Cidade completa 129 anos nesta terça-feira (9). Teresa Surita (MDB) fala dos desafios de administrar uma capital com baixo orçamento, os impactos da crise migratória na saúde e na educação e os investimentos que a administração municipal faz na primeira infância para ter adultos mais equilibrados e uma sociedade mais justa.
FOLHA: Quais os desafios de administrar uma capital que concentra 70% da população de Roraima com o orçamento menor que o executivo estadual?
PREFEITA – São muitos desafios. Para se ter uma ideia, o orçamento de Boa Vista é quase o mesmo orçamento de uma secretaria do Estado (Saúde ou Educação). No entanto, mesmo com um orçamento pequeno, nós conseguimos manter uma cidade organizada diante de um cenário crítico de migração, o que é um dos maiores desafios em qualquer lugar. Mesmo assim, nós, desde 2013, entregamos obras relevantes para a cidade, oferecemos uma educação diferenciada, com ensino e merenda de qualidade, escolas reformadas, quase todas com acesso à internet, e temos resultados a apresentar, em indicadores de educação, a exemplo do IDEB, em que escolas municipais já atingiram a meta projetada 2021. Na saúde, conseguimos ampliar significativamente a oferta dos serviços, saímos de 7 UBS’s funcionando para 34, aumentamos o número de leitos no Hospital da Criança e temos garantido medicamentos nas unidades básicas de saúde, mesmo com a crise migratória. Outro ponto que acho fundamental colocar, é que mesmo diante de cenários econômicos complicados no país e no estado, nós temos cumprido o compromisso com os nossos servidores, pagamos rigorosamente, chegamos inclusive a antecipar os pagamentos.
FOLHA: Como a senhora citou que os serviços públicos são impactados com a crise migratória. Há reclamações de demora e lotação em atendimentos na saúde, nas escolas e segurança. Como lidar com isso e não prejudicar a qualidade do serviço público?
PREFEITA – Com muito esforço, disciplina e controle, graças a um planejamento sério. Nos últimos seis anos nós entregamos 33 novas escolas e estamos construindo mais creches. Isso foi essencial pra gente conseguir absorver a demanda crescente por conta da migração. Conseguimos reformar o Hospital da Criança, além de construir, ampliar e reformar unidades básicas de saúde. Estamos em um processo seletivo para contratar mais médicos e outros profissionais da saúde. Aliás, a situação só não está mais dramática em Boa Vista pelo trabalho que desenvolvemos no atendimento básico na saúde e na educação. Antes da crise se intensificar, nós fizemos concursos públicos e contratamos novos servidores. São 4.703 servidores empossados, desde 2013, nas áreas de saúde, educação, segurança e administrativo. Essas medidas e mais condições de trabalho têm evitado o colapso.
FOLHA: A Prefeitura é responsável pela primeira infância, mas essa acabou se tornando uma da suas principais bandeiras, e foi algo que começou a ser discutido no Brasil há pouco tempo. Por que a sua gestão considera essa fase tão importante?
PREFEITA – Essa escolha está sustentada na minha crença em fazer uma gestão compromissada com o futuro. Se queremos ter qualidade de vida, segurança, saúde, temos que agir hoje, considerando o impacto nas próximas gerações. Os cuidados com as crianças nos primeiros anos de vida são fundamentais. É nessa fase que elas desenvolvem as habilidades físicas, emocionais e cognitivas. Nesse período acontecem 90% das conexões cerebrais, ou seja, os estímulos que a criança recebe nessa fase vão definir o adulto em que se transformará. Isso não sou eu, Teresa, que diz. São estudos científicos comprovados. O prêmio Nobel de economia, James Heckman, diz que países que não investem na primeira infância apresentam índices de criminalidade mais elevados, pessoas com maior pré-disposição a problemas de relações, a drogas, etc. Em Boa Vista nós criamos o Família que Acolhe, uma política pública integrada voltada aos cuidados com as nossas crianças, onde grávidas e crianças têm acesso a serviços de saúde, vagas em creches, recebem visitadores em casa que orientam as famílias sobre a importância do vínculo afetivo, dos cuidados com os filhos. Só teremos sucesso quando nossa prioridade for proporcionar vidas melhores desde o nascimento, e aqui fazemos isso. Mais de 14 mil famílias já passaram pelo FQA. Essa política pública tornou Boa Vista referência, a capital da primeira infância, reconhecida por especialistas nacionais e internacionais, no assunto. Com políticas públicas que orientam e acolhem as mães e favorecem o desenvolvimento das crianças teremos adultos mais equilibrados, com mais oportunidades e uma sociedade mais justa.
FOLHA: A senhora está no seu quinto mandato como prefeita de Boa Vista e já manifestou várias vezes que esse seria seu último mandato nesse cargo. O que a senhora considera de mais importante que deixou como marca de sua administração?
PREFEITA – Eu tenho certeza que deixarei marcas fortes na infraestrutura, na saúde, na educação, e também na maneira que lido com a gestão pública, com um planejamento executado com responsabilidade. No entanto, quando olho para trás, vejo que deixarei também uma cidade moderna, que coloca as pessoas em primeiro lugar, com espaços públicos lindos, com mobilidade, fizemos 40 km de ciclovias, construímos pontes, abrimos avenidas, iluminamos com LED nossas ruas, temos feito uso de energia solar, construímos mais de 600 abrigos de ônibus. Boa Vista é, inclusive, a única capital do norte com abrigos climatizados. Mas no fundo do meu coração, o maior legado que gostaria de deixar é a prioridade à primeira infância. Se Boa Vista se apropriar dessa política pública e assumir um real compromisso com a Primeira Infância, meu legado, de fato, fará diferença no futuro de nossa cidade. Eu tenho um amor muito grande pela cidade que eu escolhi para viver e criar minhas filhas. Tenho consciência que ainda falta muito a fazer, mas tenho muito orgulho do que conseguimos entregar e avançar nesses dois últimos mandatos. São obras e resultados que todos conseguem ver e avaliar. É trabalho que se vê em toda a cidade. O sentimento de orgulho da nossa cidade é percebido por todos, agora temos que cuidar e preservar. Neste sentido ainda temos desafios importantes. Os políticos passam, mas o trabalho fica. E é isso que eu quero deixar. Quero que as pessoas, assim como eu, sintam orgulho de morar em Boa Vista.