Cerca de 50 servidores do Hospital Irmã Aquilina, no Município de Caracaraí, Centro-Sul de Roraima, realizaram uma manifestação na manhã de ontem contra a retirada de ambulâncias e equipamentos da unidade, que era administrada pela prefeitura e, após a quebra de um acordo de cooperação, está sendo gerida somente pelo Governo do Estado.
Segundo os funcionários, além dos veículos e materiais, a prefeitura está realocando servidores da unidade para postos de saúde do município, fazendo com que vários setores ficassem sem auxílio dos profissionais. “Já estamos em estado de calamidade. O hospital não passa por reforma há anos, usamos materiais antigos e os únicos que temos para atender à população ainda querem nos tirar. Além disso, estamos sem motoristas para as ambulâncias, técnicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem”, relatou um servidor do hospital que preferiu não se identificar.
O imbróglio entre governo e prefeitura, no entanto, vai além da reclamação dos servidores. Segundo a secretária de Saúde de Caracaraí, Aline Novo, a prefeitura decidiu romper o acordo para administrar o hospital porque não estava mais recebendo os repasses mensais do governo desde agosto do ano passado. Ao todo, o montante da dívida decorrente dos sete meses de atraso gira em torno de R$ 150 mil a R$ 200 mil.
“O hospital sempre foi do Estado e, conforme o nível de produção, o governo repassava a verba para mantermos o local. Mas essa verba já não é repassada há sete meses e, mesmo assim, estávamos mantendo com recursos próprios”, disse.
Conforme a secretária, a prefeitura estava gastando, por mês, somente com combustível para rodagem das ambulâncias, cerca de R$ 28 mil. “O hospital tem 28 leitos e, por dia, estão sendo internados dois pacientes, sendo que uma média de seis é removida por dia. Só de gasolina estávamos gastando R$ 7 mil semanais. Além disso, quando um paciente vinha da Capital para cá, tínhamos que disponibilizar nosso carro com motorista”, explicou.
Aline Novo disse que a situação se agravou ainda mais após o governo nomear, “por questões políticas”, outra diretora para aquela unidade. “Eles [governo] quebraram o acordo de cooperação. Procurei, por várias vezes, a Secretaria Estadual de Saúde para tentar conversar com o secretário, mas em todas as vezes fomos ignorados. A diretora acha que devemos fazer acordo com ela, mas disse que não tinha que me reportar à diretoria, e sim ao secretário, que é quem tem autonomia de resolução”, ressaltou.
A secretária informou que sem acordo com o governo, a prefeitura protocolou um documento junto à Promotoria de Caracaraí para que os cerca de 50 funcionários do hospital fossem lotados nos postos de saúde, conforme necessidade de demanda. “Oficializei o pedido para a atual diretora para que ela devolvesse os servidores do município, que preenchiam 90% dos cargos na unidade, e requeri a retirada de ambulâncias, de patrimônio da prefeitura, de dentro do hospital”, frisou.
Entretanto, segundo Aline, o governo está “segurando” os veículos adquiridos com verbas municipais, e funcionários do local. “Temos uma ambulância que foi comprada pela prefeitura e, enquanto existia a cooperação, deixamos lá. Mas a diretora se recusa a devolvê-la. Não podemos manter uma unidade sem que o Estado colabore, mesmo sendo de saúde”, frisou.
Além das denúncias feitas pela secretária, ela disse ainda que o Governo do Estado pretende fechar o hospital e realocá-lo para o Município de Rorainópolis, no Sul do Estado. “Querem fechar o hospital e mandar as demandas todas para Rorainópolis. Nesse tempo todo, o Estado não chama a gente para conversar e quem sai prejudicado é a população”.
GOVERNO – Em nota, a Secretaria de Comunicação do Governo do Estado esclareceu que o município queria tirar, de forma imediata, a ambulância e os equipamentos da unidade de saúde. “No entanto, a direção do hospital dialogou com a gestão municipal de Saúde e convenceu que a retirada feria as diretrizes do SUS (Sistema Único de Saúde). De maneira que os equipamentos de trabalho e a ambulância permanecem no hospital”, frisou.
Conforme o governo, também foi explicado pela direção que a prioridade é fazer política de saúde em favor dos usuários e, por essa razão, foi solicitado um prazo para o município, com o objetivo de que o governo tenha tempo hábil para reorganizar os equipamentos e materiais para o local, não prejudicando os atendimentos e procedimentos realizados naquela unidade de saúde mista.
Sobre os recursos, a Secretaria Estadual de Saúde disse que repassou, no início de fevereiro, o total de R$ 51.003,13, composto por verbas federais e estaduais ao Município de Caracaraí, montante este referente ainda ao mês de dezembro, que não havia sido pago pela gestão passada.
A secretaria esclareceu ainda que o governo não tem nenhuma intenção de fechar a unidade de saúde. “Prova disso é que o secretário adjunto de Saúde, Paulo Linhares, vai nesta sexta-feira, dia 13, ao município verificar quais as necessidades mais urgentes da unidade para providenciar o que for necessário para que o funcionamento não seja interrompido em momento algum”, informou. (L.G.C)
Cotidiano
Servidores fazem manifestação contra retirada de ambulâncias e equipamentos
Governo e Prefeitura não se entendem e a unidade mista passou a ser administrada apenas pelo Estado