Cotidiano

CRM diz que pacientes podem ser contaminados em cirurgias no HGR

Uma fiscalização feita pelo Conselho Regional de Medicina no Hospital Geral de Roraima constatou que os pacientes cirúrgicos do hospital correm grave risco de infecção hospitalar por conta da falta de esterilização de materiais e equipamentos necessários às cirurgias.

“Esta fiscalização é fruto de denúncias da precariedade que encontra-se o Hospital Geral de Roraima. Os médicos continuam sem ter condições de trabalho e a população sem atendimento de qualidade. Mais uma vez, o CRM traz à tona as necessidades urgentes de melhorias na saúde pública de Roraima. Este relatório será encaminhado aos órgãos de controle para conhecimento e medidas necessárias”, disse Rosa Leal, presidente do Conselho em Roraima.

A equipe fiscalizadora constatou a inexistência de kits para testar a esterilização de todo material cirúrgico processado pelo hospital, como gazes, compressas, pinças cirúrgicas etc. “Para que o material possa ser considerado esterilizado, é recomendada a utilização de três testes diferentes. Na última fiscalização, realizada em 2017, só existia um teste e, atualmente, nenhum dos três testes está disponível” afirmaram os médicos do Conselho no relatório.

O CRM afirmou ainda que esta situação é extremamente grave, uma vez que coloca em alto risco de contaminação e infecção hospitalar todos os pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos e invasivos realizados no hospital. Além disso, todo o trabalho de lavagem dos materiais cirúrgicos está sendo feito de forma manual, uma vez que a lavadora Termodesinfectadora, comprada há mais de 6 meses, nunca foi instalada.

Também foi verificado na fiscalização que, das tres autoclaves (máquinas de esterilização) que existem no HGR, apenas duas estão em funcionamento. A terceira estaria quebrada há mais de 10 dias.

O relatório ressalta ainda que o HGR dá suporte para Maternidade, Coronel Mota, Policlínica Cosme e Silva e Hospital das Clínicas.

Cirurgias estão suspensas há 17 dias

Outra informação constante no relatório é que desde o dia 13 de maio as cirurgias eletivas estariam suspensas pela direção do HGR, por conta da falta de material cirúrgico confiavelmente esterilizado, sem prazo definido para retorno. No entanto, as cirurgias de urgência e emergência continuam ocorrendo, segundo o CRM, com material cirúrgico “possivelmente” contaminado.

Outra informação é que das seis salas do Centro Cirúrgico só quatro estavam aptas para utilização, uma vez que dois carrinhos de anestesia estavam quebrados. “No HGR existem 10 carrinhos de anestesia quebrados, aguardando manutenção há vários meses”. Também está em falta no Centro Cirúrgico a escova para degermação das mãos, que deve ser utilizada por todos os profissionais antes de qualquer procedimento Cirúrgico. 

Exames de Imagem também são alvo de denúncia

Outra denúncia fiscalizada pelo Conselho é em relação à falta de impressão dos exames radiológicos de imagem (RX, Tomografias, Ultrassonografias) o que estaria prejudicando o andamento da rotina de avaliação, prescrição e evolução dos pacientes. Os profissionais médicos precisam se dirigir até o setor de Radiologia toda vez que fazem avaliação radiológica, pois não existe prontuário eletrônico no HGR, nem monitores disponíveis para visualização desses exames em todos os setores e enfermarias do Hospital.

Outra informação do relatório é que mesmo nos locais onde existe monitor interligado ao sistema para visualização das imagens, esses exames só permanecem acessíveis pelo tempo máximo de 30 dias. Após esse tempo, as imagens são apagadas. “Fato esse gravíssimo, uma vez que é de suma importância e necessário a análise evolutiva dos exames. Ademais, o paciente, que é o proprietário por lei do seu exame diagnóstico, não tem agora acesso aos seus exames radiológicos impressos” concluiu o relatório.

Saúde afirma que não tem conhecimento do relatório

Em nota, a Sesau (Secretaria de Saúde) informou que ainda não recebeu o relatório do CRM (Conselho Regional de Medicina) e que se posicionará com relação ao conteúdo após a entrega oficial do documento.

“Estamos trabalhando para regularizar o estoque de materiais médico-hospitalares das unidades estaduais de saúde. Os itens necessários para a realização de procedimentos cirúrgicos estão sendo adquiridos por meio de dois processos licitatórios, sendo um em caráter emergencial e o outro anual, ambos em fase final de tramitação, devendo respeitar a legislação em vigor”. Com relação à suspensão das cirurgias, a nota afirma que foi necessária a realização de um contingenciamento de materiais médico-hospitalares e até a chegada desses materiais, as cirurgias eletivas, que são aquelas que podem esperar, estão temporariamente suspensas para priorização das cirurgias de urgência e emergência. 

“Tão logo esses materiais sejam entregues ao Estado, os procedimentos cirúrgicos eletivos serão retomados, conforme leis vigentes de priorização da Fila Única do SUS”, concluiu a nota.