Cotidiano

Exército recomenda que venezuelanos saiam das ruas à noite

Venezuelanos devem procurar se abrigar e orientações têm sido bem recebidas pelos imigrantes, diz Exército

O Exército implantou em Boa Vista e em Pacaraima a ‘Operação Dignidade’, com a finalidade de orientar os venezuelanos a ocuparem os abrigos ou a procurarem residência para pernoitar, ou ainda, a seguirem viagem. A operação surgiu pelo fato dessas cidades não comportarem as pessoas nas ruas por não terem segurança e infraestruturas adequadas. A medida passou a vigorar desde o dia 31 de julho e está sendo implementada pela Operação Acolhida com rondas do Exército nas ruas.

“Desde a noite do dia 31 de julho de 2019 está em prática a Operação Dignidade, que orienta os venezuelanos desassistidos a ocuparem os abrigos ou a procurarem uma residência para pernoitar, ou ainda, a seguir viagem. Mas esclarecemos que não se trata de uma medida para impedir a circulação nas ruas à noite, e sim promover dignidade aos imigrantes”, diz a Operação Acolhida em nota enviada para a reportagem da Folha.

“A Operação Dignidade ocorre simultaneamente na cidade de Boa Vista, e os venezuelanos estão solícitos e compreendem a intenção do Comando da Operação. A Força-Tarefa vem cumprindo a sua missão amparada pelo disposto na Lei 13.684 de 21/06/18, antiga Medida Provisória da Casa Civil da Presidência da República, número 820, de 15/02/18; no Decreto Presidencial número 9.285, de 15/02/18; e no Decreto Presidencial número 9.286, de 15/02/18”

As ações da Força Tarefa no Estado de Roraima são conduzidas pelo Comitê Federal de Assistência Emergencial, composto por 11 ministérios, presidido pela Casa Civil da Presidência da República, com apoio dos governos federal, estadual, distrital e municipal.

“Atualmente, o município de Pacaraima possui cerca de 500 venezuelanos no alojamento temporário de BV8 e no abrigo Janokoida, dedicado aos imigrantes indígenas, há aproximadamente 400 abrigados. A Força Tarefa atua em Pacaraima desde abril de 2018, cumprindo o previsto nos decretos e leis acima mencionados e realiza diariamente reuniões de coordenação com seu Estado-Maior para melhor atender aos imigrantes”, concluiu o Exército.

Prefeituras não foram informadas oficialmente sobre ‘Operação Dignidade’

Prefeito Juliano Torquato: “já havíamos feito essa reivindicação ao Exército por conta do que acontece no município”

As autoridades dos dois municípios procuradas pela Folha disseram que ainda não foram procuradas pelo Exército para receber informações sobre essa nova operação. A reportagem falou com as prefeituras de Pacaraima e de Boa Vista.

O prefeito de Pacaraima, Juliano Torquato, confirmou que não foi comunicado oficialmente, mas disse já sabia da operação. “Ainda não nos foi informado sobre como essa operação Dignidade foi colocada em prática pela Operação Acolhida. Mas já havíamos feito essa reivindicação desde o ano passado ao pessoal do Exército por conta de toda a situação que acontece no município, como aumento na entrada de venezuelanos diariamente e consequentemente o aumento de fluxo de imigrantes pelas ruas”, disse.

Ele contou que o abrigo em Pacaraima está superlotado. “Na verdade criaram o abrigo para ser uma espécie de casa de passagem, mas infelizmente virou um abrigo mesmo, porque esses imigrantes não têm para onde ir e também não tem como tirar essas pessoas e colocar na rua. E mesmo estando superlotado, diariamente chega mais gente na cidade, aumentando assim o fluxo de pessoas em situação de rua. Hoje temos algo em torno de 400 pessoas que passam o dia e a noite nas ruas”, ressaltou Torquato, explicando que a ideia inicial do Exército era implantar um albergue para os imigrantes em situação de rua. 

“Seria um local para que eles pudessem dormir fazer sua higiene pessoal e ter um pouco de conforto, mas durante o dia procurasse um emprego, uma maneira de sobrevivência. Tinha esse planejamento, mas uma das preocupações era também desse local se transformar numa espécie de abrigo, um ponto fixo para esses venezuelanos”, comentou Torquato.

Por meio de nota, a Prefeitura de Boa Vista informou que ‘até o momento não havia sido notificada sobre o assunto’.