Cotidiano

Horta escolar quer incentivar alimentação saudável em estudantes

Tatiane Ramos

Colaboradora Folha

Um projeto nacional de sucesso pode se tornar referência na rede estadual de ensino da capital e do interior de Roraima. É o Horta nas Escolas, que será implantado de forma efetiva na rede escolar. Mais de 10 escolas da capital já tem hortas implantadas com o objetivo proporcionar aos estudantes a sensibilização quanto à alimentação saudável, cuidados com o meio ambiente, valorização de técnicas agrícolas, empreendedorismo e senso de trabalho em equipe por meio do aprendizado colaborativo.

O projeto é dividido em duas linhas. A primeira quer que a ação se torne disciplina eletiva nas escolas de Ensino Médio em tempo integral com início para o segundo semestre deste ano. A disciplina eletiva será chamada de Horta Orgânica nas Escolas, que abrange as hortaliças comuns e as plantas alimentícias não convencionais (Pancs). 

Gabriel Carlon de Carvalho, gerente de área da Secretaria de Estado da Educação e Desporto (SEED), informa que será um processo pedagógico composto por um professor responsável, avaliação, capacitação em parceria com a Embrapa com certificação e será uma disciplina avaliativa como qualquer outra.

A segunda linha contaria com parcerias, ou seja, será extracurricular e envolverá escolas da capital e áreas indígenas, e conta com a colaboração da Seed e da Seapa, que dará a assistência técnica, além da participação de um parlamentar que unirá um de seus projetos a este, para fortalecer a iniciativa. 

Segundo Gabriel, a Seed entrará com assistência técnica da própria Instituição, dos engenheiros agrônomos, do professor responsável pela disciplina, além do envolvimento da comunidade externa, que seriam os pais dos alunos, no sentido de reaproveitamento dos restos orgânicos e aproveitamento de garrafas pets para diminuir a poluição.

“Queremos agregar valores mais saudáveis aos hábitos de alimentação e este é o objetivo final que as duas linhas têm em comum. É levar da escola para dentro de casa a informação de uma horta agroecológica”, disse.

Em Boa Vista, as escolas Major Alcides, Antônia Coelho de Lucena, Maria das Neves Rezende, Oswaldo Cruz, Caranã, Dom José Nepote, Olavo Brasil, Diva Lima, além dos Colégios Estaduais Militarizados Luiz Ribeiro de Lima, Luiz Rittler Brito de Lucena e Colégio Militar Estadual Derly Luiz Vieira Borges já estão trabalhando a horta. Algumas estão no processo inicial de preparo da terra e do espaço e outras já usufruindo da própria produção, como é o caso, por exemplo, da Escola Caranã.

Horta na Escola Caranã ajuda a alimentar alunos e comunidade


Os alunos da Escola Caranã já fazem colheita de verduras e hortaliças e produzem excedente para a comunidade (Foto:Divulgação)

Na Escola Caranã, a professora pedagoga Elza Barros idealizou projeto independente intitulado “Horta Escola” que está em vigor desde 2018. A ideia central partiu de um problema de saúde na família. Ela conta que o genro teve câncer de intestino e explica que parte da alimentação foi a causa do óbito. “Por conta dessa perda eu fiz várias pesquisas sobre plantas medicinais e lancei uma proposta para a turma do sexto ano de montarmos uma horta, e as hortaliças produzidas ali seriam utilizadas na preparação dos alimentos feitos na nossa copa como forma de ajudar a diminuir os produtos químicos que até então vinham de fora”, conta.

A professora diz ainda que houve questionamentos por parte das pessoas que desconheciam o processo de utilização dos produtos químicos utilizados na Agronomia. “Eles ficaram surpresos e começaram a questionar se estávamos consumindo veneno por meio da comida ingerida na copa. Eu então afirmei que de certa forma sim, explicando que uma plantação pequena não recebe muito agrotóxico e é mais saudável. Com isso veio a primeira ideia de fazermos a horta e hoje os produtos cultivados aqui são usados no preparo dos alimentos e vendidos também às pessoas da comunidade”, explicou.

De acordo com a gestora da escola Caranã, Luzinete Mota, a horta está muito bem estruturada, desenvolvida e recebe o acompanhamento do técnico agrícola, Flávio Bezerra. “Em se tratando da rotina de cuidados por parte dos alunos, nós utilizamos uma escala que atualmente é acompanhada pelo professor Arlindo. Ele desde o início vem ajudando na implementação desse projeto e hoje dá continuidade envolvendo os alunos, seja para limpar, colher e plantar”, comenta. 

Luzinete conclui dizendo que como resultado final está sendo oferecido para os alunos, servidores e comunidade geral, um produto de qualidade, livre dos agrotóxicos. “Quando a professora Elza aborda sobre a questão do câncer de intestino que o seu genro adquiriu, nós sabemos que é decorrência de uma má alimentação, e o bom seria que as pessoas pudessem ter em suas casas uma pequena horta”, finaliza.

Vinícios André, de 14 anos, estudante da Escola Caranã, disse que participa dos cuidados da horta e sente orgulho quando relembra como tudo começou. “Desde o início várias coisas mudaram. Eu e meus colegas aprendemos a importância da horta para a nossa Escola. É muito legal o resultado que conseguimos obter”.