A cada dia que passa mais casos de violência são noticiados em Roraima, seja na capital, Boa Vista, ou nos municípios do interior do Estado. Assaltos, roubos, pequenos furtos e até latrocínio – roubo seguido de morte – têm sido divulgados diariamente. Isso fez o roraimense mudar seus hábitos diurnos e principalmente noturnos.
Não precisa ir muito longe e lembrar-se do tempo em que era costume dos roraimenses dormir de janela aberta ou numa rede na varanda da casa sem muro.
“Infelizmente, já há algum tempo que não podemos dormir com as janelas abertas ou ficar ao lado de fora conversando com os vizinhos”, alertou a especialista em segurança pública e socióloga, Carla Domingues. “O estado está perdendo na queda de braço com a criminalidade e temos que nos adaptar a essa nova e dura realidade e mudar nossos hábitos”, afirmou.
Para Carla, a insegurança nos remete justamente ao contrário do que a população fazia antes. “Se antes nos reuníamos com os vizinhos, hoje essa insegurança nos torna reféns em nossas próprias casas e isso se deve a chegada das facções criminosas em nosso Estado e ao aumento do fluxo migratório, que trouxe muita gente para Roraima, mas entre elas muitos marginais também”, afirmou. “Isso nos deixou numa situação de total vulnerabilidade em que hoje nossas casas estão se transformando em verdadeiros presídios onde se colocam concertinas nos muros, mais a cerca elétrica e câmeras. Um verdadeiro presídio”.
Ela citou como exemplo a falta de investimentos na educação, segurança pública e saúde nos últimos anos como os principais fatores para a situação que o Estado passa hoje.
“A falta de investimentos em vários setores, entre eles a educação e a saúde, e de uma política pública direcionada para a segurança deixou o estado a mercê daqueles que se aproveitam do caos social pelo qual Roraima está passando para assaltar, roubar e matar”, disse.
Para ela, o Estado precisa reconhecer que há muitos problemas e que estes precisam de uma resposta imediata, a médio e até a longo prazo. “A negação aos problemas a serem enfrentados fará com que a criminalidade aumente cada vez mais”, afirmou.
OUTRO LADO– Sobre a violência em Boa Vista a Secretaria Municipal de Segurança Urbana e Trânsito informou que a Guarda Civil Municipal faz um trabalho de segurança dentro das suas competências, visando a preservação do patrimônio público. Quando encontra flagrante de ato infracional encaminha à delegacia competente, já que segurança pública compete ao Governo do Estado. Até o fechamento desta edição, por volta das 18h, o Governo não havia dado resposta sobre as ações que estaria fazendo para combater a violência. (R.R)
Depois de assalto, aposentada muda comportamento
A aposentada Sônia Reis Lima, 63 anos, mora no Centro da Capital e teve sua casa invadida por ladrões no começo deste ano. Eles levaram cadeiras de balanço e outros objetos. Ela contou que é roraimense e mora no mesmo endereço há mais de 20 anos e lembra com nostalgia o tempo em que reunia amigos na calçada para conversar até tarde da noite e todos da rua dormiam sem a necessidade de colocar cadeados em portas e grades em janelas.
“Tivemos que mudar nosso comportamento. Muitos moradores da minha rua tiveram suas casas roubadas e colocaram cercas elétricas nos muros. Fui roubada este ano, era uma das poucas casas da rua que ainda não havia sido roubada, já estou fazendo o orçamento para colocar cerca elétrica e ficar mais tranquila, embora me sinta presa dentro da própria casa”, disse.
Ela conta que no início da imigração ajudou muitas pessoas com comida e até dando trabalho, que fosse de diarista ou para capinar o quintal. Mas que com o aumento da violência, deixou de contratar imigrantes e só ajuda com comida quando está acompanhada de parentes ou vizinhos em casa.
“Não dá mais para confiar em ninguém, meus filhos não moram mais comigo e me alertaram para parar de ajudar as pessoas que não conhecemos e não deixar entrar em casa. Quero ajudar, tenho pena deles, mas é muito perigoso, temos que ter muito cuidado”, disse. “Lamento, mas está muito perigoso confiar nas pessoas”, afirmou. (R.R)
Violência também chega ao interior
A especialista em segurança Carla Domingues (Foto: Nilzete Franco/FolhaBV)
Com a criminalidade e a violência aumentando na capital, há quem pense em se mudar para o interior do Estado em busca de tranquilidade e mais qualidade de vida, “Mas não é bem isso que acontece nos municípios do interior de Roraima”, relatou a especialista em segurança pública, Carla Domingues.
“Não há para onde fugir da criminalidade. As cidades e vilas do interior do Estado também têm sofrido. O município de Caroébe, por exemplo, tem apresentado índices autos de ocorrências envolvendo o tráfico de drogas e todas as mazelas que o tráfico e a droga trazem junto”, afirmou.
Para Carla, os municípios do interior do Estado estão enfrentando os mesmos problemas de grandes centros urbanos e com um agravante de ter um policiamento menos ostensivo.
“Voltar o tempo e viver aquela época em que o máximo que acontecia era a polícia apartar uma briga de bêbados era tudo o que queríamos, mas a realidade é bem diferente e, sem uma ação efetiva do Estado, a sensação de segurança ficará apenas no pensamento e a bandidagem já percebeu isso”, disse.
Carla disse que o Estado precisa de planejamento em suas ações, mas para isso há a necessidade de investimento em pessoal, equipamentos e que as polícias de fato trabalhem integradas.
Dicas de segurança podem salvar vidas
Carla Domingues citou algumas dicas que podem ser seguidas pela população com a finalidade de evitar algumas situações perigosas: Não sacar grandes volumes de dinheiro no caixa eletrônico; Evitar contar dinheiro na rua; As jovens evitar sair desacompanhadas; Não reagir em caso de assalto; Não contratar para trabalhar em sua casa pessoas sem referências anteriores; Procure estar atento na rua. Caso perceba alguma movimentação estranha vá para um local com maior fluxo de pessoas; Evite caminhar por ruas escuras; Faça trajetos diferentes para chegar a sua casa; Dê ao menos duas voltas na rua de sua casa, antes de entrar. Assim você perceberá caso haja movimento de pessoas estranhas; Não reagir a provocações e, a velha dica da vovó, não abrir a porta para estranhos. (R.R)