Alto Alegre, Centro-Oeste do Estado.
“Lá eles têm uma produção de café, que colhem a cada ano, comercializando no Mesa Brasil. Agora, recentemente, nós os estimulamos a reinvestir o recurso numa máquina para beneficiar o café, para vendê-lo moído e agregar valor ao produto”, relatou. Ribeiro comentou que o produto servirá para gerar uma renda e, principalmente, melhorar a qualidade de vida daquela comunidade local.
Além dessa extensão, todos os professores do Instituto possuem projetos com os alunos em capacitação, elaboração e gestão de projetos, assim como comercialização de produtos.
VESTIBULAR – O professor Herundino Ribeiro mencionou ainda o Processo Seletivo Específico para Indígenas (PSEI) da UFRR, onde mais de 15 cursos oferecem vagas específicas para indígenas. Diferentemente do sistema de cotas, o PSEI oferece vagas extras. “O colegiado dos cursos se reúnem e disponibilizam estas vagas. É feito um montante e depois um vestibular específico. Se trata de um processo seletivo mais sensibilizado para os indígenas”, disse.
O edital do PSEI já está aberto e pode ser conferido no site da Comissão Permanente de Vestibular (http://ufrr.br/cpv/). As provas estão previstas para serem realizadas em maio deste ano. (JPP)