Uma policial civil de 39 anos precisou tomar uma decisão difícil no fim da tarde do domingo, 14, dentro de um salão de beleza que fica no bairro Senador Hélio Campos. Para salvar a própria vida e a proteger todas as pessoas que estavam no estabelecimento, ela sacou uma arma e trocou tiros com o adolescente de 17 anos, que morreu atingido por uma bala. A agente de polícia também ficou ferida ao receber pelo menos três tiros de raspão.
A reportagem da Folha conversou com a ela deu detalhes do que aconteceu naquele começo de noite, momento em que estava na companhia de sua irmã, sobrinha, a dona do estabelecimento e outras clientes. “Eu não pensei duas vezes antes de me defender e defender as pessoas. Tudo foi muito rápido. Eu não sei quantos tiros ele deu e eu também não contei quantas vezes eu atirei”, explicou.
Conforme a agente, o indivíduo entrou sozinho e caminhando até o salão. No local disse que gostaria de cortar o cabelo e a cabeleireira pediu que ele sentasse. Pouco tempo depois de sentar, levantou-se e sentou de novo, demonstrando inquietação. Em seguida, o indivíduo foi ao banheiro e quando retornou, ficou em pé. A sobrinha da vítima, segurando um bebê no colo, disse que iria para fora do estabelecimento.
“Eu baixei a cabeça para calçar a sandália depois de fazer a unha dos pés e minha sobrinha estava com o menino no colo e o celular na mão. Minha irmã pediu para ela entrar porque com o celular fora do salão e com uma criança poderia ser perigoso. Assim que minha irmã falou com minha sobrinha, ele [o adolescente] começou a sorrir e nessa hora foi para a porta e anunciou o assalto, empurrou minha sobrinha, aglomerando todo mundo”, acrescentou.
A policial levantou a cabeça, viu o sujeito armado, informou que era polilicial na intenção de que o bandido se rendesse, largasse a arma, mas em vez disso, ele atirou e ela revidou na mesma proporção. Depois da troca de tiros, o menor saiu do salão correndo, segurando a arma. “Eu perdi muito sangue. Graças a Deus as equipes de segurança são muito boas. Os policiais que atenderam a ocorrência eram meus amigos e como eu trabalhei no Ciops [Centro Integrado de Operações de Segurança], as instruções aconteciam a todo instante”, salientou.
A vítima relatou que o braço estava ficando dormente e sentindo dores na perna, pediu que os colegas a levassem ao Hospital Geral de Roraima (HGR), considerando que o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ainda estava a caminho. “Nós encontramos a ambulância na Avenida Ataíde Teive. Os socorristas do Samu me atenderam na carroceria da viatura e me passaram para a ambulância e me levaram direto para o HGR”, contou.
A equipe médica fez uma avaliação para saber se nenhuma artéria ou osso tinham sido atingidos, além de fazer a tomografia para ver se algum projétil ficou alojado. “Eles fizeram curativo, na minha cabeça pegou um ou dois pontos, fiquei em observação. Pela manhã [de ontem, 15], o ortopedista viu que tinha fissura de um osso do joelho, imobilizou para não ficar movimentando. Nada grave”, enfatizou.
Para encerrar, a vítima declarou que não sabe o que teria acontecido se ela não estivesse lá, considerando que o infrator agiu com violência desde que anunciou o assalto, dando uma coronhada na manicure, empurrando a sobrinha da vítima com a criança no colo, engatilhando o revólver. Ela disse que Deus esteve à frente e está grata por uma nova oportunidade de viver e cuidar da família. Nas redes sociais, muita gente elogiou a coragem e atitude da policial em não abrir mão de cumprir o juramento de defender a sociedade, mesmo que fosse necessário sacrificar a própria vida. (J.B)
Menor era reincidente e tinha passagem pelo CSE por assalto
O menor infrator caiu e morreu uma rua após o salão de beleza onde ocorreu o assalto (Foto: Aldenio Soares)
Depois de trocar tiro com a agente de polícia, o adolescente saiu correndo de dentro do salão e caiu na rua, onde o revólver calibre 38 (buldog) também foi encontrada. A arma foi recolhida e entregue a equipe da PM. No mesmo instante em que a arma foi localizada, os policiais contaram que o menor ainda estava vivo, por isso acionaram o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) para salvar a vida do alvejado.
O médico socorrista relatou que o adolescente tinha apenas uma entrada de tiro do lado direito do tórax, na mesma linha da axila, e que quando o Samu chegou ao endereço, o ferido já não tinha sinais vitais. O óbito foi constatado às 18h23.
Policiais relataram que o menor foi solto do Centro Socioeducativo (CSE), onde cumpria medida como suspeito de assaltar uma loja de material de construção na companhia de um comparsa, e durante a fuga foram abordados pelo vigia da Escola Estadual Professor Antônio Carlos da Silva Natalino, no Joquei Clube, ocasião em que o vigilante foi alvejado, crime que ocorreu no dia 29 de janeiro deste ano.
Quatro meses após a execução do crime, o suspeito foi solto, deixando as dependências do CSE no fim de maio. A Polícia Militar informou que no dia 3 de julho ele tentou praticar um assalto, mas foi impedido e detido novamente. Na ocasião ele estava em posse de um revólver calibre 38. O menor foi levado mais uma vez ao CSE e há poucos dias foi posto em liberdade.
Após confirmada a morte do menor, a perícia realizou todos os procedimentos técnicos e o corpo foi removido pelo rabecão do Instituto de Medicina Legal para ser liberado ao fim da necropsia, que aconteceu na manhã de ontem. Tanto a arma da policial quanto a usada pelo menor estavam com cinco cápsulas deflagradas, portanto foram disparados 10 tiros durante o assalto. (J.B)