Éder Rodrigues
Colaborador Folha
A extinção de comunidades inteiras no Baixo Rio Branco foi batizada de ‘comunicídio’, neologismo criado por parte da equipe de pesquisadores de três instituições de ensino superior que esteve navegando em maio na região. É o caso da comunidade de São Jorge, que deixou de existir e de outras vilas dos municípios de Caracaraí e de Rorainópolis (RR). O risco ao comunicídio seria por conta da falta de condições de sobrevivência dos moradores que acabam abandonando o local por conta da não assistência pública na maioria das comunidades. Alguns dos locais não têm escolas, segurança, postos de saúde, água potável, condições sanitárias adequadas, e em outras nem mesmo energia, há vários meses. Esses têm sido os principais fatores à “desocupação e abandono dessas comunidades”, aponta a pesquisadora e professora Madalena Cavalcante, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).
Os pesquisadores citaram como exemplo, a comunidade Xixuaú, a mais distante, localizada no Rio Jauaperi (RR), que está sem energia há dois meses e necessita de maior atenção do poder público e a comunidade Dona Cota, que com poucas famílias, sem escola ou saúde, corre risco de desaparecer.
O coordenador regional do projeto, professor e geógrafo, Antonio Tolrino Veras (UFRR), que também coordenou a primeira expedição ao Baixo Rio Branco em outubro do ano passado, explica que os pesquisadores estão trabalhando com o ordenamento territorial e a identificação das potencialidades e vulnerabilidades das comunidades. “As comunidades analisadas têm especificidades comerciais, sociais, ambientais, culturais e religiosas. Vamos traçar uma percepção destas comunidades em relatórios técnicos e sugerir ações que possam em um futuro próximo subsidiar políticas públicas”, Os produtos gerados a partir da percepção destas comunidades serão apresentados em relatórios técnicos, de modo a sugerir ações que possam em um futuro próximo subsidiar políticas públicas, afirmou.
Segundo Veras, as comunidades podem gerir melhor seus espaços para não serem penalizadas ou exploradas e, na pior das hipóteses, não desaparecerem, o que seria uma espécie de ‘comunicídio’, a morte das comunidades. “Muitas destas comunidades estão inseridas dentro de reservas naturais, que é uma questão bastante técnica e tem que ser pensada dentro deste processo de ordenamento territorial”, acrescentou.
Pesquisa no baixo Rio Branco envolve quatro universidades
Os pesquisadores e profissionais de comunicação que estiveram na expedição organizada pela Universidade Federal de Roraima (UFRR), composta por professores da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Universidade Federal do Ceará (UFC) e apoio da Universidade de São Paulo (USP), desenvolveram atividades ligadas ao projeto aprovado junto ao Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (PROCAD), vinculado à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), com o apoio da Reitoria da UFRR.
De acordo com o coordenador geral do projeto, professor Antonio Veras, além da aplicação de métodos científicos, observações, anotações e entrevistas, a pesquisa utilizou tecnologias e ferramentas para produção de cartografias na identificação de cosmografias, assim como registro fotográfico e audiovisual. Uma vivência fluvial que promete render bons resultados, considerando o desconhecimento que o próprio estado de Roraima e o Brasil têm das realidades destes povos ribeirinhos do ‘sul do extremo norte brasileiro’, mas que a partir deste projeto ganham visibilidade midiática e acadêmica.
Veras explica que tratar do ordenamento territorial é desvelar ouso, apropriação e significação destes territórios. “Este ordenamento tem que considerar, na essência, as relações sociais destas comunidades no espaço que elas ocupam. Ao longo da expedição verificou-se que muitas comunidades estão em conflitos em relação ao uso do território”, alertou o coordenador, que é doutor em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP).
Ele diz que, muitas vezes, a apropriação do território ocorre de fora para dentro. “Na verdade, esse uso e apropriação têm que ocorrer de dentro para fora. A comunidade é quem tem que ter uma consciência, uma organização do seu território. Precisa melhor aproveitar seu espaço do ponto de vista de sua gestão”, pontuou.