O atual clima de seca e a constante falta de chuvas têm afetado o Estado de Roraima. Muitos municípios enfrentam a maior estiagem dos últimos 17 anos, e as queimadas descontroladas tendem a agravar a situação. Porém, o cenário já foi mais alarmante. Segundo o professor Carlos Ernesto Schaefer, especialista em ciência do solo, Roraima já enfrentou períodos secos mais intensos há milhares de anos, mesmo sem a intervenção humana.
Schaefer é PhD em Ciência do Solo pela University of Reading, Inglaterra, e realizou pós-doutorados em Mineralogia e Química de solos e Ecologia de solos da Amazônia e Antártica, nas Universidades de Londres, Western Austrália e Cambridge. O especialista está em Boa Vista para ministrar a aula magna do semestre 2015.1 da Universidade Federal de Roraima (UFRR). Ele relatou que em visitas anteriores, estudou o solo roraimense em busca do histórico climático.
“Nós estudamos todos os solos roraimenses, estamos rodando todo o território de norte a sul. Percebemos que esse solo mostra registros de mudanças climáticas. Eles têm indícios de que já passaram por uma situação muito mais seca do que a de hoje há cerca de 10 mil anos, apesar de atualmente ser desenvolvido em um clima mais úmido”, explicou.
Nos dois últimos meses, a Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh) iniciou a emissão de licenças para queimadas em alguns municípios do interior do Estado. Schaefer acredita que se feito de uma maneira controlada, o fogo não irá contribuir para a redução dos recursos hídricos. “O que não pode ocorrer é um incêndio florestal de enormes proporções, como o de 1998. Devido ao descontrole, as queimadas chegaram a secar alguns lagos e igarapés, pois atingiu a mata ciliar”, disse.
Schaefer informou que durante a aula magna abordou as mudanças climáticas em uma visão global e a relação delas com as locais. “As pessoas devem entender o problema sob um prisma maior para então compreender a situação local. Toda essa mudança climática afeta a sociedade, por isso se faz necessário esse entendimento”, afirmou.
O especialista relatou que o degelo muito acentuado dos pólos acarreta uma mudança global no nível dos mares e provoca mudanças climáticas na Amazônia. Ele frisou que Roraima é um território de zona climática em transição, onde há tanto o clima de cerrado quanto o clima de floresta. “Nestas zonas de transição, as mudanças são mais drásticas. O clima tende a ser extremamente seco ou úmido com muitas chuvas”, explicou.
Devido às chuvas estarem em um volume abaixo do esperado, tanto no inverno quanto no verão o solo fica com um acúmulo de falta d’água. “Nós temos uma mudança global atmosférica. O planeta está com uma concentração de gases de efeito estufa como o C02 e metano muito maior do que havia há 50 anos. Só isso já é suficiente para aumentar em um grau a média da temperatura. Esse grau, apesar de ser pequeno, faz muita diferença, porque quando se tem uma situação de transição climática, a perda de água é mais rápida. Às vezes, pequenas diferenças acarretam em grandes mudanças no ponto de vista ambiental”, disse.
Schaefer frisou que o homem pode reverter essa situação, mas não na mesma proporção de tempo em que ela foi causada. “Essa atual situação da terra começou com o advento da revolução industrial, levamos pouco mais de um século para chegar até aqui. Agora, para reverter essa situação, será necessário um tempo maior”, disse. (I.S)
Cotidiano
Roraima já enfrentou secas muito piores
Especialista afirma que solo roraimense apresenta indícios de que já passou por uma situação crítica há cerca de 10 mil anos