Duas mulheres de origem venezuelana, uma de 40 e outra de 20 anos, registraram na Polícia Civil de Roraima que foram vítimas de tráfico internacional de pessoas. Elas contaram que haviam sido recrutadas na Venezuela por um comerciante brasileiro e que, desde que chegaram ao Brasil, foram obrigadas a se prostituir para sobreviver. As venezuelanas conseguiram fugir e pedir ajuda, e contaram que outra jovem do mesmo país também era mantida em cárcere privado.
“Ele ofereceu emprego e garantiu que íamos ter onde viver e comer bem, e ainda ajudar nossas famílias, que ficaram na Venezuela. Mas, quando chegamos, nos disse que íamos nos prostituir e que o lucro era dele para pagar nossa viagem, alimentação, moradia e transporte. Diariamente, éramos obrigadas a prestar contas e ameaçadas”, revelou a mais jovem.
Esse é mais um dos casos registrados pela Polícia Civil, desta vez com um final onde as jovens tiveram condições de fugir e denunciar. Mas na maioria das vezes a história é bem diferente. As jovens traficadas desaparecem sem que familiares ou amigos as vejam novamente. Este é o caso de uma mãe venezuelana que suspeita de que a filha tenha sido vítima do tráfico de mulheres. Ela contou que a jovem que saiu para ir à escola e nunca mais foi encontrada. O desparecimento está sendo investigado pelo Núcleo de Desaparecidos e, no total, a Polícia Civil de Roraima registrou um aumento de mais de 30% nos casos nos seis primeiros meses deste ano. Foram registrados nove boletins de ocorrência de tráfico de pessoas, a maioria em 2019. Do total, mais de 50% das vítimas eram venezuelanas.
O delegado Geral Herbert Amorim explicou que os números são bem maiores, pois o banco de dados está incompleto, sem informação de nacionalidade. “Esses são apenas os números de casos comprovados. Temos vários registros de suspeitas de tráfico de mulheres, mas sem o filtro da nacionalidade. Estamos trabalhando com as delegacias e junto ao SINESP para melhorar esse cadastro”, explicou.
A Polícia Federal em Roraima (PF/RR), responsável por crimes transnacionais, deflagrou em anos anteriores várias operações para desarticular esquema de tráfico internacional de mulheres venezuelanas e guianenses para o Brasil com a finalidade de exploração sexual. A maioria dos endereços investigados e dos mandados de prisão cumpridos foram no município de Pacaraima, no limite da fronteira.
As investigações apontaram que venezuelanas estariam se prostituindo e recebendo agenciamento, facilitação e/ou sendo alojadas pelos proprietários dos estabelecimentos comerciais, inclusive propiciando lucro aos investigados com a atividade de prostituição.
A superintendência da Polícia Federal local não fala sobre casos em investigação, mas a reportagem tentou esta semana contato para saber sobre o resultado dessas investigações. Infelizmente, outras duas operações, uma contra extração ilegal de madeira e outra contra o crime organizado, estavam em andamento e até o fechamento da matéria não conseguimos obter novos dados sobre as mulheres desaparecidas ou os casos investigados.