Cotidiano

Protesto leva centenas para ruas e paralisa trânsito

Mesmo sob chuva, estudantes, servidores e, professores protestaram contra contingenciamento nas verbas das instituições públicas federais

Estudantes, servidores, professores e populares se mobilizaram em diversos atos durante esta quinta-feira, 15, em manifesto contra o bloqueio nas verbas destinadas às instituições públicas federais. Mais cedo, 17 escolas estaduais de Boa Vista paralisaram as atividades durante o dia em apoio às manifestações. As instituições deverão repor o dia letivo para não ter prejuízos para os alunos. Já nas unidades municipais, não houve adesão e as aulas foram mantidas normalmente.

Os protestos em Roraima tiveram início nas primeiras horas do dia, às 8h, com o fechamento dos portões da Universidade Federal de Roraima (UFRR), no campus Paricarana. Neste período, o público no local foi bem pequeno e a polícia militar chegou a ser chamada por conta de uma confusão ocorrida com um professor que tentou furar o bloqueio entrando na instituição. Houve discussão entre ele e os manifestantes, mas a situação foi logo resolvida.

Durante a tarde, a concentração de manifestantes ganhou apoio de estudantes e cerca de 500 pessoas fizeram passeata sob a chuva até o Centro Cívico, onde os manifestantes bloquearam o trânsito próximo ao horário de pico. Uma equipe da polícia militar controlou o tráfego de veículos na via.

Os organizadores do ato no Centro Cívico, que começou por volta de 14h e se encerrou às 19h30, afirmaram que cerca de 2,5 mil pessoas estavam no local, apesar da expectativa ser de participação de apenas 300 pessoas. No entanto, a Polícia Militar estimou 500 participantes na manifestação. Para os alunos, os protestos são forma de solicitar que a medida de contingenciamento do governo federal seja revista.

“Não causa prejuízo apenas aos estudantes e professores, nem aqueles que pretendem fazer um curso de pós-graduação, de mestrado ou doutorado, e, sim, toda a sociedade que depende desse conhecimento que a gente produz aqui dentro. Essa greve deveria ser de toda a população”, disse Catherine Mota, aluna do curso de Direito da UFRR.

Após a passeata, os manifestantes se reuniram no Centro Cívico. “O posicionamento dos estudantes é em prol da defesa da educação pública e gratuita de qualidade e nosso objetivo é defender tudo isso”, relatou o presidente da Associação dos Estudantes de Roraima, Jean Farias. 

IFRR – Com o bloqueio de R$ 6,5 milhões do Instituto Federal de Roraima (IFRR) alunos participaram dos atos com confecção de cartazes durante o período da manhã e depois se concentraram no Centro Cívico junto aos outros manifestantes. Eles participam da mobilização nacional nomeada “Tira a Mão do Meu IF” nos 647 campi em todo país.

“Queremos lutar pelos nossos direitos porque quando não vamos à rua, o governo acha que estamos em favor do que está acontecendo. Muitos alunos não têm noção disso, mas nós sabemos dos impactos nos nossos projetos”, relatou a vice-presidente do Grêmio Estudantil do Campus Amajari, Izabella Félix. 

Contingenciamento prejudica atividades, dizem UFRR e IFRR

O valor total contingenciado, considerando todas as universidades, é de R$ 1,7 bilhões, ou 3,43% do orçamento completo — incluindo despesas obrigatórias. Em 2019, as verbas discricionárias representam 13,83% do orçamento total das universidades. Os 86,17% restantes são as chamadas verbas obrigatórias, que não serão afetadas. Elas correspondem, por exemplo, aos pagamentos de salários de professores, funcionários e das aposentadorias e pensões. Segundo o governo federal, a queda na arrecadação obrigou a contenção de recursos. O contingenciamento do orçamento vem sendo alvo de críticas após determinação do Ministério da Educação (MEC) no início do mês de março, que posteriormente justificou que o bloqueio se tratava de 3,5% das verbas gerais. Entretanto, as unidades de ensino garantiram que sem as despesas discricionárias, como água, energia e segurança, os estudantes e as bolsas de auxílio serão prejudicadas. 

Na UFRR, o bloqueio equivalente a R$ 22.111.731, e resultou na paralisação de custeio em diversos centros acadêmicos e o corte de assistência à alimentação no Restaurante Universitário para alunos de mestrado e doutorado, que tiveram as bolsas suspensas para novas vagas de pós-graduação.

Os professores apontaram ainda que mesmo que a assistência estudantil não esteja dentro do orçamento bloqueado, os serviços terceirizados e áreas de manutenção já estão sofrendo prejuízos com a redução, assim como outras áreas dentro da instituição irão ter impactos futuros para os estudantes. 

A gestão do IFRR garantiu que diante do contingenciamento, o funcionamento pleno da instituição deve ser mantido apenas até setembro deste ano.