Cotidiano

ONG castra cães abandonados para adoção

O serviço de castração tem como principal objetivo impedir que mais animais sejam abandonados nas ruas de Boa Vista

A Organização Não Governamental (ONG), Yawara Associação de Proteção Animal, que atua no resgate de animais há seis anos e os disponibiliza para adoção, está fazendo castração de cães de rua. A organização, formada por um grupo de amigas, conta com a doação de dinheiro, ração e todo o material necessário para manter os animais longe das ruas e de lares onde sofrem abusos.
De acordo com a fundadora da instituição, a nutricionista Luciana Pacobahiba, a Yawara abriga atualmente 40 cães, que são criados e tratados através de doações e do esforço do trabalho voluntário de pessoas que se interessam pela causa. Desses cães, alguns já estão prontos para serem adotados. As despesas envolvem ração, vacina, castrações, medicamentos e pagamento de demais despesas.
Os voluntários também têm a preocupação de cuidar de cães doentes, como a cadela resgatada pela Companhia Independente de Policiamento (Cipa) no dia 5, após ter sido maltratada pelo dono. “Ela está bem feliz. Espero que se recupere do trauma que passou. Na medida do possível, nós resgatamos, tratamos e deixamos os cães saudáveis para a adoção”, disse.
Conforme Luciana, a ONG estabeleceu uma parceria com o Centro de Controle de Zoonoses para a castração dos animais. Todo o material é comprado pelas associadas ou são frutos de doações. “Nós entregamos os animais e o material necessário para o procedimento para os profissionais da zoonose”, disse.
A castração tem como principal objetivo impedir o abandono de animais. “É comum você ver animais abandonados nas ruas e, a cada dia, essa quantidade aumenta. Com a castração, estamos contribuindo para a redução deste número”, relatou.
Os interessados em adotar um dos animais tratados pela ONG podem entrar em contato com as associadas através dos números: (95) 98114-6613 e (95) 99972-3733. “Nós iremos analisar se a pessoa tem boa vontade e paciência com os animais, pois não podemos levá-los para lares onde serão maltratados”, disse.
MAUS-TRATOS – Denúncias de possíveis abusos a animais, tanto domésticos quanto silvestres, têm sido cada vez mais frequentes na Central 156. Para resolver essa situação, as secretarias municipais de Gestão Ambiental e de Saúde atuam para fornecer todo apoio possível a esses seres, que muitas vezes são esquecidos pela sociedade.
Em 2014, a Divisão de Fiscalização Ambiental do município apreendeu 107 animais selvagens, dos quais 56 eram aves, 43 eram répteis e 8 se tratavam de mamíferos. O chefe da Biodiversidade do Bosque dos Papagaios, Francisco Ibiapina, relatou a condição crítica em que muitos animais são encontrados. “Quase todos eles ficam desnutridos e em gaiolas apertadas. As aves são sempre as que mais sofrem: encontramos algumas cegas por conta de arame nos olhos, outras sem bico, bem como sem asas. Havia até algumas sem patas. O pior é saber que muitos dos traficantes de animais fazem essas torturas de propósito”, descreveu Ibiapina.
Dentre as ocorrências mais comuns que chegam à Gestão Ambiental está a rinha de galo. “São encontrados cerca de 30 animais nos eventos, todos com diversas escoriações pelo corpo, por conta das brigas”, frisou. A Divisão de Fiscalização Ambiental do município trabalha com equipes que atuam durante todo o dia e à noite, de plantão, respondendo a chamados não só do número 156, mas também de órgãos como o Ministério Público Estadual (MPRR) e da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA).
“Dependendo das circunstâncias nas quais os inspetores encontram o animal, um veterinário do município e a Guarda Municipal participam da ação”, destacou o diretor da Divisão, Robson Lopes. Em alguns casos, o reforço de órgãos como a Polícia Militar e da Comissão Independente de Policiamento Ambiental (Cipa) é acionado. O contrário também ocorre.
A penalidade para maus-tratos com animais domésticos é de R$500,00 por indivíduo, com acréscimos em caso de agravantes. O ex-dono da cadela Kimi, que foi queimada no dorso com um maçarico, pagará essa multa e também responderá criminalmente pelos atos. O mesmo ocorreu com os jovens que fizeram cães filhotes beberem pimenta em 2014. Esse valor chega a triplicar quando se trata de animais silvestres.
CENTRO DE ZOONOSES – Desde 2014 até este mês de março, a diretora Ana Maria Lopes da Nóbrega já contabilizou cerca de 80 casos de maus-tratos a animais. Além de infestação por carrapatos, os funcionários do Zoonoses Municipal já se depararam com casos de queimaduras de água quente jogada em cães e gatos propositalmente, bem como envenenamento.
Ana esclarece que a “carrocinha”, que recolhia animais para depois aplicar a eutanásia, deixou de fazer parte do trabalho do Centro de Zoonoses por determinação do próprio Ministério da Saúde. “Essa medida não propiciava controle de população animal nenhuma. Por isso, a partir do momento em que se acolhe um bicho, é preciso ter consciência de que se está apto para suprir as necessidades básicas que ele venha a ter”, explicou.
O Centro de Zoonoses ressalta que abandonar cães e gatos nas ruas é crime, passível de detenção e multa, de acordo com a Lei Federal 9.605/98 e o Código Penal Brasileiro. Além de oferecer vacinas gratuitamente, como a antirrábica, o centro atua em conjunto com associações de proteção aos animais. São fornecidos espaço e um médico veterinário para atender aos bichos recolhidos pelos grupos, que levam a medicação necessária para os procedimentos. “O que realmente é caro é o profissional, que aqui se prontifica a ajudar essas organizações sem custo algum”, acrescentou Ana Nóbrega.
VIOLÊNCIA – Para o psiquiatra do Centro de Atenção Psicossocial Dona Antônia de Matos Campos (Caps II), Welinton Pedroso, os motivos que levam as pessoas a torturarem animais são resultados da soma de fatores sociais, econômicos, culturais e por fim, psicológicos.
“De uma maneira geral, aqueles que agridem animais por prazer são portadores de algum desequilíbrio mental. Essas pessoas começam a dar sinais de uma personalidade agressiva por volta dos 13 aos 18 anos e têm grandes possibilidades de levarem essa violência a outros seres mais frágeis que elas, como crianças, por exemplo”, explicou o psiquiatra.
A diretora do Caps II, Décima Rosado, afirmou que o centro acolhe pessoas agressivas com frequência, sendo todas elas portadoras de distúrbios psicológicos graves. “Elas agridem qualquer coisa que encontram pela frente, sejam objetos, animais ou familiares. Fazer ‘justiça com as próprias mãos’ não ajuda, pois o problema psicológico impede que a pessoa perceba a gravidade de seus atos”, enfatizou.